Este texto, necessariamente longo, impõe-se por uma série de acontecimentos, explicados parcialmente na sua parte final, pelo que deve ser lido até ao fim, ou começar por aí.
Em 2011, depois de fazer alguns dos melhores resultados de portugueses nos principais eventos internacionais de trail, Carlos Sá, desafia algumas pessoas que como ele eram apaixonadas pela modalidade, a criarem uma Associação que pudesse agregar organizadores, a fim de uniformizar regulamentos, organizar competições nacionais e consequente seleção nacional para que Portugal se fizesse representar em Campeonatos do Mundo. O Trail começava então a constituir-se numa associação de organizadores, atletas e equipas (muitas delas movimentos informais).
Em 2015, 4 anos depois de 12 amigos fundarem a ATRP, e 1 depois de admitido o Trail na Federação Portuguesa de Atletismo e com o apoio desta, pela primeira vez uma seleção nacional apresenta-se na partida de um Campeonato do Mundo da especialidade.
O caminho internacional, impulsionado pela iTRA e pela estrutura de competição à volta do UTMB e restante World Tour, faz-se com o mesmo plano: Entrar na Associação Internacional de Atletismo, para que se pudesse dar às então designadas “corridas na natureza e areia” o enquadramento naquela que é a maior organização mundial de países e territórios, e valorizar a disciplina. Seria o passo necessário para o reconhecimento da dinâmica à volta de um circuito que liderava as tendências criadas à sua volta. As distâncias usadas nestes eventos passaram a ser padrão para quase todas as grandes provas mundiais, criando competição em distâncias curtas, já que, até aí, o Trail estava ligado ao Ultramaratonismo, tendo a Associação internacional que o regula, organizado os Campeonatos do Mundo de Trail de 2007 a 2015.
Esta coincidência feliz e única de Portugal estar na génese de um movimento de uma comunidade internacional, constituída por organizadores e praticantes, que se junta e organiza, fez com que o nosso País tivesse sido o único a quem foram atribuídos 2 Campeonatos do Mundo de Trail, em 2 eventos superiormente preparados, no Gerês, pelo Carlos Sá, e em Miranda do Corvo, pelos Abutres. Esta conquista ímpar só acontece pelo apoio inequívoco da FPA e da presença determinante do fundador da ATRP, José Carlos Santos, na fundação e Direção da iTRA, organismo que, desde 2015, é parceiro técnico da World Athletics, tendo a responsabilidade de organizar e supervisionar Campeonatos continentais e Mundiais de Trail, estes junto com a especialidade de Montanha, dirigida pela WMRA (World Mountain Running Association) e a IAU (International Association of Ultrarunners). Parece um caminho complicado, mas foi a forma de a base, representada por um organismo que nasceu no seu seio, se fazer ouvir nos órgãos de decisão, a fim de organizar competições e promover a prática de Trail Running. O enquadramento de todos estes organismos na World Athletics é hoje uma realidade e a padronização de competições impulsiona o seu crescimento.
Portugal participou ativamente neste processo, antecipando-o internamente. A FPA apoiou-o, os seus associados aceitaram-no, e a ATRP tem nos últimos anos feito um esforço de estabelecer parcerias com todas as Associações Distritais e de classe, para que a comunidade possa identificar um padrão de organização, seja das provas de atribuição de títulos nacionais ou regionais, seja das provas que integram os múltiplos circuitos que acontecem um pouco por todo o País. As competições Distritais e Regionais apuram atletas para a disputa de títulos nacionais, agora já com atribuição de prémios monetários naquele que é o mais disputado, o de Trail. Serão este ano atribuídos 23.000€ de prémios, englobando todos os escalões, o que valoriza também o atletismo veterano.
Desde 2016, quando assumi um lugar que não desejava, que tenho tido um sem número de entraves na gestão da ATRP, sejam eles de estrutura, de organização, financeiros ou de enquadramento na organização federativa. Entramos com um Orçamento que rondava os 40.000€, (sendo 20.000 de um patrocínio que cerceava a possibilidade de as provas serem autónomas) e um circuito com 20 provas. A juntar a esta exígua atividade, a ATRP tinha poucos associados, por nesse 2º ano o seguro desportivo ter aumentado 100%, para mais de 40€, e pelas polémicas geradas na adequação do calendário de 2016, ano de Mundial no Gerês.
Fizemos formação da equipa de arbitragem, alteramos regulamentos e circuitos, transpusemos para as competições nacionais todas as distâncias previstas na Regra que define a disciplina, e que constituem os eventos em Portugal, criando os Circuitos de Sprint, Trail, Ultra, Endurance e XL, somando a estes uma forma de qualificação para a final da Taça de Portugal de Trail, que proporciona aos atletas competição perto das suas áreas de residência, engrossando também os atletas filiados e os pelotões de Campeonatos Distritais e Regionais. Criamos uma plataforma onde está baseada toda a relação do associado com a Associação, demos condições à seleção nacional como nenhum outro País o faz, com estágios, apoio técnico e médico, e sempre com o máximo de atletas possíveis a integrar a equipa nacional. No último mundial, disponibilizamos uma casa na Serra da Estrela durante 1 mês, para que, sempre que possível, os atletas ali se pudessem deslocar e treinar. Apoiámos monetária e logisticamente os atletas nas deslocações às finais de Taça de Portugal e ao Campeonato Nacional Ultra realizado na Madeira. Temos contas positivas, apresentadas todos os anos em Assembleias Gerais pouco participadas.
A ATRP é hoje, graças aos que nela trabalharam e à comunidade que a constitui, um exemplo para qualquer organização desportiva, nacional e internacional. E é-o, sem nunca ter tido um único membro remunerado ou sequer um funcionário a quem pedir trabalho. É-o pelo trabalho voluntário de uma equipa que me acompanha e que dá tudo sem nada pedir em troca. Mantivemos a quota anual em 10€, para clubes, organizadores e individuais, mesmo tendo perdido os patrocinadores e multiplicado o orçamento, subindo--o para cerca de 200.000€. Conseguimos um dos melhores seguros desportivos, mantendo o seu preço há alguns anos nos 22€, com um apoio ímpar em caso de acidentes em treino ou competição. Continuamos a não ter um único profissional.
Este ano, como há 4, temos eleições.
Em dezembro último, reuni em videoconferência, com cerca de 150 organizadores, explicando os passos que seriam dados relativamente a calendários nacionais, impostos por haver mudança na tutela (FPA), e anunciei a realização de uma AG Extraordinária para revisão de Estatutos, para que se pudesse modernizar a gestão da Associação e se pudesse introduzir o voto eletrónico nos Estatutos. Fizemos uma sessão de esclarecimentos uns dias depois, também em videoconferência, acolhendo algumas sugestões e correções do documento que estava disponível para consulta desde Abril de 2023.
No dia 4 de Janeiro, em Miranda do Corvo, apesar de a proposta da Direção ter reunido 42 dos 73 votos presentes, não conseguiu alcançar uma maioria de 3 / 4, inviabilizando a sua implementação.
Quem votou contra, apresentou várias declarações no início da AG pedindo a sua não realização e o avanço imediato para eleições. Inviabilizaram o voto eletrónico, mas clamaram nos dias seguintes, cinicamente, que a responsabilidade era da teimosia desta direção por não ter admitido todas propostas de alteração que apresentaram. Diga-se que de todas, só uma não foi mudada, a da orgânica de funcionamento da Direção.
Mas o argumento e o guião estavam traçados e queriam ir a eleições. Marcaram-se eleições.
Numa corrida contra o tempo, os membros da oposição conseguiram reunir 8 nomes que não incluíssem nenhum dos dois instigadores principais destes movimentos, a que um chama num grupo de Whatsapp, “Quilómetro Vertical”, e o outro traveste na forma de podcast. Apesar disso, numa publicação na página pessoal do principal dinamizador da lista, há um agradecimento especial para o “tutor” do “Km Vertical”, pela ajuda na produção da dita lista, apesar de aquele dizer, em mensagens privadas, que a lista “é só velhos” que “arranjaram” para trabalhar, e que “saltou fora”, por não ter tempo. Apesar de tudo, tem o agradecimento do candidato à AG. Fora, vai dizendo que vai ser ele o “elo de ligação à FPA” e vai distribuindo confiança, seja ao selecionador atual, seja fazendo convites para futuros selecionadores, árbitros ou atletas selecionáveis. Muitos colocam-se de fora, não se querendo ver misturados em tal cozinhado, mas outros há, que por desconhecerem estas realidades, caem na conversa, sendo-lhes depois mais difícil voltar atrás.
Numa mão cheia de nada, apresentam uma lista sem qualquer projeto alternativo para a Associação, tendo inclusive sugerido a um membro da minha lista que, e cito, “até fazíamos uma junção das listas, se o Rui Pinho não estivesse aí”. É um “Movimento contra o Pinho” e não um pelo Trail, como lhe chamaram. Uma lista composta por alguns organizadores ou representantes deles, um deles responsável pela organização de um circuito distrital onde já determinou a sua própria prova como final. Um outro, que propunha organização de circuitos da ATRP onde incluía a sua prova como séries 150, sem admitir discussão relativamente à sua proposta. Outros há que são pessoas sérias, válidas e profissionais, e que poderiam liderar um qualquer projeto. Lá está, se existisse e fosse verdadeira alternativa ao caminho feito pelo Trail nacional.
E assim se justifica que sejam contra alguém, que tenham uma campanha e discurso “Ad hominem”, contra alguém que não cede a pressões, venham elas de onde vierem. A alguém que personifica uma gestão de uma equipa que já entregou a organização de provas de decisão de títulos nacionais um pouco por todo o País, incluindo a representados na dita lista, em processos de decisão em que sempre colocamos o interesse de todos acima do de alguns.
Há 4 anos, num esforço logístico que me levou a fazer num dia mais de 1400 km, colocaram-se mesas em Faro, Lisboa e Porto, para além da da AG, em Miranda do Corvo. O critério foi simples, o de as ter nas 3 principais cidades do País, para além da sede, em Miranda do Corvo. Este ano, analisando os Distritos e Concelhos com mais associados com quota em dia, foram as mesas colocadas em lugares estrategicamente acessíveis em curtas viagens, a fim de promover a participação dos associados. Lisboa, Porto, Coimbra, Santarém, Leiria, Aveiro e Braga, são os Distritos com maior representatividade na ATRP. As mesas foram colocadas a distâncias quase equitativas entre todos estes distritos e outros que lhes são próximos, como Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Setúbal, e igualmente representativos (9º, 10º e 11º). Em 18 Distritos, asseguramos assim que haja a possibilidade de votar em locais próximos de 10.
O ónus desta limitação não pode ser imputado a estes órgãos sociais, que tudo fizeram para que houvesse votação eletrónica. Podiam, isso sim, ter reclamado da falta de rigor democrático, se, a exemplo do que pretendem, tivéssemos colocado apenas uma mesa de voto, marcando a AG para um local que nos fosse mais favorável, em vez de Lisboa, Distrito com maior número de associados. Assim, terão de mostrar aos associados o que os leva a, legitimamente, se apresentarem ao seu escrutínio, sem subterfúgios legais que os impeçam de participar, já que não quiseram proporcionar-lhes a comodidade do voto à distância.
O meu histórico relativamente ao trail e à ATRP é público, e muito dele consta neste blogue, por isso a publicação deste texto aqui.
Leiam os projetos (o nosso está aqui), analisem o trabalho feito e votem. Será a melhor forma de mostrar a quem quer só uma mesa e que quer manter a Associação fechada à arbitrariedade das poucas dezenas que se podem deslocar a Assembleias Gerais e determinar assim o futuro de uns largos milhares, que esta é uma comunidade constituída por uma maioria silenciosa e não deve ser gerida pela batuta de uma minoria ruidosa.
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