quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Depressão ou pânico?

Ontem, quando regressava do passeio pós-jantar (dos cães), deparei-me com uma situação de emergência. Situação já controlada, pois estava presente uma ambulância com os dígitos do INEM. Como bons tugas, eu e a Maria fomos tentar saber o que se passava. Era uma vizinha que aparentava ter uma simples quebra de tensão. Ora, os portugueses, principalmente os que são hipocondríacos, têm por hábito chamar imediatamente o INEM para uma simples quebra de tensão. Acham que o facto de alguém ficar branco é uma espécie de antecâmara da morte. É quase como um ritual de chegada, quando estamos para morrer, ficamos, inevitavelmente, brancos. E a dita, teve tempo, inclusive, de se deslocar para a casa de uma vizinha, para esta testemunhar o momento. Não fosse a malta desconfiar daquele "transe" ter acontecido ou não. Sim, porque depois quando vamos contar a peripécia, fazemos questão de colocar muita carga emocional no momento: "...tava a ver que morria, nem sentia as mãos de tão gélidas...", ou então "tremia como canas verdes, não me tinha nas pernas...". Ora, com todo aquele frenesim, a vizinha esqueceu-se de ir buscar o filho à escola. Depois de chegar o INEM, ligou ao marido, comunicou-lhe o quão mal estava a vizinha, pediu-lhe para ir buscar o filho da vizinha a uma casa de outra (desconhecida, quase) vizinha (ufa!), comunicando ainda, que não tinha ido buscar o filho. Eram 19h40, sendo que a escola tinha fechado às 19h (coitado do marido), mas a situação da vizinha era grave e exigia atenção. Depois de tudo tratado, aperaltou-se e ingressou na ambulância (estes transportes urgentes não esperam mais que o necessário) para acompanhar a vizinha ao SU do hospital da área, não fossem os médicos não dar conta do recado. O marido da doente, entretanto, chega e vê a ambulância e, como é lógico, segue-a. As vizinhas a bordo, uma quase da cor da cal, a outra a tentar ruboriza-la. Chegam ao Hospital, qual não é o espanto das comadres, dão-lhe uma pulseira da cor do ouro. AMARELO? A senhora tão mal e dão-lhe a cor que faz esperar pelo menos umas 3 horas...
Vai daí decide a doente ir a um hospital privado, fazendo uso do seguro de saúde. Desta vez vão no carro do marido, não sem antes deixar em casa a preocupada da vizinha.
Conclusão feminina (da vizinha): "Foi um mero ataque de pânico! Eu já lhe disse que ela devia ir a um Psiquiatra!"
Deve ser experiência da própria.
Vai daí que um pouco de solidariedade feminina não fica mal à vizinha. Assim, nada como transformar uma quebra de tensão em "ataque de pânico", como se a pobre se sentisse enclausurada na vida que leva, mais que não seja para que a vizinha não se sinta só. Sim, porque por percebê-la (ou não) tão bem, decidiu ir na ambulância para dar o veredicto:
Ataque de pânico - Antecâmara da depressão!
Como diria um amigo meu: "As depressões que elas têm. Não necessariamente por nenhuma razão especial, é mesmo porque têm."
Felizmente, nem todas! Digo eu...

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