quarta-feira, novembro 28, 2012

Endorfinite

Patologia crónica. Acho que há sintomas evidentes em muitos dos tontos que, como eu, trocam dias de praia por treinos na montanha, manhãs de Domingo na cama por longas corridas, ou noites à lareira por corridas polares, nas noites em que, como hoje, nem os carros abundam na rua.

Sabemos todos que, apesar do bem que possa saber qualquer uma das situações que referi, nenhuma se assemelha ao esplêndido sabor de sentir o suor a escorrer pela cara e quase a congelar, o vento que nos sopra ao ouvido, e a solidão de um fantástico treino à beira-mar, com incursões constantes na fantástica zona ribeirinha desta bela cidade invicta.

Sentimos sempre aquele reconfortante sabor a dever cumprido, e nem comentámos muito com os amigos que se ficaram pela lareira. Eles não iriam compreender. Dizem-nos doentes. Eu confirmo, é endorfinite. A dependência de endorfinas, a “droga” dos corredores.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Meus amigos:

Ontem fui fazer séries à chuva. Não me apeteceu molhar muito, corri apenas 50 minutos, quase a trote (com algumas acelerações). Nada de novo, é o que eu faço habitualmente, Fartlek. Corro sempre assim, a brincar. Na Maratona do Porto, o Luis Rodrigues dizia-me, meio a brincar, muito a sério, que eu não me calava um minuto, tal era a animação que gerava à minha volta. Acho que é por isso que continuo sem me cansar (física e psicologicamente) da corrida. Vou correndo, sem me matar muito. Cerro os dentes quando dói muito, mas não provoco a dor. Corro sempre muito descontraído, com gosto e sem pressão.
Meus amigos: Vocês andam-me a preocupar. Desataram todos a fazer grandes provas, excelentes tempos, imensas cargas de treino. Agora, uns têm lesão aqui, dor acolá, cansaço acumulado. Outros correram uns tempos, desistiram. São os que experimentam, fazem umas provas, mas desistem. Tenho já uma longa lista de pessoas que acompanhei em treinos e provas e que abandonaram a corrida. É compreensível, alguns desiludiram-se com performances, outros não arriscam más performances, como se isso fosse obrigação, outros não têm disponibilidade, ou deixaram de a procurar. Lembrem-se, nascemos para correr, não devemos é correr para competir com o nosso corpo.
Corram por prazer.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Free Running Gourmet

 

Rota das Tascas – A Via Sacra

- Pouco barulho, caralho! Foda-se… Ainda são 11 da manhã!

E à terceira das muitas tascas que visitámos, éramos finalmente recebidos à boa maneira tripeira, por uma anfitriã boavisteira assumida, tripeira famosa, não só pelo vernáculo mas também pelo aspecto que tradicionalmente tinha a tasca que lhe dá o cognome: A Badalhoca. A Dª Lurdes, depois do aviso, lá desatou a despachar os mais de 30 atletas, com sandes de presunto, rojões ou fígado de cebolada, entre outras iguarias, tudo regado com cerveja ou com o tradicional espadal. Não acalmou o burburinho, esse passou do interior para o exterior e passou a êxtase de quem aconchegava o petisco a espanto dos que por ali passavam ainda em registo matinal.

As tascas abundavam no Porto há alguns anos. O Moutinho, mestre do Trail Gourmet, e adepto confesso dos treinos em ambiente de convívio, onde todos correm juntos e em que a boa disposição reina, prepara com alguma frequência estes free-running, muitos deles na Cidade do Porto, levando quem o acompanha a descobrir recantos inimagináveis, que nos levam a correr por trilhos rurais enlameados  ou pelas escuras vielas e escadarias, passando por “ilhas” e parques urbanos. No passado Sábado os temas que escolheu foram as tascas e o cinema na Cidade Invicta. 
Com partida do Jardim de Arca D’Água, onde havíamos de chegar para o convívio final no “Escondidinho”, foram 26 kms em Via Sacra onde as Estações eram as tascas das Freguesias visitadas (Paranhos, Ramalde, Aldoar, Nevogilde e Foz).   
Das 9h (chuvosa) até às 14h (com tímido sol de Outono), foi um teste à resistência, onde só os mais fortes (leia-se com melhor fígado) resistiram. Houve alguns que corriam a um ritmo errático, uma espécie de fartlek, quando se aproximavam de mais uma tasca. Outros experimentaram abastecimentos variados para testar o nível de resistência ao lactato dos diferentes produtos analisados. Foi unânime a conclusão de que deveríamos repetir a experiência, para haver uma aferição mais credível dos resultados, mas o Moutinho, um anfitrião de eleição, avisou logo que, com ele, só gourmet. Experimenta-se uma vez guiado por ele, mas diz ser apologista da livre iniciativa.
Enfim, fico com esta experiência, mas dispenso a repetição em modo individual, até porque o que é bom deve ser partilhado.

Ficou a vontade de participar em mais encontros como este. Obrigado a todos por uma manhã de Sábado bem passada, onde a corrida, paixão que nos é comum, foi motivo para mais um excelente convívio de gente sã que invariavelmente se junta para esta espécie de “revisita” à liberdade.