Foi há 40 anos.
Era miúdo, sou um dos da geração chamada de “Abril”, mesmo tendo nascido dois anos antes, em Outubro. Somos da geração “baby boom” à portuguesa. Portugal, apesar de direccionar grandes recursos para a guerra colonial, estava em franco crescimento económico desde a recente criação do EEE, espaço livre económico que precedeu a UE, e que juntara em 1973 os membros da EFTA aos da CEE. A década de 60, com a indústria a impor-se ao sector primário, caracterizou-se pela deslocalização das populações para as grandes cidades do litoral, concentrando-se quase 1/3 nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Apesar de todas as excelentes condições para o crescimento económico, o regime insistia num modelo caduco, que não deixava que o País crescesse ainda mais, e que nos levou a uma revolução com muitos méritos, mas cujo PREC levou à quase total destruição de um tecido industrial que nunca mais se revigorou. O crescimento económico não impediu contudo, a emigração, que atingiu o seu máximo nas décadas de 60 e 70, nem impediu que o analfabetismo mantivesse taxas acima dos 25%, ou que o regime mantivesse um controlo quase total da imprensa, nem que Portugal figurasse entre os poucos que mantinham colónias ultramarinas. Éramos um País retrógrado e amarrado.
Em 1974, com a revolução dos cravos e consequente queda da ditadura, o “pássaro fugiu da gaiola”. Ora, um pássaro que passa anos enfiado numa gaiola, quando libertado, raramente consegue voar muito e em perfeitas condições. Vejam os inúmeros animais criados em cativeiro que, quando soltos no seu meio natural, em liberdade, não conseguem sobreviver aos desafios que a luta pela sobrevivência impõe. O País, como um pássaro trôpego, andou a cambalear até estabilizar a meio da década de 80.
A liberdade é um processo de aprendizagem. Todos nós fizemos imensas asneiras nos primeiros passos que demos em liberdade, enquanto adolescentes, quando os nossos pais acharam que nos podiam soltar um pouco as rédeas que nos mantinham junto a eles. Todos nós fomos aprendendo a sobreviver neste mundo, nesta sociedade que nos coloca permanentemente em desafio, que nos amarra permanentemente a um estigma social que nos tolhe a aparente liberdade.
40 anos são mais que suficientes para amadurecer. Já podemos em liberdade escolher caminhos, escolher destinos e escolher os nossos erros.
É isto que significa a liberdade: A capacidade de podermos escolher livremente o nosso destino, reconhecermos nós próprios as nossas fraquezas, sem estereótipos, e podermos liderar o nosso caminho rumo à felicidade.
Soltemo-nos de gaiolas e amarras.
Vivamos a liberdade!