terça-feira, fevereiro 21, 2012

Atletas? Atletas são os amadores!

Ouvi hoje na televisão, um comentador de um programa semanal sobre futebol, dizer que o Benfica tinha perdido com o Guimarães porque os atletas (?) estavam cansados. Isto porque 4 dias antes tinham jogado na Rússia para outra competição. Diz ele que as 6 horas de avião (em primeira classe, coitados) para cada sentido, em apenas 2 dias, o jogo e suas vicissitudes, fizeram com que os jogadores acusassem tal fadiga acumulada, no jogo com o Vitória.
Tenho que lhe escrever, para que saiba que, no último fim-de-semana, muitos malucos fizeram mais de 12 horas de automóvel ou autocarro, para correr 42 km por puro prazer. Todos foram gastar dinheiro do seu bolso, todos foram sofrer umas horas, todos foram representar Portugal sem nada ganhar em troca, senão a alegria de terminar uma maratona. Uns com vitórias pessoais, outros menos realizados. Todos amadores, ninguém se queixou das viagens. Atletas somos nós, esses são meninos mimados.

28ª Maratona de Sevilha

 

Pézinhos de Coentrada e Migas alentejanas.

Esta foi a ementa (do almoço de Sábado) da grande descoberta de um bom fim-de-semana, o Restaurante Faisão em Campo Maior. Regado com Monte Mayor 2009.

Com o grande objectivo de completar mais uma Maratona, a 5ª em pouco mais de um ano (6ª com quilometragem superior a 42 km), partimos, eu e o Miguel Santos, rumo à capital da Andaluzia, Sevilha, pouco depois das 9h do último Sábado. Tinha decidido há pouco mais de duas semanas, ir experimentar a prova que alguns dizem ser uma prova muito propícia a recordes e bastante agradável, com público a incentivar e com uma excelente organização, que tratava bem os atletas. Fui ver, como dizia o poeta…

Tendo feito há menos de um mês a minha 1ª Ultra, sabia ser demasiado ambicioso tentar um bom tempo numa maratona. Em consciência, e se tivesse algum juízo, seguia o conselho dos especialistas (???) e não fazia mais de 2 maratonas por ano, muito menos 6 em pouco mais de 14 meses. Mas nós, maratonistas, gente doida que gosta de calçar as sapatilhas e correr apenas e só porque pode e gosta, não somos pessoas muito comuns, somos uma espécie de turma de repetentes crónicos, sem vergonha de falhar e sem vergonha de continuar a insistir no anormal. Qualquer comum mortal prefere o sossego de um sofá do que uma aventura de 4 horas no meio de mais de 5.000 pessoas, onde o único objectivo é não ter uma síncope cardíaca ou uma ruptura de um qualquer músculo que nos impeça de fazer aquilo que mais gostamos, correr. E se somarmos a esta vontade pouco senil de correr porque podemos, o facto de para tal, fazermos mais de 1300 quilómetros em dois dias, chegamos à conclusão que saímos mesmo um pouco do conceito de pessoas normais. Ainda por cima, nada ganhámos. Mas achamos todos que somos uns valentes, com os balsamos, os géis e marmeladas para os abastecimentos, as meias de meia-perna para melhorar o rendimento e… Ficámos todos na humilde parte da classificação onde, para nos encontrarmos, precisamos de aumentar o zoom do PDF, quais formigas no carreiro, ou Wallys no meio da multidão. Mas sabem que mais? Se não fossemos nós não havia maratonas. Somos os mais importantes, e honra seja feita à organização da Maratona de Sevilha, o atleta é o foco principal de todos os que nela colaboram. Inexcedíveis no apoio.

Voltando ao normal desenrolar da viagem e prova, embora eu pense que o mais importante já escrevi (motivação e aspectos positivos), e como um texto destes tem de ter, obrigatoriamente cronologia, foi assim:

18h, chegada à fraquíssima Expo-Maratona. Equipamento oferta para todos os participantes, mas com tamanhos apenas e só para quenianos e etíopes. M?, perguntaram eles a olhar para mim e para o Miguel. A alternativa era o S…

20h15, chegada à Plaza Mayor em Sevilha, local combinado com o Luís Pires para nos encontramos para jantar com mais alguns colegas dos Porto Runners e outros maratonistas. Como eu já deveria saber, o Luís dá-se mal com a Geografia, afinal era na Plaza de Armas, do outro lado da cidade, mais precisamente a 17 kms. Lá demos com a dita, e conseguimos ainda, quais penetras, jantar umas massas muito manhosas, num Restaurante italiano que nem mereceria destaque não fosse pela companhia de alguns grandes maratonistas: Rui Pedras, Domitília Santos (168 maratonas!!), Tiago Dionísio e o Luís Pires, o nosso inspirador atleta, que ali no meio fazia com que a soma de maratonas destes ATLETAS subisse acima dos 21 mil quilómetros. Impressionante. Pagava muito mais que os 15€ que custou o jantar para os ouvir durante aquelas horas. São estas coisas que nos fazem querer fazer mais e mais, e que nos fazem sentir tão pequeninos quando achamos que somos maratonistas, mas que eles nos fazem sentir campeões quando dão valor ao pouco que conseguimos. Fantástica companhia.

23h45, já no hotel, rumo ao descanso, com vontade de ter ali à mão um batuque, que fizesse num toque mágico o tempo voar sem perder o descanso.

8h30 no Estádio Olímpico, lugar à porta para estacionar. O dia começara gelado, mas depois de uma noite bem dormida e de um tranquilo pequeno-almoço, sentia-me preparado para a prova. O Miguel, entre pós, pomadas e poções, estava pronto para um treino rápido para a maratona de Barcelona. Tanga, sentia eu, porque ninguém, principalmente ninguém competitivo como ele, vai a uma prova fazer um treino, muito menos numa maratona. Saiu-lhe mais uma grande conquista, um excelente record pessoal na sua segunda maratona, numa prova que fez com imensa cabeça, de trás para a frente, e ainda bem. A ele e ao Vítor Ferreira, companheiro dos Porto Runners, a quem eu, antes da partida disse que iria baixar das 3 horas, apesar de ele achar que duas semanas com pouco treino não deixariam. O descanso é um treino excelente, e para alguns tem de ser forçado pelo corpo.

9h30. Com o início, com tamanho cerimonial, acaba a cronologia. Como qualquer momento importante, este também muda o curso desta crónica, porque, por muitos defeitos que tenha visto nesta maratona, este momento é sempre especial. Eu, das maratonas que já fiz, só me recordo na perfeição de dois momentos: O início e fim de todas (dispensava a música do Michel Teló no fim…). É impressionante a passagem naquele túnel de saída do estádio, com milhares a gritar, quais gladiadores rumo à arena (expressão feliz do meu amigo Vasco Batista). Assim como foi emocionante o regresso, pelo mesmo túnel, 42 quilómetros depois. Com 4 horas e 1 minuto de prova, e apesar de muitas considerações poder fazer acerca do tempo, acho que é inigualável o terminar de mais uma prova de fogo, onde finalmente corri a ouvir o corpo, e ele me “pôs” num ritmo que deu para chegar ao fim no mesmo registo do início.
Parabéns a todos os meus companheiros da equipa Porto Runners, o meu muito obrigado pelas palavras de incentivo e pela força que transmitem. É óptimo poder correr com a força de um equipa.

A prova tem um trajecto plano, muitas rectas e é exclusivamente na distância de maratona. O público, não sendo muito, é bastante entusiasta, dá ânimo, bem como todos os voluntários. Os abastecimentos são muitos, embora pobres, apenas água, isotónico e laranjas. Acho que a marmelada e as bananas não esgotariam o plafond… A assistência médica, pelo que pude ver, é exemplar.
Mais um reparo: Não classificaram nenhum atleta acima das 5 horas, o que me pareceu demasiado curto. Ouvi histórias de atletas perdidos pela cidade à procura do caminho do Estádio Olímpico, porque se recusaram a serem desclassificados, tendo ficado abandonados às suas sortes…

Banho tomado, retorno a Portugal com a bela da medalha ao peito, desta vez sem parar para um belo repasto.

Fica a vontade de sempre de voltar à Andaluzia, a pátria da alegria.

Aconselho a prova. Mas percebo agora porque é que nunca tinha visto ninguém usar a camisola de participação.

Tempo Final: 4h01m15 (Record pessoal)
4349 atletas concluíram a prova (a organização só publica tempos até às 5h)

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Pieguices

Bem me parecia que a história de o Pedro Passos Coelho ter chamado piegas aos portugueses, não era mai que uma daquelas brilhantes interpretações da comunicação social. A mesma comunicação social que tanto gosta da polémica, como substituto da falta de inteligência para cativar público.
Para quem não sabe do que estou a falar, ou para os que acham que o Primeiro-Ministro chamou piegas, literalmente, aos portugueses, aqui fica o link para o vídeo do discurso, completo. Aos 22 minutos vem o sound byte.

http://sicnoticias.sapo.pt/pais/article1288615.ece