segunda-feira, junho 27, 2016

Os Filhos da Freita

Muitos como eu iniciaram-se no trail na Serra da Freita. Pelo sexto ano consecutivo regressei à prova mãe de todos os trails, e pela quinta vez à distância maior - 100 km, depois dos 70 das minhas 3 primeiras participações. Iniciei-me nos antigos 17 km da então chamada "Corrida da Freita", já que só atletas experimentados se aventuravam na distância maior, e eu à época "só" tinha 2 maratonas de estrada e meia dúzia de meias maratonas.

Não havia trail em Portugal antes da Ultra da Serra da Freita. Em 2006 fez-se história e trail em 50 km, distância revolucionária à época e que agora é quase banal. Fazem-se ultras em todo o lado, banalizou-se o conceito de ultra resumindo-o à distância percorrida, e deturpando o conceito de, mais do que superação, transformação. 

Houve durante anos provas nas serras portuguesas que percorriam caminhos e estradões - as corridas de montanha, e algumas provas em terreno de difícil progressão - os crosses. O trail chegou cá pela mão de José Moutinho e Sálvio Nora que faziam da Freita um laboratório de busca de percursos onde a dificuldade morfológica dos terrenos atrasava os atletas e onde a destreza e agilidade fariam mais diferença que apenas a condição atlética. Nas primeiras edições do UTSF poucos atletas se aventuraram nos 50 km com inéditos percursos em leitos de rio ou trilhos com mais pedregulhos que terra. O equipamento era pouco evoluído, os atletas usavam sapatilhas normais de corrida, mochilas banais, bebiam água das ribeiras e comiam o pouco que se arranjava para os abastecimentos. Isto sim era ser ultra. Hoje todos querem banquetes nos abastecimentos, tapetes nos trilhos e tratamento vip. O trail tornou-se num SPA misturado com psicanálise de grupo. Vamos todos para o monte equipados com centenas de euros, contámos os km até ao próximo repasto servido por voluntários - reparem, voluntários - e exigimos a perfeição das organizações. Deixou de ser uma loucura para heróis e transformou-se num desporto empresarial acessível a muitos. 

José Moutinho tornou-se assim o pai do trail em Portugal e a Ultra da Serra da Freita a mãe de todos os ultras. Nasceram aqui os ultras e o Trail nacional. É difícil encontrar um apaixonado pelo trail e ultra trail nacional que não tenha passado pela Freita. Todos tentam imitar as famosas moutinhadas e os trilhos que resgata ao que a morfologia única lhe oferece, sejam a "besta", o "portal do inferno", os "aztecas" ou a terrível subida de 400 mt nos mais de 800 degraus das "escadas do martírio", um belíssimo trajeto encastrado entre casas de pedra (moinhos?, não consegui perceber porque passei de noite) invadidas por água. José Moutinho continuou a obra que iniciou com o malogrado Sálvio e entregou à equipa da Confraria de que é Grão Mestre, e que tão bem é dirigida pela Flor Madureira, toda a logística de apoio aos atletas. Nesta prova quem já correu e não pode correr, apoia. E sente-se, são inexcedíveis. A base em Arouca oferece condições que o Parque de Campismo do Merujal já não garantia. Reservamos o Parque para base de fins de semana para treinar.

Correr na Freita nunca é igual. Podes ser experiente, rápido, forte, muito bem treinado ou determinado, nada chega e tudo é importante. Há sempre uma novidade, há sempre laboratório que nos faz insultar alguém, ora o José Moutinho, ora a nós próprios por nos termos inscrito. E há desafio que nos põe nervosos à partida com ansiedade e saudade no dia seguinte. Como é possível... Sofres e sentes saudade. Linda. Uma serra que nos serve água fresca e límpida por todos os lados e nos fustiga com calor. Quente e frio, um "fondue" para corredores. Não há ali meio termo, seja na temperatura ou no terreno. Amansa-nos com uma primeira subida de 9 km à moda "europeia", com caminhos largos e trilhos turísticos. Vem o planalto e a descida pelo "Carteiro" até Rio de Frades e os tradicionais km no Rio Paivô. A partir dali é sempre a "cozer" no forno de verão até ao inferno e o seu "portal". Mergulhos em água refrescante que rapidamente se evapora na canícula e a dureza que ainda nem chegou. Dobrar a tormenta da subida da ribeira de Drave até à Póvoa das Leiras é só o início do que se sabe que vem a seguir. Talvez por isso muitos dos experientes atletas desistem ali, aos 60 km, não arriscando a difícil ascensão da "besta", o "martírio" até à Lomba que está só a meio da ascensão ao alto da Serra e a longa descida até Arouca. A UTSF na versão "Elite" (100 km) é um desafio físico, emocional e essencialmente de gestão de esforço e alimentação, já que nesta prova todos os pormenores contam e são decisivos, seja para ganhar ou só para ser finisher. Ali como em todas as ultras só não se planeiam as fraquezas, sendo fundamental ter uma voz amiga ou um incentivo nesses momentos mais decisivos, porque todos os temos. Se quiserem experimentar "meia" versão comecem pelos 65 km. Já terão uma excelente amostra dos desafios que a serra esconde. Caso não queiram mais que sentir um pouco do ambiente da montanha têm o trail curto (28 km). 

A serra mãe dá-nos a mão e acolhe-nos, ensina-nos e castiga-nos, premeia-nos e corrige-nos. Ensina-nos a saber ler os sinais que nos mandam parar ou andar, correr ou descansar. E voltamos sempre porque é no seu regaço que nos sentimos verdadeiros ultras, totalizemos ou não o percurso da prova. Ser ultra é compreender todo um conceito de respeito pela natureza e da nossa relação com o ambiente e os nossos limites. Ser ultra na Freita é compreender todo o conceito que desenharam Sálvio Nora e José Moutinho. Numa clara mistura entre trail e orientação, a dificuldade de progressão deve ser proporcionada pela morfologia do terreno e a diferença está na maior destreza e condição física dos atletas. Queriam mostrar isto a quem os quisesse perceber e aceitasse o desafio.
Temos que lhes agradecer a semente que fez de todos nós "Filhos da Freita".


Portal do Inferno (Foto Miro Cerqueira/Prozis Trail)

Refrescar sempre. (Foto Bruno Graça, parceiro de prova inexcedível no apoio e companheirismo)

Belíssima Aldeia de Drave (Foto Bruno Graça)

Rio Paivô, um dos muitos com límpidas, irresistíveis e refrescantes águas. 

segunda-feira, abril 25, 2016

O insano bailinho da Madeira

"E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música". 

Sabes o que é ser ultra? É transformação, superação, resiliência, fazer o corpo ultrapassar fronteiras que nos fazem passar do estado de consciência e entrar num estado semelhante à loucura, e que só quem "lá" esteve compreenderá.
Muitas vezes no apogeu do esforço pensamos no que nos trouxe até ali, se o caminho fez sentido e se existe limite para a insanidade que colocamos na procura incessante de transposição de barreiras que pensávamos inacessíveis. De conquista em conquista, de meta em meta, de objectivo em objectivo que muitas vezes temos de readaptar a circunstâncias que não podemos ou conseguimos controlar. Crescemos diariamente num caminho sem destino, rumo à satisfação dos apaixonados. Mantemos rumos, teimosos. Teimamos tanto que muitas vezes passamos a barreira do racional. O racional não nos satisfaz. Já fomos e não gostamos.

O Madeira Island Ultra Trail é uma prova do Ultra Trail World Tour. Quer isto dizer que proporciona um ultra desafio aos que se atrevem a percorrer todos os seus 115 km de travessia da ilha, desde Porto Moniz a Machico, com passagens pelos pontos mais altos e mais baixos de todo o território da pérola do Atlântico. É dura. Demolidora. É única, e por isso seleccionada para fazer parte de um calendário onde têm lugar as provas mais exigentes. Tem escadarias intermináveis, paisagens de cortar a respiração, subidas que fustigam todos os músculos do corpo e que fazem até as pálpebras colapsar em espasmos. As forças esvaem-se à medida que a alma se enche do orgulho próprio dos que alcançam o inalcançável - é este o combustível dos que se atrevem. A recompensa? Emoções e poder correr ao lado dos melhores do Mundo. 

José, homem nos seus 50, atreveu-se e inscreveu-se depois de tanto ouvir falar da dureza da Madeira. Treinou muito. Fez provas e mais provas até estar ciente que já tinha traquejo para enfrentar a insanidade. José seria mais um entre os mais de 580 que partiram de Porto de Moniz se tivesse desistido ou cortado a meta. Mas este lutador, que há poucos anos pesava mais de 130 kg, tinha uma outra história para ser contada. Foi de Porto Moniz a Machico, concentrou-se em ultrapassar todos os controlos dentro do tempo limite, inteligentemente descansou quando devia descansar, alimentou-se bem e bebeu o suficiente para não desidratar. Entrou na segunda noite depois de passar o ponto mais alto da Madeira, deliciando-se no Areeiro com o ocaso do dia à medida que o sol ia mergulhando nas nuvens. Enfrentou o Poiso, a Portela, o Risco e o renovado Larano durante toda a noite sem os poder apreciar. José chegou a Machico. Na última descida, onde devia ter virado à direita por umas escadas que desembocavam na marginal a 100 mt da meta, desorientado pelo cansaço e pelas mais de 30 horas de desafio insano, enganou-se e seguiu em frente. Na Marina disseram-lhe que estava enganado, que devia subir. Subir? Depois de descer tanto após tanto ter subido, o confuso José recusou-se a subir. Subir seria ir de novo para o inferno que havia acabado de transpor. Não subiu. Eram 100 mt para alguém consciente. Numa ultra ultrapassa-se esse estado de consciência quando se começa a superar a dor. O cérebro deixa-nos destruir o corpo mas entra em choque com tamanha inconsciência, e este ultra-conquistador do MIUT foi para a casa que alugara a escassos 100 mt da meta. Deitou-se a dormir e só deu pela confusão que o cérebro lhe pregara já o dia ia alto e nada havia a fazer. 

O ultra trail é cheio destas histórias. Zach Miller, o vencedor com um tempo recorde de 13h52, trabalhava em cruzeiros e passava as noites a treinar no tapete do ginásio e escadarias do barco enquanto os seus colegas relaxavam no bar. A última vez que estivera na Madeira deram-lhe algumas horas para visitar a ilha; teve tempo de passear de bicicleta no Funchal e observar desde o Monte a baía onde o seu barco ancorara. Surpreendeu tudo e todos numa corrida nos EUA há pouco mais de 1 ano e em Agosto último venceu categoricamente o CCC - prova de 100 km integrante do programa do Ultra Trail do Mont Blanc. Também Caroline Chaverot, vencedora feminina (e 8ª da geral) consta da lista de vencedores do CCC. Ambos ambicionam lutar pela vitória no UTMB deste ano e demonstraram uma excepcional capacidade para o tentar.

Não há limites nem entraves para os sonhos. Há desculpas para não tentar. Temos que saber adormecer o cérebro para enfrentar as nossas virtuosas insanidades. 

MIUT transformou a Madeira e catapultou-a para o epicentro do Trail internacional. Todos saem desta prova com vontade de voltar e desfrutar das belezas da ilha. Tofol Castanyer, espanhol que conquistou brilhantemente o segundo lugar, confidenciava antes da cerimónia de pódio que a Madeira era dos poucos lugares onde correra e que desejava visitar com a família. Na véspera colapsara na meta e estivera a soro para recuperar da desidratação. É um esforço desumano que só se compreende pela emoção inenarrável de vencer desafios inimagináveis. 7.000 mt de desnível positivo são seguramente uma violência para o corpo mas revigoram e transformam para melhor qualquer ser humano. A Madeira marca. 

Tenho a certeza que todos voltarão. E tenho a certeza que o José voltará para percorrer de novo todos os 115 km e cruzar a linha de meta. Depois de tanto esforço, da formidável transformação que fez desde a obesidade até esta saudável insanidade, José continua o mesmo homem sorridente e realizado, e é agora também um finisher do MIUT. Só lhe falta o colete. 

terça-feira, março 15, 2016

Compromisso eleitoral: Regular, comunicar, apoiar.

No seguimento da apresentação de uma lista candidata ao acto eleitoral que elegerá os Corpos Sociais da Associação de Trail Running de Portugal, apresento-vos o nosso compromisso eleitoral, que servirá como guia de trabalho na Direcção dos destinos do Trail em Portugal.

  1. Regular
  • Implementar regulamentos técnicos.
  • Protocolar com as federações que mantêm provas em montanha a tutela de organização de provas de trail.
  • Fazer cumprir os regulamentos e afirmar a ATRP como entidade reguladora do Trail.
  • Promover formação técnica supervisionadora e certificadora.
  • Enquadrar ATRP nas suas competências no seio da FPA.
  • Propor alterações aos estatutos da ATRP.

      2. Comunicar
  • Comunicar com os diversos players do desporto, desde atletas aos municípios passando pelos organizadores, patrocinadores e equipas.
  • Manter uma activa presença nas redes sociais e web.
  • Intensificar divulgação de provas nos media.
  • Consultas regulares aos membros do Conselho Consultivo.
  • Implementação de gestão  de comunicação com os sócios, com tempos estreitos de resposta.
  • Publicar regularmente relatórios de actividade.
  • Conferência anual sobre trail.

      3. Apoiar
  • Apoiar organizações na divulgação das provas e angariar uma bolsa de patrocinadores.
  • Juízes árbitros em todos os eventos do Circuito e sorteados para outra provas que, tendo sido certificadas pela ATRP, poderão ser (sem aviso prévio) alvo de fiscalização.
  • Promover acções de formação na área de segurança.
  • Promover acções de formação de resgate em montanha.
  • Promover acções de formação de marcação e (re)abertura de trilhos.
  • Promover estágios de Trail para Sub 23.
  • Promover e apoiar internacionalização de provas.
  • Promover controlo anti-doping.
  • Promover e apoiar escolas de trail.
  • Apoiar criação de Centros de Trail que possam integrar sedes distritais da ATRP.

4. Compromisso
Planear, colocar à discussão, decidir e tomar total responsabilidade, explicando opções. Toda a nossa actuação pautar-se-á por total transparência na gestão de uma Associação que se pretende seja farol de um desporto que requer muita responsabilidade e um grau superior de responsibilização dos seus promotores.
Faremos, mal seja viável, um ponto de situação da ATRP, tentaremos melhorar o que houver a melhorar e manteremos o que está bem feito.
Prometemos trabalho intenso, em equipa, com todos os associados da ATRP, e esperamos que todos os que gostam de correr nas montanhas se juntem a nós.

Ana Luísa Xavier
Manuel Maria Correia
Filipa Vilar
Hélder Costa
José Capela
José Brito
Mário Ferreira
Rui Pinho

segunda-feira, março 07, 2016

Regular. Comunicar. Apoiar.

26 de Fevereiro. Num dos dias mais frios e tempestuosos dos últimos anos, enquanto em Condeixa umas centenas de atletas se preparavam para partir para a gelada edição da Ultra de Sicó, em S. Pedro de Moel decorria uma Assembleia Geral Ordinária para apresentação de contas da ATRP. Compareceram 3 elementos dos corpos sociais. Honra seja feita aos Presidentes da Direção e da Assembleia Geral; sempre deram a cara pela equipa e ali estavam, expostos ao escrutínio dos associados presentes (7) na companhia de um dos membros da Direção.
Nesta mesma AG os orgãos sociais da ATRP, em bloco, apresentaram a demissão dos cargos para os quais foram eleitos. Nas palavras do Ex.Mo Presidente da Assembleia Geral, davam lugar aos, e cito de cor, "críticos que se acham capazes de fazer melhor".
Não é por ser criticado que alguém se demite. Faz parte das funções de quem assume lugares de representação associativa, ouvir críticas, sentir o pulsar de quem se dispôs a representar, e agir em coerência com as suas ideias e princípios, que, em princípio (passe o pleonasmo), foram escrutinados na campanha e consequente acto eleitoral. Contudo, não terá sido este o entendimento das pessoas que integraram a anterior direção. Por motivos que só aos próprios cabe esclarecer, foi com este facto consumado que nos deparámos no final da dita AG. 
 
Nesse mesmo dia encetei contactos com várias pessoas com quem vinha a discutir o actual estado do trail em Portugal. Não tinha, nunca tive, intenção de gerir os destinos do trail enquanto dirigente associativo. Tenho tido desde há muito, neste espaço e noutros fóruns de discussão, o atrevimento de "pensar alto". Desde o primeiro dia em que me atrevi a ir a uma montanha correr passei para o blogue as minhas experiências e sensações. As minhas opiniões são públicas e expostas à análise de quem as quiser conhecer. 
Critiquei alguns actos incompreensíveis desta direcção. E acaba como tem actuado, sem ponderar devidamente aquilo que decide. Senão reparem: O acto eleitoral está marcado para Miranda do Corvo, e bem, para o dia a seguir ao UTAX. Faz sentido, já que no mesmo fim de semana decorrerá a gala anual da ATRP de entrega de prémios. Só que a gala foi marcada para as 20h de Sábado. Enquanto alguns atletas ainda estarão em prova, prova esta que faz parte do circuito, a ATRP faz uma gala e pede a participação e presença dos sócios. Não seria melhor fazerem a gala no dia seguinte, dia das eleições? Os sócios que demorarem mais de 20, 21 ou 22 horas a fazer o UTAX (112 km) não podem ir à gala receber o seu prémio. Infelizmente.
Antes de fazer públicas as minhas preocupações com o estado actual do trail em Portugal fiz chegar essas mesmas opiniões a quem de direito - aos orgãos de direção da ATRP. Foi-me solicitada colaboração que não enjeitei. Propus consensos, promovi conversas entre pessoas desavindas, coloquei-me à disposição para reunir pensamentos para um evento com dimensão nacional que servisse para discutir o futuro do trail. Em resposta angariei inexplicáveis inimizades. Nada me move pessoalmente contra quem, bem ou mal, geriu até agora os destinos do trail em Portugal. Acredito que quiseram sempre o melhor, como todos queremos, e que deram o melhor de si mesmos. Mas às vezes o melhor não chega. E quando o melhor de nós invalida que se reúnam consensos (não unaninismos) alargados, numa posição autista e individual, entramos num confronto com os que nos criticam e sentimo-nos menosprezados. Não foi minha intenção desprezar ou menosprezar o trabalho de quem sai. Deram graciosamente o melhor que podiam e sabiam. Terá faltado muita coisa, mas muito foi também feito. Depois de tudo o que aconteceu nestes meses não poderia deixar de apresentar uma solução. É um imperativo de consciência.
 
 
Reuni uma lista que apresentarei a seu tempo, e que irá a escrutínio dos associados da ATRP. Assumirei individualmente todas as responsabilidades dos actos que colegialmente tomaremos. Irei atribuir pelouros de actuação a todos os integrantes dos corpos sociais e proporcionar a liberdade necessária para actuarem. Não haverá lugares simbólicos. Será uma equipa de trabalho, que visa trazer para a ATRP uma dinâmica que envolva todos os actores do panorama do trail nacional. Tentaremos trazer um pouco da nossa experiência, de forma a contribuirmos para o crescimento de um desporto que todos gostamos com base na regulação, comunicação e apoio. Regular o trail, comunicar com os associados, instituições e público, e apoiar quem organiza e quem participa. 
Saudações desportivas.

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Assembleia Geral Ordinária desordenada

as·sem·blei·a 
substantivo feminino
1. Grupo de pessoas reunidas.
2. Reunião de pessoas convocadas (ex.: assembleia de condóminosassembleia de credores). = PLENÁRIO
3. Corporaçãoassociação.
4. Sociedadeclube.
5. Saraubaile.
6. Comício.
7. Parlamento.

"assembléia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/assembl%C3%A9ia [consultado em 25-02-2016].

Este fim de semana é de assembleias. 
Em Sicó estarão mais de 4.000 corredores. Na Assembleia Geral da ATRP, marcada para a mesma hora em que decorre um dos eventos de trail running mais participados do País, estarão seguramente poucas. A importância que dão (ou querem dar) à dita AG é tanta, que até foi marcada sem os 15 dias (pelo menos, segundo Artº 20º) que mencionam os estatutos, e à qual não comparecerão todos os 4 membros que restam na direcção. Não se compreende. Eu não compreendo e estarei lá, no Plenário que não terá muito de pleno, para o dizer de viva voz a quem sobrar para ouvir. Se a data não era oportuna para todos os membros da direcção, por que não marcar para outra data? Alguém compreende que uma direcção reduzida marque a Assembleia Geral ordinária para uma data em que um dos seus membros, aquele que tem maior visibilidade no trabalho executivo da ATRP, esteja ausente? Isto interessa a quem? Quem tem medo dos sócios? Não havia outra data antes de 31 de Março como obrigam os estatutos? Não teria mais interesse ser marcada para o mesmo fim de semana de entrega de prémios, onde seguramente estariam muitos mais associados?
Vou estar presente na AG e espero que esteja lá alguém com legitimidade para me responder a algumas perguntas. Não vou alimentar polémicas estéreis nem tão pouco levar para o lado pessoal as dúvidas que me assolam. Mas exijo respostas. Podia manter-me calado, mas a cidadania dá-me a liberdade de pensar e a minha consciência obriga-me a falar. É um dos direitos dos (ainda) associados da ATRP. Outro, ainda mais importante é o de poder reunir um número suficiente de associados para a convocação de uma AG extraordinária. Dos pouco menos de 2000 que sobram haverá 1/3 interessado em a convocar, e pelo menos 3/4 dos subscritores estarem presentes? 600 a assinar e 450 presentes? Não sei se haverá assim tanta gente interessada no futuro desta Associação. 

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Skyrunning

Com origem em Itália na década de 90, o Skyrunning nasceu enquanto circuito de provas em alta montanha, acima dos 2000 m. Mais tarde a ISF (Federação Internacional de Skyrunning), decidiu integrar no seu âmbito todas as provas realizadas em montanha, mesmo naquelas que não atingem tais altitudes.
A Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal foi aceite na ISF e é quem tem a responsabilidade de organizar e regular as corridas em montanha com as características de Skyrunning. 


E que características são essas?

Conforme consta no Regulamento de Competições, o espírito Skyrunning distingue-se pela dificuldade técnica do percurso, pelo desnível acentuado - muitas vezes acima de 30% e que tem como objectivo o cume das montanhas onde as provas se realizam. Os locais de especial beleza nas montanhas onde se realizam estas provas fazem parte do percurso, podendo fazer parte dos acessórios de prova as cordas ou haver inclusive troços de escalada.
"Ao contrário de outras disciplinas de corrida, as competições de Skyrunning representam o desafio supremo, onde as corridas não são apenas medidas pela distância, mas também pela verticalidade e pela dificuldade técnica, num ambiente natural de montanha, onde a terra encontra o céu" - é assim que a ISF descreve as suas provas. 

Mas é uma prova de escalada? 


Não. Ao contrário de outras provas em montanha, a ISF determina que apesar de poder atingir os 30%, não pode exceder o grau II da escala de dificuldade da UIAA (caminho abrupto, em que para subir já poderá ser preciso usar mãos e cordas). 

As provas são homologadas?

Sim, as provas que o requeiram e que reúnam as condições adequadas são homologadas enquanto provas de Skyrunning, e caso façam parte do Calendário nacional são objecto de arbitragem por técnicos especializados (Juiz Árbitro), que supervisionam o cumprimento rigoroso de todas as normas técnicas e de segurança da corrida, inclusive dos participantes.

Quais as distâncias?

Sky - Até 50 km - Média de 13% de inclinação e máximo de 15% de estradas transitáveis:

  • SkyRace - Mínimo de 20 km e que ultrapasse os 1200 metros de desnível positivo.
  • SkyMarathon - Mínimo de 30 km e 2000 metros de desnível positivo.
Ultra - Com mais de 50 km e mais de 5 horas para o vencedor:

  • Ultra SkyMarathon - Corrida que exceda em mais de 5% os parâmetros de uma SkyMarathon, com distância superior a 50 km, que apresente mais de 2500 metros de desnível positivo acumulado e com tempo do vencedor entre 5 e 12 horas.
  • Ultra XL SkyMarathon - Provas que excedem os parâmetros de uma Ultra em mais de 5%, têm no mínimo 5000 metros de desnível positivo acumulado, e em que o vencedor demora mais de 12 horas a concluir. 
Corrida Vertical - Corridas de uma única subida com inclinação média de 25%, e com um desnível mínimo de 650 metros e distância máxima de 10 km. 
Quilómetro vertical - Competição com 1000 metros de desnível positivo (5% de tolerância), num máximo de 5 km. 
SkySpeed - Corrida de 100 metros ou mais de desnível vertical e uma inclinação superior a 33%.

Leonardo Diogo do Clube Aventura da Madeira, 6º do Mundo (Skyrunner World Series 2015) 


Calendário

O calendário de competições está dividido entre Campeonatos Nacionais e Regionais, Taças de Portugal, Regionais e de Clubes. De referir que os escalões de prémios em todas as provas integrantes deste calendário são iguais para os géneros masculino e feminino.
O destaque do calendário vai obviamente para o Ultra SkyMarathon da Madeira em Santana, prova integrante das ISF Skyrunner National Series Spain, Portugal e Andorra que traz até nós alguns dos nomes sonantes do panorama internacional, já que fará parte também do World Series. Deste circuito Ibérico fazem parte ainda a mítica Zegama, prova de superior espectacularidade, a Ultra Pirineo, Andorra Ultra, Transvulcania e a Epic Buff, prova que será também Campeonato do Mundo.
A pérola do Atlântico, com condições únicas para a modalidade, é destino principal para as provas do calendário nacional, mas já há mais provas em território continental e também nos Açores. De Vilar de Perdizes a Sintra, passando por Cinfães, Serra da Estrela, Lousã e Proença a Nova, com incursões a Paredes (Porto), ao Alto Alentejo (Castelo de Vide e Marvão) e às Ilhas do Pico, Faial e Madeira, é uma autêntica viagem por paraísos só acessíveis depois de subidas infernais. O crescimento deste calendário é o reflexo do trabalho de base feito pela Federação e com o importante e não menos determinante trabalho dos clubes e empresas organizadoras de provas. 

Kilian Jornet - Zegama (Foto JCDfotografia)
O calendário e links para os sites das provas está disponível para consulta no site da FCMP.
Todo o regulamento das provas e da organização de campeonatos está disponível aqui, e é uma excelente fonte de aprendizagem para quem está a pensar organizar ou participar numa prova de montanha.






terça-feira, fevereiro 16, 2016

Proteína e BCAA. Tomar ou não?

Quando começamos a prática desportiva regular mais intensiva, caso mais comum nas pessoas que procuram evoluir na corrida e que buscam melhores e maiores performances, devemos tomar especial atenção sobre diversos factores. Um dos mais importantes, para além da vigilância médica, é o aconselhamento nutricional. O nosso organismo necessita de mais ou menos proteína, consoante seja maior ou menor a intensidade com que treinamos e sobrecarregamos os músculos. Enquanto um sedentário, ou alguém com uma actividade física leve pode facilmente equilibrar as necessidades do organismo com uma alimentação regrada, um atleta com actividade mais intensa necessita de um pouco mais.
Ora, o suplemento mais procurado e provavelmente dos mais vendidos é a proteína whey. Não é raro chegarmos ao balneário de um ginásio e vermos alguém a bater uma mistura de um pó com água. Muitos pensam logo em doping, mas o que provavelmente o atleta está a fazer, é aproveitar a melhor janela de oportunidade para fazer com que o treino que acabou há minutos conte e produza resultados. 
Procurei saber então, o que é então a famosa proteína e qual a melhor forma de a tomar. 
A proteína do soro do leite (Whey Protein) é a mais comum e mais vendida, e é indicada para praticantes de qualquer modalidade desportiva ou para as pessoas que procuram equilibrar peso com controlo de ingestão de calorias. É a proteína mais pura encontrada na suplementação, responsável pelo crescimento e pela recuperação muscular. É dividida em 3 formas de filtragem, daí haver uma disparidade de preços; quanto maior a filtragem, maior a pureza e mais caro o produto:
– Concentrada: Com hidratos de carbono, colesterol e gordura (presentes no leite) é a primeira proteína extraída do soro do leite. É mais simples (60 a 70% proteína, embora a whey da Prozis apresente mais de 80%), mas mesmo assim oferece excelentes resultados. 
– Isolada: Sem hidratos de carbono e sem gordura. Na maioria dos casos, também não contém lactose. Tem uma óptima absorção pelo organismo, já que evita o trabalho de digestão e separação de nutrientes (mais de 80% pureza, a                                                da Prozis tem 93%).

– Hidrolisada: O processo de hidrólise faz com que esta seja o "Ferrari" da proteína do leite. Com uma concentração superior a 90% é a escolhida pelos que querem os melhores resultados, já que a absorção é mais rápida e eficaz.
Além da proteína do soro do leite, ainda podemos encontrar outros tipos de proteína, como a albumina (proteína da clara do ovo), a da carne, ou da soja.
Para terem um termo de comparação com a alimentação, saibam que o frango tem cerca de 29% de proteína, a carne de vaca ou o peixe 24% e o ovo 11%. Percebem a importância da suplementação de proteína? Agora, a oferta do mercado é tanta, que devemos procurar sempre a melhor relação preço/qualidade e saber se o que compramos e vamos tomar é mesmo indicado para nós e quais as nossas necessidades.
Quando consumir?
Como já referi, a melhor "janela" para consumir proteína é após o treino, daí os batidos nos balneários dos ginásios. É nessa altura que o organismo está sedento de proteínas para manter e desenvolver músculo. Na ausência de consumo proteico nessa altura, o organismo vai recorrer à energia muscular para recuperar, afectando a recuperação e aumentando o cansaço. Os "fast recovery", com mistura de proteína e de hidratos de carbono permitem que a proteína seja absorvida inteiramente pelos músculos, recuperando melhor os músculos e repondo energia. Mas cada caso é um caso e nada melhor que um nutricionista para melhor aconselhar, já que há produtos em que a janela de ingestão é apenas após 30 minutos do final do treino.
Outro horário adequado para ingestão de proteína é ao acordar, já que o organismo esteve privado de nutrientes durante as horas de sono, tendo passado por processos de regeneração. A diferença nota-se, já que suplementando o organismo passa aquela sensação de "vazio" que muitas vezes sentimos, apesar de comermos sem nada nos saciar. O mais certo é estarmos com défice que não identificamos, e o nosso cérebro "indica-nos" através dos sentidos mais básicos ser facilmente debelado pela ingestão de hidratos de carbono. E aí, lá se vai a linha. Pão, bolos, bolachas e snacks não nos equilibram o organismo.

Outro suplemento cujo fim também desconhecia, apesar de ouvir muita gente falar dele: 
BCAA's


O que são os BCAA?
Os BCAA (Branch Chain Amino Acids, ou aminoácidos de cadeia ramificada) são a Leucina, a Valina e a Isoleucina. Três "manas" com nome feio, mas muito úteis já que estes aminoácidos não são produzidos pelo organismo e só podem ser obtidos através da alimentação ou da suplementação. Para os obtermos na alimentação em quantidade suficiente para o que precisamos - e aqui refiro-me a quem treina intensamente - já vimos que é muito mais difícil e deficitário para o que o nosso corpo gasta. 
Durante o exercício o corpo precisa de energia, e para a gerar precisa de alguns aminoácidos, que se não estiverem disponíveis, vai buscar aos músculos, fazendo-nos perder essa preciosa massa magra. Os BCAA fazem assim com que se recupere melhor do esforço facilitando a reconstrução (e construção) de células musculares e evitando lesões. Os exercícios prolongados com ausência de BCAA resultam na entrada de triptófano no cérebro. O triptófano, responsável pela produção de serotonina, faz com que fiquemos felizes mas também nos transmite sensação de cansaço. Nos exercícios de longa duração devemos evitar a fadiga precoce e suplementar o organismo com BCAA. Já me tinha cruzado com muitos atletas que o faziam, agora percebo por quê. Contudo, quando não em provas longas, a toma deve ser dividida entre o antes e após treino para facilitar a reconstrução muscular. 
E não nos precisamos preocupar com o aumento do peso ou efeitos secundários. Como são aminoácidos essenciais não estão relacionados com o aumento de peso mas sim com o aumento da força muscular (massa magra). São usados pelo organismo para reconstrução muscular e são igualmente importantes para o sistema imunitário. Devem ser usados por atletas que tenham treinos intensivos, mas sempre aconselhados por nutricionistas. Caso não tenham um nutricionista que vos possa aconselhar, consultem a Filipa Vicente ou a Ana Ribeiro, elas oferecem a possibilidade de acompanhamento online. A suplementação deve ser prescrita, e um bom profissional adequará melhor as necessidades de cada um.
Espero ter ajudado um pouquinho à desmistificação do uso de proteína e BCAA. Eu que também só usava presunto e bifanas, já vou sentindo a diferença de um bom equilíbrio entre alimentação e suplementação. Não podemos esquecer nenhum dos factores determinantes na evolução de um atleta: Treino, alimentação, descanso e bom conhecimento da saúde do nosso corpo. 
Boas corridas!

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Queres correr? Precisas mesmo de fitas?

Já ouviram falar do Trip Advisor? Uma aplicação que nos facilita as escolhas de hotéis, restaurantes, bares e outros locais de interesse, através de votações e opiniões de utilizadores da mesma aplicação? É uma óptima ferramenta de viagem, utilizada por milhares de pessoas em todo o mundo, e apreciada pelos proprietários dos locais avaliados, já que lhes permite terem um retorno quase em tempo real do trabalho que desenvolvem, permitindo-lhes melhorar o que há a melhorar e conservar boas práticas.



Um grupo de corredores suecos desenvolveu uma ferramenta parecida para Trail Running - OTrail Advisor. De momento apenas disponível para iPhone, a aplicação pretende reunir o maior número possível de percursos de trail, para que, ao viajar pelo mundo, possamos experimentar trilhos depois de saber a opinião de outros que já os tenham percorrido e deixar também a nossa. Se aplicada a provas, no futuro poderá o atleta escolher as provas mais bem avaliadas. Por enquanto apenas permite seguir trilhos deixados por outros ou percorrer e gravar novos.

De momento as melhores aplicações para partilha de percursos são a Wikiloc ou a Gpsies . Livres, de partilha gratuita têm já uma vasta base de percursos para caminhadas, bicicleta ou corrida, em montanha ou estrada, tendo ainda a vantagem de estarem disponíveis também para Android e de se poder fazer upload e download de percursos para os vulgares relógios e aparelhos GPS. Com cerca de 70000 percursos em território português, oferecem aos internautas a possibilidade de escolher onde correr ou pedalar.



Com o potencial de crescimento do trail é bem possível que a Trail Advisor seja uma ferramenta tão útil quanto outras, e ajude na escolha de percursos ocasionais.

Por enquanto gratuita, a aplicação pode ser descarregada na App Store, tendo os seus criadores apelado a corredores de todo o mundo que a descarreguem e usem para poderem melhorar o seu potencial.


segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Trilhos dos Abutres - Uma música de letra ao contrário



Rendido à Serra da Lousã há vários anos, voltei aos Trilhos dos Abutres pelo quinto ano consecutivo. Não vos consigo descrever esta prova. Há muito de mágico nos Abutres, e a magia só pode ser interpretada por cada um, pelo que os olhos vêem, pelo que o corpo sente, pelo que a alma suspira. 



É um ziguezaguear de trilhos pelas encostas de uma serra, aqui e ali despida por madeireiros, que esconde veias de vida derramadas em água por ribeiros mágicos. São subidas e descidas húmidas e sombrias polvilhadas pelo calor que os atletas exalam em cada bafo de esforço a tentar equilibrar um corpo frágil em chão armadilhado de uma lava fria. 
É correr acima e abaixo de um vulcão sem cratera que nos faz explodir todos os sentidos. Exclamamos com a beleza das montanhas acima das nuvens que arrefeciam Miranda do Corvo, abrimos os olhos de espanto em todas as imponentes quedas de água, seguramos os músculos que gritam em cada passo que nos leva ao alto delas, fieis guardiãs de um ecossistema que a água preserva e os corvos povoam. 
Que fantástico ambiente. Prova superiormente organizada, a um nível sem falhas. Atletas felizes, famílias alegres, Vila em festa. Esta prova é mesmo única. Não há um único momento desperdiçado em todo o evento. 
Uma edição épica rematada na manhã de Domingo nos Trilhos para os mais pequenos, com um traçado belíssimo que retrata fielmente o que a Serra esconde. Quem não foi sorteado tem lá todo o traçado sinalizado a partir do Centro de Trail, ou então que faça um treino com a Escola de trail dos Abutres na Quinta da Paiva e fica seguramente com vontade de mergulhar naquele poço de emoções.



Há uma música da Ana Matos Fernandes - Capicua - que retrata o glamour, o encanto, toda a imaginação fértil que preenche a cabeça de quem vai crescendo, sonhando e experimentando as consequências desses mesmos sonhos e as dores de quem cai e sempre se levanta. Adaptando a letra aos Trilhos dos Abutres, num claro abuso que a autora não autorizou, vou transcrever o que fui trauteando enquanto corria, caía, caminhava ou sorria. 


Quando for grande vou ser prof. de "brinc-dance"
E quando corro, rodo e aterro com o pacotanço
Aqui de pé só correm os tipos da frente
Mas nos Abutres a gente diverte-se imenso! (Cantar repetidamente)


A letra é fiel a muito do que fica, porque não é a lama que nos fica na memória.
É toda uma revolução de cores, um misto de sensações, uma alegria na natureza, uma música de letra ao contrário onde nada faz sentido mas não nos larga a pele, a alma e o pensamento. E por tudo isto esgotam inscrições. Se abrissem hoje, esgotavam.



(Créditos das fotos: Fotos do Zé https://www.facebook.com/fotosdoze/?fref=ts)

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Aveia - O melhor aliado do corredor contra o pecado




Um amigo há dias confessava-me que tinha imensa fome e que não resistia à tentação diária, compensando sempre com mais uns quilómetros semanais as incursões pecaminosas. Reconhecia controlo apenas no número de pecados, demorando-se deleitado no consumo de cada um dos alvos atiçados pelo diabinho que salta na nossa cabeça sempre que os olhos atingem a imagem do alvo pecaminoso. Todos temos um alvo a evitar: Doces ou salgados, há sempre alguma delícia para nos atormentar. É uma batalha constante, e para as batalhas complicadas precisamos de aliados. 

Vejo por aí constantes apelos consumistas cujo alvo é naturalmente quem quer perder peso. Dos depuradores aos medicamentos de controlo de apetite, até a fórmulas milagrosas de perder rapidamente muito peso, são muitos os apelos.
Nós corredores temos tendência a comer desalmadamente quando em épocas de treino intensivo, ou a fazer dietas radicais para recuperar o peso que achamos ideal para o calendário a enfrentar. Sabemos que os quilos a mais se vão fazer notar naquela subida mais íngreme, ou impedir o aumento de cadência naquela fase da prova em linha em que queremos fazer a diferença face aos melhores resultados. Somos competitivos com o nosso melhor, mas descuramos a alimentação.
Quando comecei a minha guerra contra o excesso de peso também me fartei de procurar fórmulas de sucesso para enfrentar as tentações, a fome ou o desgaste provocado pelos treinos, e que fazia com que fosse mais difícil controlar o apetite que os muitos quilómetros que corria. É por isso com natural sorriso que encaro as perguntas que me fazem, quando tentam descobrir nos meus hábitos algo saudável que reduza a gula e o impulso para o "pecado". Tenho há muito tempo uma fórmula de sucesso para controlar a fome: Aveia. 
A aveia é o maior aliado que podes ter no controlo do peso e do apetite. Cereal integral de digestão lenta, deixa-nos uma sensação de saciedade durante mais tempo que qualquer outro hidrato de carbono. A libertação prolongada de energia deste hidrato faz com que seja adequado para pré treino, prova, ou mesmo para pequeno almoço do dia-a-dia. 
Ao prevenir a flutuação de glicose por induzir o organismo a uma constante produção de insulina, a aveia torna-se num excelente aliado para controlar desejos "indesejados". Digamos que faz crescer o "anjinho" da nossa consciência sobre os impulsos do "diabinho" que nos desvia o olhar para o croissant, pastel de nata ou qualquer outro pecado saciante, mas que depois pesa nos projectos de peso. Rica em fibra, gorduras saudáveis, minerais - manganésio, fósforo, zinco, selénio e ferro - e vitaminas - tiamina, niacina, riboflavina, vitamina B6, ácido fólico, biotina e vitamina E. Estes micronutrientes, que nos fartamos de ver anunciados em cápsulas milagrosas para o controlo de peso, fortalecem ainda o sistema imunitário (claro!) e aceleram o processo anti-inflamatório da recuperação muscular. É o melhor aliado de qualquer ser humano, quanto mais de um atleta (ou aspirante a tal). Ainda tem 14 g de proteína por cada 100 - 28% da DR para um adulto médio.

Enfim, tanto procuramos o santo graal e ele está sempre tão acessível. Eu compro todos os meses 40 destas doses de 100 g (4 kg)e assim, entre pequeno almoço e mais algumas ceias em noite de maior apetite, por apenas 10 € (sem contar aqui com o leite, já que pode ser misturada com água), tenho um alimento rico, bastante rico, ao preço de 10 croissants que "alimenta" mais e melhor. Encomenda online aqui e recebe em casa. Não há forma mais simples.
Claro que este texto é apenas uma dica, e claro está que deves contactar um nutricionista que te ajude a atingir os teus objectivos. Não bastam os bons aliados para vencer guerras. A estratégia tem de ser bem delineada e bem articuladas todas as armas. 

Boas corridas!

quinta-feira, janeiro 14, 2016

Calendário 2016

É todos os anos assim. Depois do resultado do sorteio das inscrições para as diversas provas no Mont Blanc do último fim de semana de Agosto, começam a definir-se os calendários dos que têm no trail e na corrida de resistência o seu escape para conquistas desportivas, vida saudável e alívio do stress da era moderna. Nós fazemos o mesmo. Apesar dos pontos conquistados e mesmo com o dobro de chances para o sorteio do UTMB por ser o segundo ano de candidatura, não tivemos sorte e não fomos um dos selecionados para a prova rainha do trail mundial. Resta-nos o conforto de saber que à terceira candidatura, rezam as regras que é de vez, e que não dependerá da sorte o salto para a lista de inscritos.

Quem segue com alguma atenção as redes sociais, começa a notar a abertura de inscrições para as restantes provas do calendário internacional, num esforço de cativar os euros que os descontentes tinham reservados para viagem e estadia na Suiça. Vai daí é vê-los - os descontentes como nós - a organizarem o ano com a prova que lhes dará a adrenalina suficiente para uma futura participação na volta ao Monte mais desejado da Europa. Da Ultra Pirinéu à Epic Buff, passando pelo Toubkal, Ehunmilak ou Grande Raide dos Pirinéus, todas as provas acenam com as suas atrações para serem o refúgio dos mais de 10.000 atletas não sorteados em Chamonix.

Por cá afina-se o calendário à medida de todos esses grandes desafios. Todos os fins de semana haverá provas para todos os gostos. O ano começou com a habitualmente elogiada organização alentejana, num concorrido Trail Vicentino da Serra que levou várias centenas de atletas até aos trilhos portalegrenses. No próximo fim de semana começa o Território Circuito Centro, com a etapa de Proença a Nova, que levará os atletas a vários dos paraísos do Pinhal Interior e da Beira Baixa. Na semana seguinte teremos a prometida épica edição dos Trilhos dos Abutres pelas subidas e descidas lamacentas rodeadas por coros celestiais de quedas de água e impropérios dos menos preparados. Em Fevereiro começa o calendário de Ultra Endurance com o inevitável Ultra de Sicó, com distâncias para todos os gostos e abastecimentos com todas as tentações. Nos Açores estreia uma nova prova, a Columbus Trail Ilha de Santa Maria, com distância máxima de 77 km numa volta à primeira ilha onde atracou o navegador na viagem que o levou à descoberta da América.
Março é mês de Paleozóico e do seu carrossel - que inclui um elevador - pelas Serra de Valongo. Este ano coincide com o Ultra Trail Aldeias de Xisto, antecipado por uma boa causa: A realização do Mundial de Trail no Gerês, pela mão do mais mediático ultra corredor português - Carlos Sá - em Outubro. O UTAX, primeira prova do Circuito Ultra Endurance da Associação de Trail Running de Portugal, é também Taça de Portugal. 
Abril será o mês mais internacional do trail português, com o Madeira Island Ultra Trail - agora integrante do circuíto mundial, o Ultra Trail Series - e com o Peneda Gerês Trail Adventure, prova que se realiza pelo terceiro ano consecutivo, e que levará ao Minho muitos dos que em Outubro virão ao Mundial e muitos dos que querem voltar a correr numa região que é um hino de beleza natural. Há muitas alternativas neste mês de Abril: A Ultra Geira Romana, o Arrabida Ultra Trail, Almourol ou Linhas de Torres. A Ultra do Piodão abre o preenchido calendário primaveril.
Em Maio haverá duas provas do circuito Ultra Endurance, a Ultra São Mamede com os seus 100 km de festa garantida e o Estrela Grande Trail, organizado pelo Armando Teixeira na Serra mais alta de Portugal continental. Há ainda o Faial de costa a costa e a novidade ultra que partirá e chegará à cidade da Horta, projetando esta prova para a categoria ultra endurance com os seus mais de 80 km.
Junho é mês de Oh Meu Deus, a exclamação de todos os que se aventuram na até há um ano única prova de 100 milhas (160 km) em território nacional. Também na Serra da Estrela, é uma das provas que mais pontos atribui para o UTMB. Ainda em Junho haverá o Trail dos 4 Caminhos ou o divertido Loucos da Reixida. Para o último fim de semana está já marcado o Ultra Trail Serra da Freita, agora na distância centenária, e palco de alguns dos mais duros e belos cenários de média montanha. Entre "Bestas" e piscinas naturais nos Rios Frades, Paivô ou Teixeira, há percursos desenhados pelo Mestre Moutinho com diversão e empenos garantidos. O Clube de Montanha da Lousã organiza o seu trail com uma quase garantida ausência de lama mas mantendo todo o esplendor da bela Serra; uma forma diferente de abordar a Lousã.
Em Julho, com o calor a apertar, é altura de fazer Ultras em trilhos mais a Ocidente, nas praias. Da das Maçãs parte o Ultra Trail Monte da Lua para percorrer floresta e costa de Sintra, arribas incluídas, num cenário pintado entre o mar e a serra. Exatamente no mesmo dia (!) há um outro Ultra Trail, um pouco mais a norte, também com o mesmo desenho, o Caldas Ultra Trail. Na semana seguinte a tradicional Ultra Maratona Atlântica liga os 43 km que separam Melides de Tróia. 
Agosto é o mês do habitual Trail Noturno de Óbidos, este ano atirado para o segundo fim de semana, coincidindo assim com o Ultra algarvio da Rocha da Pena. Há ainda a Pt281+, a maior Ultramaratona do País, com 281 km, e que liga Belmonte a Proença a Nova. 
O Grande Trail Serra D'Arga marca o calendário de Setembro e atrairá ainda mais gente a Caminha e à Sra do Minho em ano e território de Mundial. Em 2015 houve ainda o Estrela-Açor Ultra Trail, prova que ainda não tem data, com 180 km entre as duas Serras do maciço central. 
Outubro será então o mês de maior visibilidade e projeção do País no panorama internacional do trail, com a realização da prova máxima no Gerês. Na Régua teremos o Réccua Douro, uma prova bem organizada, num cenário bonito embelezado pelas vinhas carregadas. Apesar do mundial é um mês cheio de provas de norte a sul do país. Haverá ainda uma prova aberta ao público no programa do Mundial.
Em Novembro ruma-se a Barcelos para o Ultra dos Amigos da Montanha, uma semana depois da Ultra da Arrábida. 
Para fechar o ano e preparar as festas de Dezembro, há os diversos Christmas Trail e apenas uma ultra, na Ericeira.


A somar a todo este preenchido calendário há ainda diversas provas na Madeira, ora do calendário de trail, ora do calendário do Sky Running, das quais se destaca a Ultra Skymarathon da Madeira, a realizar em Santana no primeiro fim de semana de Junho, e que fará parte do Circuito Mundial da especialidade - o Sky Runner World Series. Esta prova levou ao Mundo imagens fabulosas da ilha da Madeira, captadas pelo conhecido fotógrafo e corredor Ian Corless. Com condições fantásticas para a prática da modalidade, é já um destino de sucesso para quem gosta de desfrutar das corridas na natureza.

Enfim, um calendário preenchido, onde não faltam opções para fazer provas cá dentro, das mais curtas às maiores do mundo. Se pratica trail tem excelentes opções de conhecer melhor o País a correr.


Portugal visto de cima é ainda mais bonito. Os caminhos que nos levam aos pontos mais altos são duros, selvagens, mas a recompensa é sempre superior ao esforço. São caminhos que vale a pena perCorrer.

Calendário retirado daqui.