terça-feira, dezembro 31, 2013

2013 Ano Ultra

Há premissas essenciais para quem quer ser um atleta. Disciplina no cumprimento dos planos de treinos, nutrição e não só alimentação, suplementação para cobrir défices disto e daquilo, batidos de proteína para recuperação muscular, massagens, reforço muscular localizado, planeamento, calendário... Enfim, já estou a ficar cansado de nomear tanto factor que pode influenciar a evolução e performance de um atleta. São realmente muitas preocupações.
Há uma razão para nunca ter sido grande atleta. Detesto rotinas no desporto. Se fizer um plano de treinos, só de olhar para ele fico desmotivado. Fiz um, que cumpri na íntegra, para a minha primeira maratona, pescado na blogosfera. Chegou-me. Desde então dedico-me apenas a correr. Não faço todos os dias a mesma coisa, faço o que me apetece. Ainda hoje saí de casa com a ideia de rolar 14, 15 km e acabei por fazer um treino de rampas e escadarias de 18. 
Neste ano que finda fartei-me de treinar sem relógio, o meu Garmin já não é novo e bloqueia amiúde. Levo-o na maior parte dos treinos, mas ele só regista alguns. Optei por, nos treinos longos, levar um vulgar GPS de telemóvel, metido na mochila, mas sem lhe ligar nenhum. Não me interessa muito a quanto vou, quantos km, quanto tempo... Treino longo é isso mesmo, longo. É sair de casa sem destino, apenas com a vontade de correr. E este foi o ano dos treinos muito longos. Fiz treinos de 30, 40 e 45 km. Uns em montanha outros em estrada, de 3 e mais horas, tendo alguns durado mais de 8. Foi ano de fazer o Caminho de Santiago com mais 4 amigos, onde sentimos tudo menos os 50 km por dia em 5 dias. Foi um ano de imensas provas, mas acima de tudo de muito convívio com corrida.
Sinto-me um Ultra. Não porque faça muitos km, há quem faça muitos mais, mas porque corro quando me apetece, como me apetece, sem pressões, sem pressa, sem sprints finais para recuperar alguns segundos no PB, mas com muitos abraços, tertúlias durante provas, convívios em abastecimentos em lugar de apenas abastecer, amizades saídas de subidas intermináveis onde todos nos reduzimos ao humano frágil e volátil conforme o dia de mais ou menos força, ou à forma do momento, e acima de tudo com a certeza que continuarei a correr. Ser ultra é mesmo isto, é viver com a corrida e não para a corrida. É a mente a mostrar ao corpo forças que ele desconhece. É a vontade contra a preguiça. É viver. 
No livro "Nascidos para correr", há alguns indivíduos que se juntam para uma prova única, onde a única coisa que os unia era a corrida. Nos personagens encontrámos tipos que correm descalços, outros que correm com ressaca, outros que vivem a correr, ou para correr, e outros que correm porque não têm outro meio de transporte. Não há ali nenhuma descrição de dietas para corredores, sapatilhas ideais, suplementos aconselhados ou tipo de provas e patamares de competição até se chegar a algum objectivo. Foi isto tudo que me atraiu na corrida, poder correr onde me apeteça, como me apetecer e (e para isto foi preciso tempo) pelos km que me apetecer. Sabem que mais? Ainda por cima, todos somos capazes de o fazer, basta querer. 
Ser ultra, ao contrário do que muitos temem, não é viver a correr, é viver com a corrida. 
Fundamental é querer. Só não é ultra corredor quem não quer. Já atleta, ou ser ultra e lutar para vencer provas, ou ficar um pouco mais acima nas classificações, requer pressupostos que eu não estou disposto a abraçar. Prefiro manter-me assim, um ultra que corre, que adora correr, que gosta de desafios, que acredita que a mente manda mais que o corpo, mas que tem a certeza que a corrida é compatível com presunto, tainadas na véspera de uma prova, minis a meio de treinos de 6 horas, churrascadas depois de algumas horas num monte, ou com bolas de berlim ao pequeno almoço. Os tempos, as performances ou os PB's vão surgindo, porque se há uma coisa inevitável para quem corre respeitando os sinais do corpo, é a evolução. É inevitável. 
Foi um bom ano. Um ano ultra, mais um sem lesões, felizmente, e com mais de 5.000 km registados. Venha 2014. Vou continuar a viver com a corrida.
Feliz ano novo!

domingo, dezembro 15, 2013

Apaixonados pela corrida, os doidos

Tive um fim-de-semana em cheio. 
Ontem o Fell Race na Freita, prova a que muito dificilmente deixarei de ir. Com menos suspense que no ano passado, quando fomos lançados no meio do nevoeiro, ontem o dia estava frio mas com sol e céu azul, fazendo com que, da partida conseguissemos visualizar o ponto de destino e idealizar o percurso, para rapidamente o atingir e assim sucessivamente até ao segundo e até regressarmos ao ponto de partida. 
Numa prova onde quase todos correram entre 10 e 11 km, eu fiz 14, o que demonstra a variedade de percursos possíveis (ou a minha pouca vontade em andar pelo meio dos tojos).
A prova é seguida de um excelente convívio com a Confraria Trotamontes, com a entronização de confrades e entrega de prémios, com a particularidade de todos, repito, todos os participantes serem premiados de igual forma: Levam Cd's de música e/ou livros. O José Moutinho, que dinamiza o trail há muitos anos, faz isto pelo prazer de abrir mentes ao gozo da corrida pela corrida, ao respeito pela natureza e pela serra da Freita que tanto o apaixona, e pelo espírito altruísta que emprega em todas estas ocasiões onde junta algumas dezenas dos que o gostamos de ouvir, e que admirámos a sua postura na corrida, sempre disposto a mostrar o trail a mais alguns e aos benefícios que podemos tirar desta modalidade tão apaixonante e tão dada ao espírito de entreajuda e camaradagem.
Foi um excelente dia, com excelente companhia. 


Hoje pela manhã fui fazer o reconhecimento dos 15 km do Xtmas Trail, prova de que orgulhosamente sou Rei Mago (junto com o Carlos Natividade e o José Capela).
Na companhia do inspirador Sérgio Moreira, responsável desta organização com o Ricardo Bomtempo, que corre muito e bem, apesar de ser diabético tipo 1, e que durante o treino de quase 2 horas foi fazendo medições da glicose, sem parar de correr. Há verdadeiros heróis na corrida, que fazem o favor de nos dar "chapadas" constantes de humildade, e que nos mostram que o único obstáculo para o que podemos fazer somos nós próprios. Quem quer arranja maneira, quem não quer arranja desculpa. 
Ora o Sérgio, junto com outros elementos da organização, mostrou-nos um verdadeiro circuito de diversão para quem gosta de trail. Numa surpreendente Serra de Negrelos/Canelas, sentimo-nos por vezes na Sherwood britânica, envolvidos por densa vegetação onde só falta um ou outro curso de água para parecer o paraíso. Surpreendentemente arranjaram ali o que muitos dos que conhecemos a Serra, 12, 13 km de single tracks, subidas íngremes e descidas divertidas.
Os que se inscreveram vão-se surpreender, aos que não conseguiram inscrição, aconselho que peçam o track e descubram um novo "campo de treino" de trail. 

Não são desconhecidos para nós que por aqui andámos, mas fazem muito pela divulgação da corrida e pela promoção de hábitos saudáveis. São estes imensos anónimos por trás das organizações de provas (que não enriquecem ninguém ao contrário do que muitos pensam), free runnings, eventos desportivos vários, que fazem com que as nossas serras deixem de ser depósitos de lixo e passem a ser frequentadas por centenas de anónimos que depois de os descobrirem nas provas desfrutam destes pulmões verdes, aqui tão perto da nossa poluída rotina.
Bem hajam. 
O resultado é este. o de cada vez haver mais doidos pela corrida. Eu sou um deles e hoje com destaque. 

domingo, dezembro 01, 2013

Novo ciclo

Hoje enviei uma comunicação ao Presidente dos Porto Runners, Fernando Leite, a comunicar a minha decisão de cancelar o meu vínculo ao clube enquanto associado.

Em Outubro de 2010, depois de algumas trocas de mensagens com o Vítor Dias, e após a sua insistência para me juntar aos treinos do clube ao fim-de-semana, aderi, por sua proposta e do Luís Pires, aos Porto Runners.

Recordarei para sempre, o orgulho que foi terminar a minha primeira Maratona, envergando a camisola do clube, na minha cidade. Foi com imenso orgulho, carregado também pelo espírito de equipa (é tradição os sócios que não correm a Maratona irem apoiando pelo trajecto todos os que nela participam), que cruzei a linha de chegada, depois de todo um esforço que me trazia de volta à vida desportiva e, definitivamente, à corrida. Depois dessa, mais 20 maratonas, de estrada e ultras de montanha, e dezenas de corridas de distâncias inferiores. Em todas representei condignamente o clube, honrando-o e dignificando-o.

Fui atleta de alguns clubes, tendo mantido alguma afinidade aos ditos. Mas será sempre especial esta ligação aos Porto Runners, por me ter proporcionado a entrada no mundo da corrida, não sendo eu nenhuma mais valia enquanto resultado desportivo. E é aqui que reside a diferença deste clube. Segundo sei, a fundação dos Porto Runners, vem na sequência de outros clubes de maratonistas amadores existentes nas grandes cidades pelo mundo fora, cujo objectivo é o de proporcionar treinos em conjunto, e algumas condições preferenciais para que todos consigam correr uma ou mais maratonas. A maratona do Porto é, como se compreende, o objectivo anual de quase todos, havendo incursões a outros destinos de numerosas delegações de atletas do clube. Em Milão, a minha 2ª Maratona de estrada, fomos a maior delegação estrangeira, tendo sido mesmo o clube com mais participantes. Digamos que este é um verdadeiro clube formador de maratonistas amadores. E cumpre o objectivo na perfeição, por isso o aconselhei a alguns. Saio precisamente porque já passei a fase de afirmação enquanto maratonista. Já atingi o objectivo, e não vejo quaisquer vantagens que a minha manutenção possa ter.
Outras razões que também pesam nesta decisão, e que não abdiquei de apresentar à direcção do clube, estão explanadas na carta de desvinculação.

No próximo ano, terei outros desafios, provavelmente uma ou outra maratona de estrada, com o mesmo espírito descomprometido de quem corre por bónus, provavelmente cruzando-me em muitas ocasiões com os inúmeros amigos que fiz na corrida, muitos no clube, e todos serão tão importantes como até aqui. A única diferença será a camisola.

 

Boas corridas!