terça-feira, novembro 30, 2010

Trabalho, Inverno e Feriados

Ontem alguém me perguntava que raio de feriado era o de amanhã.
Ainda há muita ignorância neste País, pensei. Mas, o mais assustador era que esse alguém é licenciado numa das "nouvelles" engenharias, com tiques de licenciado mas com cultura de analfabeto.
As conversas de café resumem-se a casas com segredos e vidas alheias, ninguém se dá ao trabalho de perguntar o ano de implantação da republica, nem da independência, nem sequer da restauração da dita.
A malta gosta é de nevões para ficar retido nas estradas e serem entrevistados pelos ávidos reportéres da desgraça, que enchem telejornais com tanta palha, que promovem a falta de instrução geral.
A informação económica, cultural e histórica fica para os canais de cabo, pouco acessiveis ao zé povinho. Deixam para os generalistas todo o lixo com que se possa encher a pouca dedicação intelectual do tuga.
As televisões, como o País, estão rendidas à fast-food mental. A obesidade intelectual é o caminho mais fácil. Como no trabalho, ou na educação, assim como na alimentação, o importante é encher de entulho.
Um povo informado e formado pode ser um empecilho para o lucro fácil. Pelo menos para o imediato. Contudo transforma-se num corpo obeso e pouco móvel, que dificilmente se adaptará a novos desafios e constantes mudanças.
O segredo está na história. E a nossa está repleta de sucessos nos tempos em que nem havia feriados, nem segurança social. A malta dedicava-se ao trabalho. Que é o que faz falta.

segunda-feira, novembro 22, 2010

Inimputáveis

Há-os por cá aos magotes. São muitos.

Ontem fui a uma Missa de 7º dia. Já não ia há algum tempo a uma celebração tão prepotente, tão cheia de mensagens de humildade e tão inócua de significado se dali tirar a homenagem a quem tinha morrido.

Sou uma espécie de católico informado. Os católicos, como os comunistas e outras religiões, quando tomam conhecimento mais aprofundado da realidade, chegam rapidamente à conclusão que acreditam numa verdade piedosa. Dizem-nos maravilhas de um mundo que não somos capazes de mostrar, mas que fielmente tentamos apregoar.

A Igreja, ou melhor, o edifício onde foi celebrada a dita eucaristia, não tem acessos para pessoas portadoras de deficiência. Física, entenda-se.

O Padre, mostrando-se como um igual, apenas pastor do rebanho (nesta fase senti-me com frio, estranhando a ausência de lã), senta-se numa cadeira imponente e elevada em relação aos seus 10! acólitos. No exterior grandes cartazes anunciam que as obras da igreja ainda não foram pagas; esqueci-me de perguntar se tinham sido ali colocados pelos credores se pelo dito padre. Padre que tinha ar de poupado. Apresenta uma farta cabeleira com calvície frontal a espelhar os seguramente mais de 60 anos. Com dificuldade de locomoção devido à obesidade aparente, orava com acentuação grave de duas em duas palavras na tentativa de mostrar a seriedade da mensagem.

Há pouco, vi na televisão as várias mensagens de esquerda, inimputável como a igreja, que apela à greve com o mesmo sentido sério e crente de quem se sente capaz de mudar porque sim.

Todos por cá se vangloriam da cimeira que organizaram. As festas correm sempre bem em Portugal. Faltaram foi os cartazes a anunciar que ainda nada estava pago, podia ser que assim nos ajudassem com alguma coisinha.

Portugal parece a casa de um qualquer bom vivant que, apesar de descapitalizado, continua a fazer festas e viagens lúdicas.

Continuam os nossos governantes a dizer que não precisamos da ajuda de ninguém, muito menos dos especuladores, outrora investidores informados do nosso radiante futuro.

A mim, que sou imputável, ainda me vão chamar infame pagão. E logo eu, outrora futuro pastor de um qualquer rebanho de reformados e incautos em busca de uma salvação que este mundo já não pode garantir.

E os inimputáveis continuam em alta, porque quando a crise aperta, tanto no tempo que parece restar como no dinheiro que aparenta faltar, qualquer vendedor de sonhos ganha áurea de salvador.

 

P.S.: Honra seja feita aos padres da Diocese de Braga que, a pedido do Bispo, acederam a doar um vencimento para ajudar os que mais precisam. Quero também afirmar que nem todos os padres são assim, nem todos os de esquerda são também assim. Mas que a floresta encobre as boas árvores…

quinta-feira, novembro 18, 2010

Sasha–1999/2010

 

17022009509

 

Morreu hoje.

Uma companheira de quase 12 anos que parte. Não é relevante se comparado com o facto de todos os dias alguém perder gente demasiado importante na sua vida.

Não deixa de ser é curioso o facto de sentirmos um nó na garganta, pelo menos eu sinto, cada vez que falamos de uma animal de estimação tão dedicado como o cão.

Acompanhou-me, sem reclamar, sem compreender muitas vezes as más disposições dos humanos, sem sequer ignorar fosse quem fosse que com ela se cruzasse num qualquer passeio matinal ou vespertino.

Morreu como viveu, calmamente deitada.

E é mais uma estrela que brilha no meu céu.

domingo, novembro 14, 2010

Porto Runner

 

Já me sinto aliviado da tensão que criei a mim próprio nos últimos 4 meses.

No dia 7 de Novembro de 2010 atingi um dos objectivos a que me propus.

Nada de especial. Tão só deixar-me embalar num rotineiro trote pelas ruas do Porto, cidade que me viu nascer e que sempre me surpreende pela beleza que espalha.

Na companhia de mais uns quantos apaixonados, que têm como passatempo, sempre que podem, experimentar as sensações que a endorfina nos provoca.

Quando embalei ruas da invicta fora, com a chuva que ainda caía naquela manhã de Domingo, senti a verdadeira liberdade. Senti que apesar do sofrimento que vinha, valia a pena estar ali.

Comecei em Julho a preparação. Durou todo o Verão, custou-me alguns petiscos, muitas unhas negras e horas de descanso. Mas não trocava nenhuma hora de treino por outra qualquer coisa.

Concentrado em ver no que me tinha tornado, curioso com as descobertas que faria, lancei-me ao desafio. É curioso como, depois de tanto treinarmos, sabermos que aquele pode ser um dos maus dias, um de pouca disposição para o sofrimento. Treinei afincadamente o sofrimento. E rapidamente me apercebi que o dito era a única companhia que tinha assegurada para aquela manhã.

Sem enumerar etapas, sem sequer as prever, achei que a banda que tocava junto à Alfandega do Porto estava já mais cansada com a hora e meia de atuação, do que eu e o Pedro com o alcatrão já calcorreado.

Impressionante a frescura que apresentavam os primeiros da prova, como se as endorfinas deles fossem mais puras que as minhas. Ou então nem dão por elas, entretidos com os tempos e os mínimos e os prémios. Sim que isto de correr é como sexo: Não deixa de o ser quando é pago, mas sabe melhor conquistado, desejado, suado e por prazer.

O Porto visto de Gaia é formidável. Enche-nos a alma dizer aos que cá vieram apenas sofrer que aquela é a nossa cidade, e que aquele quadro pintado em socalcos urbanizados é elixir suficiente para inebriar os músculos e levitar mais um pouco.

Já ia longo o caminho, decalcado por tantos Domingos a contar a sombra das pontes, a saltar entre canas de pesca e sacos de isco, e a cidade só para mim.

Vale a pena tanto andar para desfrutar da cidade só para nós. Não faço uso da música para me entreter nas horas que passo enfiado nas sapatilhas. A cidade é a melodia ideal. De noite a melodia é de luz, naquele Domingo a melodia era o Rio, a paisagem e o vento.

O vento, esse companheiro de sempre. Quando saio para treinar escolho o trajeto pela sua direção; nesse dia não me deu escolha. Depois de tanto esperar que eu passasse teve de soprar. E apanhou-me em cheio. Lá fui empurrando como consegui, sangrando da inexperiência latente na t-shirt, só pensava que estava ali para aquilo. Para sofrer. Ninguém me tinha dito que as endorfinas não são eternas. Somos nós que temos de enfrentar todo aquele emaranhado de sensações.

Não há como fugir. É um encontro com o nosso interior.

Buscamos forças onde já não as há. E choramos sem lágrimas deitar.

A emoção maior, a mais esperada, a meta.

Adornada por amigos que como eu sofreram e que deram o bálsamo para amenizar tudo aquilo que estava espalhado pelas ruas da minha cidade.

Felicitado, medalhado, fotografado e já com o descanso de ter terminado, senti-me finalmente um PORTO RUNNER! 

Porto Runner