Rendido à Serra da Lousã há vários anos, voltei aos Trilhos dos Abutres pelo quinto ano consecutivo. Não vos consigo descrever esta prova. Há muito de mágico nos Abutres, e a magia só pode ser interpretada por cada um, pelo que os olhos vêem, pelo que o corpo sente, pelo que a alma suspira.
É um ziguezaguear de trilhos pelas encostas de uma serra, aqui e ali despida por madeireiros, que esconde veias de vida derramadas em água por ribeiros mágicos. São subidas e descidas húmidas e sombrias polvilhadas pelo calor que os atletas exalam em cada bafo de esforço a tentar equilibrar um corpo frágil em chão armadilhado de uma lava fria.
É correr acima e abaixo de um vulcão sem cratera que nos faz explodir todos os sentidos. Exclamamos com a beleza das montanhas acima das nuvens que arrefeciam Miranda do Corvo, abrimos os olhos de espanto em todas as imponentes quedas de água, seguramos os músculos que gritam em cada passo que nos leva ao alto delas, fieis guardiãs de um ecossistema que a água preserva e os corvos povoam.
Que fantástico ambiente. Prova superiormente organizada, a um nível sem falhas. Atletas felizes, famílias alegres, Vila em festa. Esta prova é mesmo única. Não há um único momento desperdiçado em todo o evento.
Uma edição épica rematada na manhã de Domingo nos Trilhos para os mais pequenos, com um traçado belíssimo que retrata fielmente o que a Serra esconde. Quem não foi sorteado tem lá todo o traçado sinalizado a partir do Centro de Trail, ou então que faça um treino com a Escola de trail dos Abutres na Quinta da Paiva e fica seguramente com vontade de mergulhar naquele poço de emoções.
Há uma música da Ana Matos Fernandes - Capicua - que retrata o glamour, o encanto, toda a imaginação fértil que preenche a cabeça de quem vai crescendo, sonhando e experimentando as consequências desses mesmos sonhos e as dores de quem cai e sempre se levanta. Adaptando a letra aos Trilhos dos Abutres, num claro abuso que a autora não autorizou, vou transcrever o que fui trauteando enquanto corria, caía, caminhava ou sorria.
Quando for grande vou ser prof. de "brinc-dance"
E quando corro, rodo e aterro com o pacotanço
Aqui de pé só correm os tipos da frente
Mas nos Abutres a gente diverte-se imenso! (Cantar repetidamente)
A letra é fiel a muito do que fica, porque não é a lama que nos fica na memória.
É toda uma revolução de cores, um misto de sensações, uma alegria na natureza, uma música de letra ao contrário onde nada faz sentido mas não nos larga a pele, a alma e o pensamento. E por tudo isto esgotam inscrições. Se abrissem hoje, esgotavam.
(Créditos das fotos: Fotos do Zé https://www.facebook.com/fotosdoze/?fref=ts)
Tenho que voltar um dia aos Abutres, para vivenciar tudo isso novamente. Parabéns por mais esta. Abraço
ResponderEliminarObrigado Carlos. Pensei que te via lá, mas só vi um "perneta" ;)
EliminarAbraço!
Não consigo ir a todas ... vemo-nos por aí
EliminarAbraço
P.S. Esse Perneta teve o baptismo "abútrico" e desde domingo que anda nas nuvens ;)
"Não vos consigo descrever esta prova." MENTIRA! Nunca vi um prova tão bem relatada e com um relato tão belo com este aqui escrito! PARABÉNS!
ResponderEliminarVou dar destaque a este texto nos APLAUSOS PARA, lá no UK!
Um abraço.
Obrigado Jorge. Descrever no sentido literal. A que km virava, onde subia ou descia mais... Tinha que analisar tracks e perfis altimétricos e eu não gosto. Gosto mesmo é de desfrutar da montanha. Obrigado pelo destaque, fico lisonjeado pela deferência.
EliminarGrande abraço!
Tu descreveste a prova no sentido poético da mesma! Isso é muito mais interessante e bonito que saber a km se virava subia ou descia! Para isso vê-se tracks e perfis altimétricos com tu dizes. Agora descrever sensações como tu fazes é arte! Grande abraço.
EliminarNão fica na memória mas fica na pele, a lama. Parabéns pela brilhante descrição.
ResponderEliminarVerdade! Foi um spa de lama, no final.
EliminarObrigado!