Como alguns de vocês já sabem, vou em breve aventurar-me no Caminho português de Santiago.
Será uma aventura com mais 4 amigos, em que vamos fazer 5 maratonas em 5 dias, de 24 a 28 de Abril. Chamamos-lhe “Os 5 no caminho”.
Escrevo este texto para que compreendam a enorme honra que foi para mim receber tão grande distinção, entre tantos que podiam ser escolhidos, e para poder partilhar do porquê, embora sendo imensa a vontade, infelizmente irrealizável, de vos poder levar a todos connosco.
A ideia surgiu já há mais de um ano, no seguimento do desejo manifestado por alguns, em fazer o caminho. Logo na altura aflorámos a possibilidade de o fazermos em conjunto, com familiares e amigos, no fundo, a quem quisesse juntar-se à aventura, a caminhar, de bicicleta ou a correr. Rapidamente chegámos à conclusão que seria inviável juntar grupos tão dispares e com ritmos tão distintos, e que a logística inerente à realização de tal empreitada seria muito complicada de gerir. Assim, e por decisão comum dos intervenientes, ficou decidido restringir o grupo aos 5 que vamos correr e a um elemento do apoio logístico. É mais fácil de coadunar vontades e mais fácil o acesso aos albergues dos peregrinos, que como sabem, têm lotação limitada, bem como mais simples o apoio aos atletas.
Foi para mim uma honra enorme, a irrecusável proposta para acompanhar o Luís Pires, Carlos Natividade, João Paulo Meixedo e Vítor Dias em tão nobre e marcante epopeia.
Fui escuteiro e militar, ou melhor, sou as duas coisas, porque, uma vez feita a promessa de escuteiro, torna-se eterna, e porque quando passei à disponibilidade na Força Aérea, parece que ingressei num contingente de reserva até aos 45 anos e tenho alguma experiência em coisas que custam a fazer, mas que nos dão um prazer enorme em conseguir realizar. Tenho um historial de conquistas individuais que seriam inalcançáveis sem o apoio de muitos, mas sei que fazer “o caminho” sozinho seria praticamente impossível. Era um objectivo de há muito, mas queria fazê.lo com um grupo que me proporcionasse um sentimento de partilha muito forte. “O Caminho”, tal como a nossa caminhada na vida, apesar de poder ser penoso, ser propício a percalços, deve ser um caminho de partilha, introspecção, desfruto da natureza envolvente, uma espécie de resumo espiritual em pouco mais de 240 km. Quase todos os que o fazem, fazem-no com uma intenção forte, como os que peregrinam para outros destinos. Será seguramente uma das mais ancestrais peregrinações, oriunda de vários pontos do velho Continente, que desperta em crentes e não crentes, uma atracção que não se explica apenas na fé, mas numa vontade de conseguir chegar onde a humildade tem significado. Fazer tamanho caminho, se não for imbuído de um espírito de partilha, de resumo à condição de errante neste mundo cada vez mais orgulhoso e egoísta, perde significado. Ir a um local com tamanho significado espiritual, com estes quatro inspiradores amigos, é de uma honra e prazer que não vos posso, ou não sou capaz de descrever.
Senão vejam:
Luís Pires - 56 anos, tem quase 100 (!) maratonas, número que deve atingir este ano, tendo começado a correr aos 46.
Conheço o Luís desde que me inscrevi nos Porto Runners, há cerca de 3 anos. Já “fiz” com ele mais de uma dezena de maratonas e ultra maratonas. Por muito mau tempo que alguém faça, é o primeiro a valorizar o esforço, o primeiro a disponibilizar-se para ajudar alguém a fazer melhoria de tempos, a apadrinhar estreias, ou a incentivar para novos desafios. Para o Luís não há impossíveis.
Carlos Natividade – O Carlos quase dispensa apresentações. É um exemplar atleta e uma pessoa inspiradora. Há muitos anos neste mundo das corridas, tem maratonas feitas no tempo em que os que as corriam, não chegavam à meia centena. Tem um historial longo de corridas embrionárias das (imensas) actuais provas de trail. É contemporâneo do malogrado Sálvio Nora, pioneiro, com o José Moutinho, das provas de resistência em montanha.
O Carlos tem já 8 “Caminhos” realizados, ora de bicicleta, ora a pé, tanto no português como no francês e inglês. É escuteiro, mostra-o permanentemente num espírito de constante partilha e entreajuda. Faz a simbiose perfeita com a sua esposa, a quem carinhosamente trata por “Náná” (Fernanda) e que vai fazer o trabalho herculeano de apoio logístico.
João Meixedo – Como ele costuma dizer, um “aprendiz de feiticeiro” nestas coisas das corridas, mas que é já um experimentado maratonista. Com participações em Boston, Paris ou Adelaide, leva as sapatilhas para os sítios mais recônditos para onde vá. Já fez, sozinho, a travessia da Ilha de S Jorge, a meio de umas férias em família. É um apaixonado das corridas. Meu companheiro na mais apaixonante prova que fiz, a Ultra da Freita do ano passado, e que me acompanhou em muitas outras provas. Foi o homem do abraço em Sevilha. E aquele abraço significou muito, tanto quanto ele sabia que significava aquele tempo, apesar de pouco importar.
Ateu, tem mais espiritualidade do que muitos apaixonados crentes. A racionalidade que emprega em tudo o que projecta e faz, é quase sempre traída pelo enorme coração e espírito de entreajuda que revela em cada atitude. Sempre disponível para todos, conseguindo ter, entre os inúmeros compromissos, o tempo que lhe é indispensável para a amizade. Incrível como consegue ter mais do que muitos apregoam, sem ter a necessidade de o mostrar. É a prova que a simplicidade só é possível nos que fazem simples, aquilo que complicadamente conseguem.
Vítor Dias – Padrinho de muitos nas corridas, também é o meu. É o principal responsável pelo que eu consegui fazer nestes últimos anos. Foi no seu site que me inspirei e suportei para dar o “passo seguinte” na corrida. Já sei que há muitos sites de corrida, mas só neste é que me foram incentivando e apoiando. O Vítor, desde o primeiro contacto disponibilizou-se para me acompanhar em treinos, prontificou-se a ajudar no planeamento da minha primeira maratona, levou-me para os Porto Runners (onde conheci tantos outros enormes atletas, enquanto seres humanos), fez questão de me acompanhar em muitos treinos e faz questão de o continuar a fazer. É um dinâmico companheiro, sempre disposto a apoiar o atleta de pelotão. Não há outra homenagem que seja mais justa fazer-lhe, senão dar-lhe este lugar de padrinho. Foi ele o responsável pelo meu salto, ao acreditar e fazer-me crer que tudo era possível com empenho e trabalho.
Como já referi, é uma honra enorme tentar acompanhar tão ilustres companheiros nesta nobre empreitada. Só espero ser digno de tamanha distinção.
Vamos então, ao “Caminho”!
Ouve lá, queres pôr-me a chorar, é?
ResponderEliminarLonge de mim...
EliminarTu choras :D
Arrepiada desde o início da crónica até ao fim :)
ResponderEliminarJá estou à espera da crónica da aventura!
Muita Sorte e ... Ao caminho! :)
Ao caminho, Patrícia. É mesmo esse o lema e a vontade.
EliminarObrigado! Beijinho ;)
Só posso desejar uma excelente "viagem" para todos!
ResponderEliminarTambém eu fui companheiro do Saudoso Sálvio Nora em provas de montanha / trail a partir do meio da década de noventa (quanto praticamente tudo começou em Portugal no tocante a essa vertente da corrida).
Não posso deixar de recordar aqui provas como a Transestrela ou o Crosse da Serra do Açor e o privilegio que foi conviver com homens tão especiais como o Sálvio Nora ou o Grão Mestre José Moutinho.
Obrigado Jorge. Vocês foram realmente os verdadeiros percursores das corridas de aventura. Quem se queixa agora da falta de apoio nas provas, devia ver como eram na altura. E sem equipamentos "xpto", eram realmente uns heróis.
EliminarAbraço!
É bom saber que há gente mais "maluca" do que eu pelo Caminho de Santiago! :)
ResponderEliminarBom Caminho!
Pois, a maluqueira parece que é contagiante ;)
EliminarObrigado!
Falaram em "malucos", eis-me respondendo à chamada: Bo viaxe!
EliminarGrande iniciativa, grande grupo...que tudo "corra" pelo melhor.
ResponderEliminarUm abraço a todos!!
Obrigado, Carlos!
EliminarBoa sorte para a tua próxima maratona.
Abraço!
Caramba Rui...sem palavras...e com lagrima no canto do olho, bem como um suor frio de emocao... Apenas digo: Quem me era estar convosco antes da prova para vos desejar a maior sorte do mundo nessa jornada tao fantastica! (Desculpa nao ter acentos nem cedilhas, mas nao constam neste teclado). Beijinhos a todos com muitas saudades!
ResponderEliminarMartinha...
EliminarAs saudades são mútuas. Todos aguardamos pelo teu regresso para mais uns treinos.
Espero que esteja tudo bem convosco.
Beijo meu e de todos!
Estou sem palavras.
ResponderEliminarApenas digo que será com toda a certeza uma jornada inesquecível.
Tudo faremos para informar quem nos quer seguir e agradecer a quem nos está a apoiar.
Vitor Dias
Vai ser, Vítor, sem dúvida.
EliminarTodos contam sempre com o teu estimável trabalho, por carolice, mas com rigor, de informar o pelotão, das jornadas do pelotão.
Abraço!
Olá Rui e aos demais aventureiros! Sem dúvida uma grande aventura, digna só para alguns. Ainda nos vamos cruzar por essas banda, tenho marcada a mesma aventura, mas de bicicleta, de 25 a 28 de Abril, posso vos dar algum apoio que bem vão precisar. Bom Caminho. bjs
ResponderEliminarCinco homens, Cinco maratonas em cinco dias é obra! Sei o que isso é, porque sou do tempo da nocturna da serra da Malcata. E também consigo fazer essas distâncias a caminhar de mochila às costas, aliás, fiz algumas etapas no caminho francês de 50 Kms, incluindo as últimas três que fiz de O Cebreiro a Ferreiros (53Km) Ferreiros a Melide (48Km) e Melide a Santiago (51km).
ResponderEliminarMas a correr é diferente e muito, mas muito mais difícil.E a recuperação para os dias seguintes uma tarefa quase impossível. É preciso um espírito de sacrifício fora de série. Mas com uma vontade de ferro, tudo se consegue e vocês vão conseguir e vão merecer a admiração de todos nós.
Bom caminho
Agostinho Leal
Boa sorte! Abraço
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