terça-feira, abril 08, 2014

Juízos e liberdades

O Juízo da Perturbação

Se estás aflito por alguma coisa externa, não é ela que te perturba, mas o juízo que dela fazes. E está em teu poder dissipar esse juízo. Mas se a dor provém da tua disposição interior, quem te impede de a corrigir? E se sofres particularmente por não estares a fazer algo que te parece certo, por que não ages, em vez de te lamentares? Um obstáculo insuperável te o impede? Não te aflijas, então, pois a causa de não o estares a fazer não depende de ti. Não vale a pena viver se não o puderes fazer? Parte, então, desta vida satisfeito, como partirias se tivesses logrado êxito no que pretendias fazer, mas sem cólera contra o que se te opôs.

Marco Aurélio (Imperador Romano)

Se já era assim no tempo de Marco Aurélio, assim continua nos nossos dias. Andamos preocupados com o que a sociedade pensa de nós, ajuizando permanentemente o que ela sentenciará de cada passo, cada atitude, cada vontade demonstrada em fazermos o que quer que seja, abdicando de viver o que desejamos. Perturbamo-nos depois por não fazermos o que queremos ou queríamos fazer, abdicando do livre arbítrio que todos temos e de que quase todos abdicámos. Os loucos, esses, ficam com o bom da vida, a despreocupação. A consciência, essa guilhotina que vem acoplada ao ser humano e que os nossos educadores tanto trabalham, leva-nos os sonhos como as enxurradas levam a água. Felizmente, depois de toda a intempérie surge nova vida, e muitas vezes, onde havia flores, voltam a nascer flores.
Temos que fazer uma permanente avaliação de tudo o que se passa nas nossas vidas? Não obrigatoriamente. Mas devemos seguramente avaliar se estamos a ser capazes de fazer tudo aquilo que nós, e apenas nós, esperamos da nossa vida. Egoísmo? Não me parece.
Devemos procurar as nossas meias laranjas, os testos das nossas panelas, os legos que encaixam nas nossas peças, porque é isso seguramente que todos os outros fazem.
Afinal, procurar o que é melhor para nós, apesar de um acto individualista, faz-nos ser, em primeiro lugar, leais para com nós próprios, não abdicando dos nossos projectos, e isso, quer queiramos ou não, é o que faz com que os outros possam encaixar nas nossas vidas. Se não encaixam é porque as peças não são compatíveis.
Vamos ser felizes e deixarmo-nos de merdas? Vamos lá!

1 comentário:

  1. A Mente mente... até sobre a nossa "incompletude" e de procurar as outras metades, os encaixes compatíveis e outras redenções externas desses crentes da "fe"-licidade!! porém já dizia o poeta Baudelaire
    "Et je suis la plaie et le couteau !
    Je suis le soufflet et la joue !
    Je suis les membres et la roue,
    Et la victime et le bourreau !"

    Só para louvar a dimensão do convite as reflexões existencialistas num blogue cujo nome remete mais para as entranhas e correntes de ar
    Pitagoras

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