Não gosto desta classe.
Não que tenha alguma espécie de reparo em particular a quem quer que seja, até porque tenho amigos, familiares e conhecidos, que respeito, na profissão.
Acho é que, ao contrário do que apregoam e deveriam fazer, se tornaram numa classe aburguesada, que entre si, trabalhadores da justiça e administradores da dita, se protegem numa espécie de mundo à parte.
Em primeiro lugar são raros os casos em que apresentam um nome próprio. Intitulam-se todos Dr.s, tratam-se todos por Exª, Eminência, meretísssimo, e sabe-se lá o que mais. Não conheço muitos (excepto os meus amigos) que se apresentem com o nome próprio. Ele é Martins da Rocha, Soares de Oliveira, Santana Lopes, Marinho Pinto, Azevedo Matos, Oliveira de Sousa, Santos de Oliveira... Já as S.ras Dr.as são tipo Sandra de Rocha Matos, Etelvina Sousa Mendes, Joaquina de Monteiro Pacheco... Aburguesaram-se de tal maneira que, quem se der ao trabalho de assistir a um julgamento banal e vulgar de alguém que se queixou de outrem, de uma eventual agressão ou difamação, pode ver o/a Procuradora, numa orquestra afinada com Juiz/Juiza e assistente, a tentar encontrar culpa numa acusação por muito espatafurdia que pareça. Chega-se ao cúmulo de os advogados fazerem uma espécie de gritaria acusatória e de arrogante censura do arguido, sem que o mesmo seja defendido pelo tribunal que deveria manter a presunção de inocência do acusado e não o contrário. Passam os julgamentos num ping-pong de argumentos, tentam contornar a lei ou aplicá-la, como quem enche sacos de gomas. No fim cumprimentam-se, depois de uns se acusarem aos outros e de tentarem derrotar o "colega" fulano de baltrano. O réu, se for do povo e não burguês, é tratado pelo nome próprio, não vá achar-se alguém daquele meio de elite.
Trabalham pouco os advogados. Têm azar quanto aos julgamentos. São definidos prazos.
Em cada chamada que atendem, justificam o facto de ainda não terem feito nada com os prazos: "Ainda temos 12 dias... Só termina no próximo Mês...". O cliente, que normalmente paga adiantado, é sujeito às vontades do prestador do serviço.
Os advogados, que abrangem todos os que andam nas barras dos tribunais, não passam de contornadores de leis. Por cada parecer juridico que se arranje, com mais algum dinheirinho se encontra um que diga o contrário. São uma classe que pouco produz a favor da sociedade, que se remeteu a uma espécie de classe mafiosa, que cobra os honorários que bem entende, se o cliente se distrair e não pedir antecipadamente um orçamento discriminado. Dão-se ao luxo de cobrar tudo e mais alguma coisa. Ganham nome nas Tv's e política para depois poderem passear a fama nos tribunais, que, com juízes e procuradores tenrinhos, lhes vão fazendo o favor de ajudar no que podem. Julgam-se uns aos outros e cumprimentam-se no fim, e acham-nos todos pouco dignos do esforço das mentes brilhantes que procuram criar e explorar os buracos das leis.
Sem querer com isto generalizar, acho que lhes fazia bem um estágio na vida real. Deviam ir para a rua trabalhar, apanhar frio, sofrer na vida real e serem tratados por Zé, Joana, Pedro ou Maria.
Talvez assim caíssem na real e reparassem que quem lhes dá de comer somos todos nós que andámos há anos a alimentar uma máquina de justiça que, qual canibal, come todos aqueles que deveria servir. Absolvições e condenações incríveis são seladas com apertos de mão dos homens e mulheres de vestes pretas, que não passam de um conjunto de servidores, mas que se acham e tornaram num grupo digno de vassalagem.
Só espero que com este texto não vá parar a tribunal...
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