Número redondo atingido hoje. A etapa ligou Redondela a Caldas de Reis, com passagem por Pontevedra. 43 km que se revelaram um verdadeiro "parte-pernas", e que me levam a pensar que a Serra da Labruja, entre Ponte de Lima e Rubiães, é uma "brincadeira de meninos".
Lindas paisagens, muito verde, num serpenteado montanhoso em terreno de pedra, calçada romana e pouca estrada, apenas com passagens pelas localidades atravessadas, quase todas muito bem conservadas e muito ligadas ao Caminho, como é normal.
O dia foi frio e ventoso, o que dificultou ainda mais a nossa progressão e disposição. Foi um "bate dente".
O Caminho é uma via única, mas dá a possibilidade ao peregrino de o fazer como bem entender. Há os (muitos) que fazem de bicicleta, em grandes ou pequenos grupos, mas há muitos também de caminheiros. Estes são os originais, os que fazem o "Caminho" como ele deve ser feito, em convívio com a lindíssima envolvente natural, e principalmente, enfrentando quando decide enfrentar qualquer dificuldade que se lhe depara, seja uma subida íngreme, um aguaceiro, uma qualquer lesão, fraqueza ou mesmo a vontade de esperar. É um caminho de paciência, e é uma dinâmica muito pessoal, como a vida.
Foi escolha nossa fazê-lo assim: Os 5 e a correr. O nosso objectivo, chegar à Catedral, está a pouco mais de 40 km, e tem já uma enorme carga de kms. Mas o que levámos do Caminho, é uma forma mais solidária de encarar as dificuldades, uma visão sobre o esforço das pessoas nas suas mais pequenas coisas, a que às vezes não tributamos o verdadeiro valor, uma linha de tinta sobre o livro branco do "outro". É que às vezes, é muito difícil explicar as diferenças, mas mais difícil ainda é encontrarmos semelhanças entre nós. E no nosso âmago, no nosso caminho, em última instância buscámos num imaginário diferente aquilo que muitas vezes está em nós próprios, e o Caminho leva-nos a descobrir respostas em nós.
Quando completámos o km 200 deste nosso caminho, juntámo-nos num momento simbólico. Demos as mãos e sentimo-nos um só. Descobrimos nestes 4 dias já várias particularidades de uns e outros, mas acima de tudo, confirmamos o que nos une: O prazer de correr, o prazer de partilharmos estes momentos, que mais não são do que realizações pessoais, que nunca alcançaríamos sem o apoio dos que nos acompanham, junto ou à distância.
Boa disposição constante, liberdade para irmos fazendo a progressão à maneira de cada um, mas acima de tudo temos sido um grupo que, na boa tradição do Caminho, tem uma peculiar forma de o abordar. Correndo. E isso, meus amigos, é das melhores formas que conheci de nos conhecermos a nós próprios e de entender o próximo.
Amanhã faremos a última etapa, juntos, como até aqui, com o apoio da Naná que se revela um anjo no Caminho, e com a sensação única de conseguir um feito único para cada um de nós.
Ao Caminho!
Parabéns, Rui, pela crónica. Gostei !!!
ResponderEliminarBeijinhos