domingo, setembro 12, 2010

Nortada

 

Acho que nunca escrevi aqui sobre futebol. Sabem os que me conhecem melhor que, enquanto adepto benfiquista, abstenho-me de fazer comentários jocosos ou depreciativos em relação aos outros clubes do panorama desportivo nacional.

Enquanto miúdo, filho de uma benfiquista ferrenha e de um ex-portista convertido à força (o poder feminino não tem fronteiras), tornei-me alvo de vários tios que, com vontade de por uma lança em território inimigo, me levavam ao Estádio do Porto, equipado a rigor (na altura havia o hábito da bandeira, as camisolas são mais modernas), a ver se me encaminhavam para o rol de adeptos do clube azul e branco.

O meu Pai, como gostava de futebol e não querendo contrariar a esposa, filiou-se num outro histórico do Porto, o Salgueiros. Por influência de um amigo da família que era dirigente do velhinho e simpático clube, que na altura militava nas divisões secundárias, tendo mesmo, por um ano, jogado na 3ª divisão nacional, seguia a equipa de perto, estando presente em quase todos os jogos.

Os meus irmãos mais velhos jogavam no Salgueiros (Basquetebol 1º e futebol mais tarde), eram dois deles benfiquistas e um sportinguista, e eu, não querendo, por estratégia, contraria-los e por ambicionar jogar também no salgueiral, rendi-me à Alma salgueirista. Lembro-me que a minha prenda do 6º aniversário foi o cartão de sócio do Salgueiros, do qual ainda sou associado.

Sei bem o que aquele clube sofreu no tempo da ditadura, depois de apoiar o candidato Humberto Delgado ao ceder as instalações desportivas para um comício, quando não houve mais quem se disponibilizasse para tamanha afronta ao regime de então.

Com a ajuda e trabalho pós-laboral(!) dos sócios e amigos do clube, construiu-se na década de 70 uma bancada nova. Cada um trazia o que podia, desde sacos de cimento até ao tijolo. Pedra a pedra cresceu um sonho.

No norte estamos todos habituados a sofrer para conseguir seja o que for. Não faltarão exemplos por este País fora de casos parecidos, mas, como os tripeiros, é difícil. De ser e de explicar.

Já quando nos limitámos às tripas dos porcos para dar a carne às tropas exaustas e com fome, mostramos ao País que poderia contar com o Porto para o ajudar a crescer e a ser um País mais justo.

Nunca por cá se é mal recebido.

Tudo isto para vos dizer que, embora não sendo portista, tenho a perfeita consciência que o que para cá vem, sai daqui valorizado. Porque no Porto, seja no futebol seja noutro sector qualquer da sociedade, as pessoas contagiam-se e esforçam-se por fazer mais e melhor com muito menos que os outros.

Esta semana, um ex jogador portista, dizia que o Benfica era uma brincadeira e o Porto uma família. Não sendo o sujeito uma grande exemplo, diga-se que, por cá, as pessoas superam-se e transformam-se para melhor.

Na política é igual.

Sempre que um bom quadro vai para Lisboa, estraga-se. Veja-se o Ministro Teixeira dos Santos, ou Augusto Santos Silva. Dão, enquanto governantes, cobertura ao saque às regiões mais desfavorecidas, sendo a principal, por ser uma das que mais contribui e que menos recebe, a Região Norte.

O desperdício continua em Lisboa. É um autêntico triângulo das bermudas dos recursos do País. Veja-se a quantidade de institutos públicos, de chefias militares e civis, de escritórios vários, de direcções gerais, de secretarias de estado, ministérios e tudo o que os faz, ou melhor, que não os faz, mexer. Recursos que se perdem na burocrata e burguesa Lisboa, com o seu Terreiro do Paço como expoente máximo do desperdício Luso.

E diz o Presidente da Republica que Portugal tem de “favorecer o aumento da produção de bens e serviços transaccionáveis, em detrimento daqueles que não são transaccionados nos mercados internacionais”.

Ao contrário do que defendem, sacam recursos das regiões mais desprotegidas para alimentar a obesa máquina estatal e os Escritórios de Advogados e de Estudos que a ela se colam, quais carraças.

Resta-nos a esperança de um dia algum queira ficar por cá numa espécie de e-governo, e, na ânsia de melhorar o País, se lembre de regionalizar. Porque esta região com autonomia, poderia transformar-se num motor catalisador do resto da Nação.

Agora, continuarem a comer a carne e a deixarem-nos as tripas é que não.

Pode ser que o povo acorde…

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