domingo, setembro 29, 2013

3ª Edição Grande Trail Serra D’Arga

 

Mais um encontro com a paixão.

A reportagem jornalística, seria mais ou menos assim:

- Mais de 1800 inscritos nas diversas provas, desde o Trail Jovem até à distância rainha de 45 km, coloriram o horizonte cinzento da intempérie que se abateu ontem sobre a outrora verde Serra, flagelada pelos recentes incêndios. Os aventureiros atletas que desafiaram a chuva e vento fortes, provaram que também é possível correr sobre os rios, tantas eram as linhas de água que corriam sob seus pés.
Os resultados podem ser consultados aqui.

Como não sou repórter, deixo esse relato para quem estudou belíssimas formas de descrever o “onde, quando, como e porquê”.

Sou totalista das edições do GTSA. Na primeira edição ficámos pelos 21 km, na segunda conseguimos terminar em beleza toda a distância, num belíssimo dia de sol. Ontem, apesar da chuva intensa, da lama resultante dos incêndios do último verão que fustigaram a Serra, e do vento forte, tudo decorreu mais ou menos dentro da normalidade.

Não se pode esperar do trail em Portugal muita “paz”. Caso as provas não se aventurem em maiores quilometragens, o recente boom de participantes de provas em montanha vai fazer com que haja cada vez menos uma família do trail, transformando esta numa imensa comunidade. Longe vão os tempos dos pioneiros do trail em Portugal, em que os participantes e respectivas famílias enchiam uma sala de restaurante no fim das provas. Hoje em dia, com a quantidade de atletas que calcorreiam os trilhos, nem 1 porco assado servido em sandes é suficiente. Os balneários da 1ª edição desta prova, onde lamentávamos o corte da prova pelo mau tempo, foram substituídos por gigantescas tendas instaladas no campo de futebol, que, como sempre, servia de parque de estacionamento, parque esse já insuficiente para mais de 1800 atletas e famílias. Há 2 anos cheguei cedo, pelas 6h00, cruzei-me com o Carlos Sá, vi alguns atletas a acordar, e recordo-me que, pouco depois das 7h ainda se conseguia estacionar junto ao Centro Cultural de Dem, base da prova. Ontem, com o triplo dos atletas inscritos, às 7h10 já era difícil levar o carro até ao campo de futebol. O burburinho da 1ª edição passou a caos. Aqueles momentos que nos habituámos a ter antes das provas de trail, em que todos nos cumprimentávamos e que tão intimistas e únicos nos pareciam, tendem a desaparecer. Não é mau que assim seja. O sucesso que muitos atletas têm tido, o convívio com a natureza que proporciona (apesar de ainda haver muito porco a deixar lixo nos trilhos) e a paixão que estes desafios geram, faz com que sejam cada vez mais os que se aventuram nestas provas. É normal. Na Europa já há muitas provas por sorteio por isso mesmo, portanto nada de novo.

Devido às eleições autárquicas, a prova teve de ser antecipada um dia, sendo assim corrida a um Sábado, o que considero ideal, para podermos todos recuperar no Domingo, mas antecipou também as jornadas técnicas para Sexta, à noite. Às 20h50, quando saímos do Hotel em Caminha, onde decorreu também a Expo-Maratona, ainda nem tinham começado. Depois de um dia de trabalho, viagem para Caminha, prova a começar cedo, lá fomos jantar, eu, o Carlos Natividade, João Meixedo, Vítor Dias e Miguel Santos. Como íamos dormir perto de Ponte de Lima, em Lanheses, casa da família Meixedo, prescindimos de ouvir as palestras e fizemo-nos à “vida”. Num restaurante onde já estava uma bela matilha (os nossos conterrâneos Cães d’Avenida), atirámo.nos a chouriço assado, costelinhas na brasa, arroz de pato no forno (com pato), sobremesas à altura e maduro branco para não descurarmos a hidratação. Tudo como mandam as regras do trail: Conviver. Repasto concluído, lá fomos estrada fora até Lanheses, com alguma chuva, que já fazia adivinhar o banho do dia seguinte. Como habitual quando nos juntámos, deitámo-nos tarde, demasiado tarde, para lá da 1h.

GTSAjantar

gtsapato

Acordámos cedo, fomos para Dem e para a linha de partida à espera do controlo 0. O Regulamento obrigava-nos a levar (com indicação de controlo de material na partida e controlos surpresa durante a prova) desde manta de sobrevivência, até ao frontal. A ausência de qualquer um dos itens obrigatórios implicaria penalizações, de 1h até à exclusão. Alguém foi controlado? Nada. Pareceu-me demasiado displicente, estando o dia que estava, querendo crer que todos levaram o material obrigatório. É normal, e estava referido no dito regulamento, que quando vamos para a montanha, aquele equipamento deve-nos sempre acompanhar. Mas numa prova que começa e acaba de dia, com tempos limite de passagem, obrigar a levar frontal…

GTSA

A corrida decorreu como seria de esperar. No meu caso, comecei como acabei, a andar nas subidas e a correr nas descidas e em plano, o que fez com que, apesar de termos saído em últimos (não resistimos a uma foto de um ou outro fã), tenhamos acabado por ter ultrapassado imensa gente até ao final.

GTSAFans

Esta prova é uma verdadeira prova de resistência e deve ser feita com muita cabeça. Quem abusa até aos 21 km, normalmente paga na segunda parte, muito mais exigente e onde se concentram as maiores e mais duras subidas. A beleza da serra, ontem, escondeu-se por trás de um nevoeiro que persistiu até ao fim. Talvez tenha sido melhor assim, porque o cinzento das cinzas que a cobre em grande parte, não é o melhor atrativo para voltar. Tenho quase a certeza que muitos dos que lá foram voltarão e trarão mais gente para a admirar. Já eu não sei se farei de novo uma prova que, apesar de continuar a achar a mais equilibrada em quase todos os pontos, se está a transformar em algo demasiado grande que, sem desprimor, não me atrai. Os abastecimentos ontem eram em fila. O abastecimento dos 30 km, talvez o mais importante por ser depois da longa subida desde S. Lourenço até à Sra. do Minho, onde voltaria por nova exigente subida, quando lá cheguei, já não tinha nada com sal, e tudo o resto escasseava. Salvou-se com o chá de cidreira. Mas atrás de mim vinham mais de 100 atletas, pareceu-me que seria o abastecimento mais importante da prova e no entanto era mais pobre que o dos 15. Valeu-me o hábito de contar sempre com o meu abastecimento. É assim que faço, se o da organização não falhar e o meu sobrar, melhor.

GTSAAltim

As marcações estavam aceitáveis, não me perdi em qualquer lugar, havendo no entanto quem se tenham enganado, ou tenha sido induzido em erro por elementos afectos à organização, como foi o caso de um grupo de favoritos da prova de 21 km.
Os brindes oferecidos (camisola térmica e colete de finisher) são de excelente qualidade, as jornadas técnicas boas e os banhos excelentes.
Talvez não fosse má ideia colocarem a meta junto da zona de balneários e parque, para haver mais gente junto à chegada dos participantes. Cheguei com cerca de 8 horas (menos mais de 2h relativamente ao ano anterior) de prova e havia um silêncio ensurdecedor junto à chegada, salvo 3 ou 4 voluntários que, 200 metros antes saudavam os que concluíam a corrida.

Parabéns aos mais de 1300 finishers, muitos deles estreantes. E que estreia. É uma excelente “prova” para quem se quiser estrear numa distância não elevada, mas com imensa exigência.

Espero voltar a conviver com muitos dos com quem lá me cruzei, e continuar a poder usufruir da amizade dos que comigo fazem o favor de partilhar largos quilómetros de treinos e aventuras. Gosto muito de correr, é um bónus que a vida me deu e que espero continuar a fazer por longos anos. Mas do que mais gosto é do espírito “Ultra”, de quem leva ao extremo a sua paixão e corre horas a fio, sem sofrimento, esse fica para os que competem. Porque apesar dos empenos, o que fica sempre, é a vontade de voltar a passar os belos momentos que passei entre Sexta e Sábado à noite. Do repasto de Sexta, até à Pizza em Portuzelo com que selámos o GTSA 2013, passaram menos de 24 horas, mas a intensidade e prazer que tirei de todos os momentos, de todas as incidências típicas da corrida, valeram muito. É isso que me faz querer continuar apesar de, aparentemente, haver coisas melhores para fazer num fim-de-semana chuvoso. Mas para nós que gostamos tanto disto, não há melhor do que partilhar esta insanidade que nos une e nos faz sentir de bem com a vida, como crianças despreocupadas com o futuro. É a paixão que nos une.

São assim as paixões, ficámos sempre à espera do próximo encontro.

terça-feira, setembro 24, 2013

A importância da comunicação

A respeito deste post no Facebook de um atleta, que por acaso também é organizador de uma (excelente) prova de trail, apeteceu-me dissertar sobre a corrida, cada vez mais virada para grandes públicos e cada vez mais em moda, mas também, ainda pouco tratada como a evolução merece. Há ainda muito amadorismo nas organizações das cada vez mais lucrativas provas de corrida, sejam em montanha ou em estrada.

Desde o organizador de uma prova na Serra da Estrela, de 100 milhas, onde se perderam vários atletas por deficiente marcação, que se perde a retirar as ditas marcações e é resgatado pelas autoridades já quase em hipotermia extrema e colocando a própria vida em perigo, até à prova de estrada sem água nos abastecimentos, com temperaturas acima de 30 graus, já tivemos de tudo. Chegámos ao cúmulo de, depois de alguns atletas se enganarem num percurso numa outra prova de trail (curiosamente, ou não, do mesmo organizador da de 100 milhas) por deficiente marcação, e inclusive por marcações ainda da prova do ano anterior, culpar os atletas pelo erro, por, pasme-se, não terem assistido ao briefing. Como se as provas, pagas pelo atleta, não tivessem qualquer responsabilidade sobre aquilo que prometem, organizam e cobram. Temos agora a originalidade de chamar “espontâneo” a um termo de responsabilidade obrigatório, com cláusulas que roçam quase o ridículo, e onde só falta a obrigatoriedade de indemnizar a organização caso causemos incómodos de maior.

Podia dar-vos mais exemplos. Há muito amadorismo no tratamento dos milhares de atletas que enchem estas provas, quase tanto como a leviandade com que a grande maioria dos atletas tratam a corrida. Calçam sapatilhas, compram uma mochila, um frontal, géis e barras, um bom corta-vento, e fazem-se às provas sem sequer fazerem um exame médico que ateste a capacidade da máquina em fazer grandes esforços. Duvido que, dos mais de 700 (!!) inscritos no próximo Trail Serra D’Arga, metade saiba qual o estado do seu corpo. Gastam mais de 600€ em equipamento, sobra pouco para os cerca de 50 ou 60 que custaria um exame médico desportivo.

Mas este texto é sobretudo sobre as organizações. As provas de estrada em Portugal são organizadas por amadores. Há algumas empresas ligadas ao ramo, cujos proprietários se dedicam em exclusivo à organização destes eventos, mas que evoluíram de organizações puramente amadoras, de tempos em que a corrida era pouco expressiva em termos de adesão de amadores, e que continuam assentes no mesmo método de trabalho. Temos que lhes dar o mérito que têm, reclamam e merecem. Talvez eles devessem aceitar as críticas, não com humildade, já que o profissionalismo não pode ceder a sentimentos, mas com o profissionalismo e bom senso que é recomendável a quem dá a cara por marcas de renome. Porque quando se responde a um “cliente”, responde-se com vários fatos vestidos, o seu e o dos patrocinadores.

Sou profissional da área comercial. Lido com clientes todos os dias. Muitas vezes respiro fundo, grito para dentro e controlo os meus ímpetos (estes sim espontâneos), que me levariam a tratar com os pés aquilo que deve ser tratado com pinças. O cliente nem sempre tem razão, há imensas coisas que ele desconhece e que levam ao resultado que ele vê, mas isso é inexplicável quando o objecto de tudo o que está oculto aos seus olhos, é ele próprio. Claro que tudo isto é gerenciador de stress, de algum sentimento de frustração do nosso lado “animal”, que gosta sempre de dominar e terminar qualquer contenda com o pé em cima do adversário, mas não pode ser. Devemos, quando lidámos com clientes, manter a mão estendida disponível a um entendimento, sob pena de, sendo o resultado um cliente insatisfeito, estarmos a fazer transparecer uma ideia errada sobre todo o esforço despendido para a sua satisfação, e o malvado não o compreender.

Há no entanto uma empresa em Portugal que é quase exemplar nos eventos que organiza. Pelo menos aos meus olhos. Evoluiu pelas mãos de um homem: Jorge Teixeira.
Participei em imensas provas organizadas pela Runporto, desde a “Corrida do Homem e da Mulher”, passando por corridas solidárias, até às 1/2 maratonas e maratona (vou para a quarta participação em 10 edições), e a ideia que tenho é que a evolução tem sido muita e se nota cada vez mais profissionalismo e atenção aos pormenores, havendo sempre coisas a melhorar, como em tudo na vida. A perfeição não existe e só erra quem trabalha. E se há coisa que uma organização destas dá, é imenso trabalho. Pensa-se que se enriquece com a organização de corridas, mas não consta em nenhuma lista de milionários, qualquer homem dedicado em exclusivo a esta actividade. Tem que se ter paixão, dedicação e muito trabalho e vontade de vencer.

O dono da Runporto, é um homem dedicado à corrida e à sua divulgação, e um dos principais responsáveis pelo boom de corredores nas nossas ruas, ao organizar superiormente muitos dos eventos de corrida do Grande Porto. Conheço-o pouco. Conto pelos dedos do meu corpo, as poucas palavras que com ele troquei, uma vez na sua “Loja do Corredor”, uma ou outra vez nos aniversários do meu clube, ou num ou outro encontro ocasional. Conheci um dos seus filho na Maratona de Lisboa, esteve em alguns pontos da prova a apoiar-nos, e ainda hoje, simpaticamente me saúda quando nos cruzamos numa ou outra prova. São gente de trabalho, toda a família se dedica à Empresa. São seguramente boas pessoas porque eu olho para a equipa da Runporto e vejo os mesmos há anos a entregar dorsais, a montar as estruturas, nos controlos de provas, etc. Este é normalmente um indicador de gente satisfeita com o ambiente, método e com o resultado do trabalho que fazem. Acredito que são uma equipa consolidada porque o líder é forte, sabe o que faz e os guia aos resultados. E um líder é mesmo isso, um líder. Um bom líder faz com que a sua equipa seja simpática no seu todo, apesar de um ou outro mais antipático, eficaz no trabalho, apesar de um ou outro erro, e acima de tudo eficaz a preservar o nome da empresa, e passar essa mensagem à equipa. E o Jorge Teixeira faz isto quase na perfeição. Quase, porque ele próprio desgasta a imagem com pormenores que nada acrescentam. Enerva-se, com certeza terá alguma razão, defende a empresa como se fosse o próprio, mas a Runporto já tem uma dimensão que o Jorge Teixeira tem que deixar evoluir, não personalizando tanto as questões, que não passam de pormenores numa máquina afinada.

Numa empresa, as trocas de mensagens, têm sempre que fazer passar a imagem da empresa e nunca sentimentos ou estados de alma pessoais. Isso faço eu, aqui no meu blogue. Nas empresas, a comunicação tem de ser profissional. A Runporto organiza tão bem as suas provas que seria mais uma excelente demonstração de profissionalismo, fazer a comunicação com atletas por profissionais, e  deixar estas, digamos, “altercações”, para trás. Passar à frente, tentar resolver o problema, e se não houver como, pedir compreensão e não despoletar situações como a relatada pelo Leandro, ou como outras que se podem ler nos comentários, porque eu acredito que há tanta coisa boa na Runporto que não pode ser uma má estratégia de comunicação que a possa beliscar.

quarta-feira, setembro 04, 2013

Salomon Hydro Sense

 

Testar equipamento é das coisas mais gratificantes que nos podem pedir, a nós, corredores de pelotão, daqueles que o fecham, com a expectativa de vir daqui alguma conclusão a que ainda não tenha chegado a “fina flor” da equipa de desenvolvimento de produtos desta prestigiada marca. A Salomon faz desenvolvimento e teste de novos produtos com a sua equipa de atletas profissionais, que aferem as capacidades dos acessórios e equipamentos, e onde experimentam artigos que satisfaçam necessidades específicas de alguns deles, saindo daqui a gama S-Lab. No fundo, a gama S-Lab é um conjunto de produtos desenvolvidos para necessidades de atletas de topo. Nos “Laboratórios Salomon”, reúnem os atletas, experimentam soluções e propõem outras. É a gama mais desejada pelo atleta anónimo. Como dizia um amigo meu “fraco atleta, mas bem equipado”.
Podem ver neste pequeno filme, um resumo  de um destes “S-Lab”, onde foi testado este equipamento pela primeira vez.

 

salomonsense


Com a mochila Agile 12, enviaram-me também para testar, um par destas pegas que se adaptam facilmente à mão, que vem já com um cantil de cerca de 1/4 de litro de capacidade. Ora, quem me conhece e já treinou comigo, sabe que eu transpiro imenso, o que faz com que a minha necessidade de hidratação seja superior ao normal, e ainda para mais num verão como este, de calor acentuado. Fiz um primeiro teste, apenas com uma das pegas e respectivo “hydrapack”. O transporte é quase imperceptível, o peso mínimo, e nada incómodo, mas a quantidade apresentava-se insuficiente para as minhas necessidades. Como me tinham enviado um par, resolvi testa-lo. Coloquei nas duas uma garrafa de 0,20 cl, tendo resultado numa excelente descoberta de eficácia do produto. Rapidamente cheguei à conclusão que, nas maratonas, onde não prescindo de andar sempre com uma garrafa na mão para me ir hidratando, esta é a solução ideal, bem como para treinos até 2 horas, onde, até agora, no máximo levava uma garrafa pequena de água na mão, mas que se revelava quase sempre incómoda ao fim de algum tempo.
De realçar que a pega S-Lab Hydro Sense não aquece a mão, é adaptável a diversos tamanhos e volumes (até 500 ml), podendo assim responder às diversas necessidades. O transporte da hidratação torna-se simples e quase imperceptível, sendo uma excelente forma de a transportar nos treinos mais curtos.
Bons treinos!