quinta-feira, abril 29, 2010

Tânger

Terra de mercadores, primeira conquista portuguesa em África.

Tem todo o ar de cidade virada para o contrabando e para as trocas comerciais com a Europa. Os polícias estão sempre prontos a multar os ocidentais, em busca de um suborno que lhes componha o ordenado que o Rei lhes paga. Eu, como não gosto de subornar, pago e peço talão. Eles não gostam, mas acho que, se todos formos na conversa dos “criminosos”, acabamos por lhes dar razão para agirem como agem.

Tenho por hábito fugir aos “aglomerados” de machos, homens de negócios em busca de proveitos em terras estrangeiras. E um grupo que convivia no bar do hotel veio confirmar os meus temores.

Seis cromos na ordem dos 50, telefonam cheios de ganas, às 6 da tarde, para uma “promotora” de bons momentos. Pedem-lhe que se desloque ao hotel, exigem rapidez, e que se faça acompanhar de 5 amigas.

Ás 18h45 chega o harém solicitado.

Raparigas com bom aspecto, com tez magrebina, vestes ocidentais e perfumes foleiros.

Cá como aí, mulheres de vida.

Não gosto de lhes chamar o que são, prefiro manter-me longe da ideia de comprar os serviços que prestam.

E gosto de me manter longe de homens que negoceiam assim.

terça-feira, abril 27, 2010

Casablanca

Cidade fantástica. Encantadora.

Tem a maior Mesquita do mundo, e, para acompanhar o feito, os condutores mais “apanhados” com quem eu dividi os espaço das ruas por onde tenho conduzido.

Não tenho grande paciência para o trânsito das grandes cidades, e, normalmente, “passo-me” com os autênticos pastores que grassam pelas nossas estradas e ruas citadinas. O português, que normalmente é stressado, conduz como pensa: Muito devagar, de preferência de forma a estorvar o vizinho.

Aqui, onde as pessoas não transmitem stress em nenhuma situação, onde há sempre um sorriso para responder a uma pergunta, por parva que seja, onde o tempo parece prolongar-se de forma a apreciarmos o que de belo por cá se fez, o que de esplendoroso eles mantêm, conduzem como verdadeiros artistas.

Numa espécie de bailado coordenado, num contorcionismo que faz pasmar, aparecem por todos os lados, e cabem sempre onde ninguém acredita ser possível.

Então os “Petit Taxi”, que, como o nome indica são mesmo pequenos, aparecem como mosquitos. Devem bater muito, (embora nestas 24h ainda não tenha visto nenhum acidente), a julgar pelos imensos danos visíveis.

Mas, apesar de tudo, do trânsito constante e dos condutores loucos, é uma cidade a visitar.

Eu estou em trabalho, senão, visitava com certeza.

terça-feira, abril 20, 2010

O poder das pessoas

Uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Porém, uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um homem são e reduze-o a um farrapo. Sempre consegue. (Cesare Pavese, in Il mistiere di vivere.)

Coloquei esta frase no mural do meu facebook. É uma das muitas que li num site bastante agradável, de que uso e abuso, de onde tiro frases, pensamentos, reflexões e onde consulto fabulosos autores das mais variadas épocas.

Esta é uma das cerca de 400 do tema mulher. Podia ser do tema pessoas. Ou do tema amor.

Curiosamente não gerou tanta polémica como uma outra publicada há alguns dias, mas gerou discordância em privado.

Gostava de aqui deixar a minha opinião acerca da dita.

Acho que a vontade de salvar um farrapo humano é comum aos nativos dos dois sexos. Quanto a reduzir a farrapo, é bem possível que a causa não seja a mulher, mas sim a paixão. A paixão, a insegurança, a solidão, a ilusão, as expectativas, são tudo factores que podem fazer de uma mente sã uma espécie de farrapo.

Como me dizia uma amiga, as pessoas não sabem viver sozinhas. Quando se livram de uma relação onde não querem estar, ou de onde são levados a sair, tratam imediatamente de procurar alternativa.

Há quem diga que não. Mas não há quem o faça.

As relações levam sempre uma das partes ao ponto de desespero, seja porque não se sentem nem ali, seja porque não sentem o outro ali.

Conhecem relações perfeitas? Nem eu.

Mas daí a perceberem que o fim do amor é inevitável vai uma enorme distancia. As relações só são algo parecido com a perfeição quando deixam de importar. Quando se deixa andar só porque o outro não incomoda muito, ou que até dá jeito.

Essas são as relações normais. As que perduram. Que levam e trazem fogachos de respeito e cumplicidade que se confundem com amor. As que geram a confiança entre duas pessoas que se respeitam, amam os filhos e não têm tempo nem coragem de assumir a ruptura.

Depois há os pragmáticos, os chamados homens ou mulheres de uma relação só. Aqueles que se separam antes de se tornarem farrapos, que antecipam o futuro da relação e precipitam o fim. Com determinação saltam de relação em relação até atinarem com a enfermeira, ou com o geriatra que os acompanhará até ao fim dos dias.

Esse é o poder que todos têm, a bomba atómica da relação.

Assim tenham a coragem de carregar no botão.

Senão, passam a vida a viver em guerra-fria…

domingo, abril 18, 2010

O vulcão islandês

Estes islandeses teimam em encrencar os europeus de qualquer forma.

Há alguns meses decidiram não apoiar um acordo com alguns credores (leia-se bancos do centro da Europa), o que levou à irritação de uma série de burocratas que lhes tinha indicado um caminho, impar diziam, para repor no bolso dos especuladores o dinheiro que, repentinamente, desvalorizou a moeda lá do burgo.

Faliram.

Como represália, e numa tentativa de retribuírem os prejuízos, em perfeito conluio com a natureza da ilha, de origem vulcânica num clima gélido, “impelem” uma nuvem de matéria por essa Europa fora.

Com os aviões em terra, a Europa a despender dinheiro, seja a pagar estadias e refeições, seja a alugar transportes alternativos, a Islândia, ironicamente, tem o espaço aéreo aberto. O aeroporto da capital está em pleno funcionamento, só que a população já não dispõe dos meios de que dispunha para viagens lúdicas. 

Sinais dos tempos…

domingo, abril 04, 2010

Notícias à pressão…

Quando vejo um dos jornais televisivos diários, o que, felizmente, é raro, interrogo-me porque têm os ditos que “encontrar” notícias suficientes para preencher o tempo de antena.

É irritante a quantidade de banalidades que brotam das bocas dos apresentadores.

A gripe A era, até há pouco, o “tapa-buracos”, o assunto recorrente até às campanhas eleitorais e às escutas de que já ninguém fala. Agora passámos ao PEC, esse bicho que nos há-de levar por esta crise fora, imposto por uma Europa forte que se una contra os fracos, numa espécie de matilha que, não expulsando quem não quer, o morde continuamente nas patas, para que este ao menos não pense que come e dorme seguro sem dar algo em troca.

Hoje, na ausência de notícias políticas, era o Tivoli, a urgência (?) de Valença, e a Páscoa de Castelo de Vide com a mistura de tradições judaicas e cristãs.

Com jornais tão enfadonhos, seria melhor fazer como o milionário que impõe folclore transmontano ao canal televisivo.

Já imaginaram se a imprensa escrita tivesse que preencher X folhas por dia, houvesse ou não notícias? Provavelmente enchiam-nas com puzzles sudoku, ou banda-desenhada.

Porque as notícias não têm dia e hora marcadas, seria bom que adequassem os horários à quantidade das ditas que têm para dar.

quinta-feira, abril 01, 2010

A morte à espreita

Temos como certo o destino. Ninguém escapa ao fim. Nem nada.

Todos o sabemos, não é nada de novo. O mundo, cheio de vida, é uma dança de cadeiras, ocupadas sequencialmente por nascimentos em lugares deixados vagos por quem parte.

A vida em tudo nos mostra que temos como certo o fim, embora vivamos como se aquele nunca viesse. Há-os que vivem com o epílogo no pensamento, não tirando partido, nem mesmo sentindo, o verdadeiro êxtase da existência.

Não que eu viva como um louco, em busca de diferentes experiências que me façam sentir vivo, nada disso. Acho apenas que, quando não fazemos algo, é uma parte de vida que deixamos de sentir.

Já todos nós perdemos alguém ou algo. Nada de novo.

Ontem, enquanto caminhava em direcção ao Metro, o Toni, amigo de longa data, vizinho mais velho que sempre respeitou os “putos” lá da rua, estava longe de imaginar que seria a sua ultima viagem terrena. Num ápice, num simples segundo, caiu e ali ficou. Apesar de rapidamente socorrido, de terem inclusive suspendido a circulação do Metro em toda a linha, a fim de facilitar a assistência, nada inverteu o destino do António Cunha.

Morreu com 49 anos.

É um amigo que parte, um pai que se perde, um filho que deixa os pais em dor e na angustia de verem partir quem criaram para cá deixar.

Conheci-o muito bem, privávamos conversas banais, ambições trocadas, relações falhadas, enfim, sobre tudo e sobre nada. Agradável no trato, sempre disposto à gargalhada ocasional ou ao conselho banal. Partiu.

Diziam-me hoje que havia um Padre que, nas Missas de Corpo Presente costumava dizer:

Até já!