Já faço "Caminhos" desde 2013.
Quando saí para o primeiro fomos logo avisados pelo mais experiente "Caminheiro" do grupo de que, depois de fazer um "caminho", não há quem não queira voltar.
Esse primeiro, bem como o segundo, foi o Caminho Central Português, caminho mais utilizado por cá, passa por Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tuy, Pontevedra, Redondela, até "entroncar com todos os que existem, no seu "fim", Santiago de Compostela. Há um ano fiz o Português da Costa, hoje em crescimento dado que utiliza toda a recente estrutura construída à beira mar entre Matosinhos e a Póvoa de Varzim (e que "esvaziou" o original, por Santiago de Custóias), fazendo deste o mais escolhido por quem nos visita com este propósito e que desfruta assim da agradável temperatura das praias do norte. Confesso que foi um dos que mais gostei de fazer, pela envolvente natural - varia entre as bucólicas zonas de campo pouco distantes do mar e os imensos areais minhotos -, e pela pouca afluência na chamada Costa da Morte - a Costa galega, mais de pedra do que de areia. Os momentos de introspecção são muitos, as distâncias percorridas sozinho são também imensas, o que nos faz sentir sempre mais peregrinos que meros caminhantes. Tudo isto sem nunca nos sentirmos fora do "Caminho", cruzando sempre, aqui e ali, peregrinos solitários ou em pequenos grupos. Não se vêem por aqui grupos numerosos de "peregrinação", como vulgarmente se encontram nos mais utilizados.
Em Dezembro de 2014 fui pela primeira vez fazer o Caminho de Santiago a Finisterra. Fomos, eu e a Susana - por sua proposta, fazer o que sobra depois da chegada à (demasiado) urbana Santiago e a sua movimentada e ruidosa Catedral. Surpreendidos pela extraordinária monotonia de verde, aqui e ali rasgado por rios e algumas (poucas) casas, desfrutámos de cada hora daqueles três fantásticos dias de Inverno, e do fim ideal, junto ao mar. Podem ler o relato aqui.
Este ano, num desafio surgido na noite da passada quinta feira, a meio de um churrasco de verão, convenci o Meixedo a fazer o mesmo Caminho. Aliciado pelo facto de não acabar em Santiago, mas sim em Finisterra, e adequado aos 3 dias que tinha disponíveis, aceitou de imediato. No dia seguinte lá fomos, rumo a Compostela. Noite dormida, partimos trilho fora. Não consigo descrever tudo o que por lá fomos vivenciando e experimentando, entre dias de aguaceiros de verão, daqueles de trovoada que deixam no ar o cheiro a terra quente e húmida, outro de sol chato e persistente que nos fez terminar o dia com um mergulho na praia de Muxia, e que precedeu o de clima ideal para quem quer desfrutar sem "derreter" ou tremer de frio um dia de névoa da costa noroeste da península, dos que não dão para ir à praia, mas que também não são de ficar em casa. Não há mais para dizer, seriam incompreensíveis palavras para quem nunca se fez ao "Caminho", e redundâncias para quem já teve o privilégio de os percorrer. Formidável Caminho, manancial de páginas marcadas para a vida.
De todos os que fazemos há sempre histórias para construir uma "tela" na nossa memória, e há sempre palavras, episódios ou pessoas, que nos fazem recordar aqueles dias, que os retratam na perfeição. Neste, como no primeiro, ficou-me na memória uma frase de um rapaz - francês, a julgar pelo sotaque -, 35, não mais de 40 anos, tez morena, cabelo a roçar o louro por baixo do pó que o cobria (ao cabelo e às roupas - escuras, clareadas pela poeira dos dias). Desvendou-nos com alegria no olhar o significado da frase que ilustra uma pequena "loja" (bar?) na rua principal de Finisterra, quase a chegar à cidade velha. "Sabes porque é que o verdadeiro Caminho começa no fim?" (em inglês), num tom moderadamente elevado para fazer notar a pertinência da pergunta; a resposta veio com a mesma rapidez, mas num tom já mais atenuado por já ter cativado a nossa atenção: "porque tens sempre vontade de regressar, como temos sempre vontade de buscar o sol, na vida e na natureza". Não falou mais. O João retomou a marcha com um "vamos ao km 0 e já voltamos", eu segui-o. Não voltamos porque tivemos de apanhar um autocarro, o último que nos dava ainda uma esperança ténue de chegar ao Porto no mesmo dia, necessidade imposta por obrigações profissionais. Podemos calcorrear km, caminhos múltiplos, trajetos sem fim. Nunca se sabe o que começa ou acaba, mesmo que nos pareça o início, o epílogo ou o princípio do fim. O(s) caminho(s) que fazemos são sempre mais do que aquilo que (nos) parecem. O Caminho, como explicava o eloquente "francês"(?), é uma espiral de ida e volta, é um ciclo sem fim, com aparentes pontos extremos.
Fica mais uma excelente experiência, ficam as memórias, ficam as vivências, ficam os laços que sempre se consolidam nestes dias de mochila às costas em que nos parece que viveríamos melhor com muito menos do que achamos precisar. Nada é o que parece ser, e tudo pode ser aquilo que nos parece.
Sigamos (n)o Caminho, vivendo o melhor que pudermos e soubermos.
Quando saí para o primeiro fomos logo avisados pelo mais experiente "Caminheiro" do grupo de que, depois de fazer um "caminho", não há quem não queira voltar.
Esse primeiro, bem como o segundo, foi o Caminho Central Português, caminho mais utilizado por cá, passa por Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tuy, Pontevedra, Redondela, até "entroncar com todos os que existem, no seu "fim", Santiago de Compostela. Há um ano fiz o Português da Costa, hoje em crescimento dado que utiliza toda a recente estrutura construída à beira mar entre Matosinhos e a Póvoa de Varzim (e que "esvaziou" o original, por Santiago de Custóias), fazendo deste o mais escolhido por quem nos visita com este propósito e que desfruta assim da agradável temperatura das praias do norte. Confesso que foi um dos que mais gostei de fazer, pela envolvente natural - varia entre as bucólicas zonas de campo pouco distantes do mar e os imensos areais minhotos -, e pela pouca afluência na chamada Costa da Morte - a Costa galega, mais de pedra do que de areia. Os momentos de introspecção são muitos, as distâncias percorridas sozinho são também imensas, o que nos faz sentir sempre mais peregrinos que meros caminhantes. Tudo isto sem nunca nos sentirmos fora do "Caminho", cruzando sempre, aqui e ali, peregrinos solitários ou em pequenos grupos. Não se vêem por aqui grupos numerosos de "peregrinação", como vulgarmente se encontram nos mais utilizados.
Em Dezembro de 2014 fui pela primeira vez fazer o Caminho de Santiago a Finisterra. Fomos, eu e a Susana - por sua proposta, fazer o que sobra depois da chegada à (demasiado) urbana Santiago e a sua movimentada e ruidosa Catedral. Surpreendidos pela extraordinária monotonia de verde, aqui e ali rasgado por rios e algumas (poucas) casas, desfrutámos de cada hora daqueles três fantásticos dias de Inverno, e do fim ideal, junto ao mar. Podem ler o relato aqui.
Este ano, num desafio surgido na noite da passada quinta feira, a meio de um churrasco de verão, convenci o Meixedo a fazer o mesmo Caminho. Aliciado pelo facto de não acabar em Santiago, mas sim em Finisterra, e adequado aos 3 dias que tinha disponíveis, aceitou de imediato. No dia seguinte lá fomos, rumo a Compostela. Noite dormida, partimos trilho fora. Não consigo descrever tudo o que por lá fomos vivenciando e experimentando, entre dias de aguaceiros de verão, daqueles de trovoada que deixam no ar o cheiro a terra quente e húmida, outro de sol chato e persistente que nos fez terminar o dia com um mergulho na praia de Muxia, e que precedeu o de clima ideal para quem quer desfrutar sem "derreter" ou tremer de frio um dia de névoa da costa noroeste da península, dos que não dão para ir à praia, mas que também não são de ficar em casa. Não há mais para dizer, seriam incompreensíveis palavras para quem nunca se fez ao "Caminho", e redundâncias para quem já teve o privilégio de os percorrer. Formidável Caminho, manancial de páginas marcadas para a vida.
De todos os que fazemos há sempre histórias para construir uma "tela" na nossa memória, e há sempre palavras, episódios ou pessoas, que nos fazem recordar aqueles dias, que os retratam na perfeição. Neste, como no primeiro, ficou-me na memória uma frase de um rapaz - francês, a julgar pelo sotaque -, 35, não mais de 40 anos, tez morena, cabelo a roçar o louro por baixo do pó que o cobria (ao cabelo e às roupas - escuras, clareadas pela poeira dos dias). Desvendou-nos com alegria no olhar o significado da frase que ilustra uma pequena "loja" (bar?) na rua principal de Finisterra, quase a chegar à cidade velha. "Sabes porque é que o verdadeiro Caminho começa no fim?" (em inglês), num tom moderadamente elevado para fazer notar a pertinência da pergunta; a resposta veio com a mesma rapidez, mas num tom já mais atenuado por já ter cativado a nossa atenção: "porque tens sempre vontade de regressar, como temos sempre vontade de buscar o sol, na vida e na natureza". Não falou mais. O João retomou a marcha com um "vamos ao km 0 e já voltamos", eu segui-o. Não voltamos porque tivemos de apanhar um autocarro, o último que nos dava ainda uma esperança ténue de chegar ao Porto no mesmo dia, necessidade imposta por obrigações profissionais. Podemos calcorrear km, caminhos múltiplos, trajetos sem fim. Nunca se sabe o que começa ou acaba, mesmo que nos pareça o início, o epílogo ou o princípio do fim. O(s) caminho(s) que fazemos são sempre mais do que aquilo que (nos) parecem. O Caminho, como explicava o eloquente "francês"(?), é uma espiral de ida e volta, é um ciclo sem fim, com aparentes pontos extremos.
Fica mais uma excelente experiência, ficam as memórias, ficam as vivências, ficam os laços que sempre se consolidam nestes dias de mochila às costas em que nos parece que viveríamos melhor com muito menos do que achamos precisar. Nada é o que parece ser, e tudo pode ser aquilo que nos parece.
Sigamos (n)o Caminho, vivendo o melhor que pudermos e soubermos.
Boas Rui!
ResponderEliminarLeio os teus textos sempre com bastante gosto e este, por se tratar do "Caminho", toca-me ainda mais.
Nunca fiz o Caminho da Costa e também nunca fiz Santiago-Finisterra. Duas boas razões para me fazer ao "Caminho".
Um abraço e obrigado pelo teus relatos.
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