Foi aqui que ele nasceu, num aparente longínquo Abril. Vou reler o texto que escrevi então, e reparo que passou apenas pouco mais de um ano.
Longe vão os dias em que correr escadas acima, rampas e ruelas escuras abaixo, nas zonas históricas do Porto e Gaia, era regalia de alguns, que na ânsia de treinar desníveis como os das montanhas, que tanto apreciam e onde correm quando podem, calcorreavam-nas todas, descobrindo todos os caminhos sinuosos, cinzentos, rudes e belos, já coroados como Património da Humanidade. São cada vez mais a fazê-lo. Tudo graças à iniciativa de alguém que, afectado pelo desemprego, pôs mãos à obra e não descansou enquanto não viu o sonho concretizado, com a ajuda de alguns e o apoio de outros, que superiormente reconhece.
O Urban Trail é um acontecimento único. Há imensas corridas, mas só esta consegue fazer desfilar pela cidade, um bonito carrossel de luz e gente bem disposta, que parece querer prolongar o privilégio de tomar a zona histórica de assalto, não forçando o passo para poder usufruir por mais tempo.
Como habitualmente, fiz a prova na cauda. “Varri” a primeira edição, (a pirata e a oficial), e o Jorge Azevedo e o Miguel Catarino, organizadores da prova, desafiaram-me a repetir a experiência. Desta vez levei uma bandeira no lugar da vassoura, o que não impediu que, por onde passasse, todos me apelidassem de “carro vassoura”. Foram 2h14 para fazer 12 km, mas já não me vejo a fazer esta prova num ritmo rápido. Logo depois da partida na Ribeira, e de percorrer a Ponte Luis I (tiraram-lhe o “Dom” por ele se ter baldado à inauguração), o primeiro grupo a passo, apesar de o terreno ser ainda plano, fazia-me adivinhar o que vinha. Seria um longo passeio. Ribeira de Gaia fora, com um belo espectáculo de cor do outro lado, com a multidão alinhada para a partida da caminhada, lá fomos ora a correr, ora a saudar quem nos saudava. Primeira subida, o grupo engrossa com alguns que sentem pela primeira vez a inclinação da zona ribeirinha nas pernas. “Ó Sr. faltam muitos?”. “Sou o último”. “Então força, que isto sobe muito”. Lá fomos em direcção à Taylor’s, por onde passámos entre pipas de história em forma de vinho, onde só faltou a prova de um vintage. Mais umas vielas e ruelas, passagem pelo Yeatman e chegada ao fantástico ponto de observação do Porto, a Serra do Pilar, com passagem pelos claustros do Mosteiro. Aqui, talvez devido à água bebida no abastecimento, um grupo de corredoras vai ao wc, e eu, claro, espero, enquanto o corrupio de caminheiros continua a ultrapassar-me. Caminheiros rápidos vs corredores lentos. Descida ao tabuleiro inferior da Ponte pela rua do Casino (é verdade, chama-se assim e o casino existiu mesmo, em tempos) e, já com a companhia do João Meixedo, subida das escadas do Codeçal, rumo à habitual passagem pela Muralha fernandina e descida à Sé Catedral. Tanta história tem o Porto, que passámos por muitos mais monumentos que os que aqui vou referindo, e que provavelmente passam despercebidos a tantos que por eles passam diariamente na azáfama da rotina. A nós, que fazemos destas ruelas e escadas pista de treinos, só as passagens que referi são novidade, todas as outras estão disponíveis no dia-a-dia.
Depois da Sé, seguimos rumo à Vitória, onde iniciámos o abastecimento, e que durou quase até ao Palácio.
Um serpenteado desenhado nos jardins do Palácio de Cristal, descemos à marginal, onde rumámos à meta instalada junto ao Cubo da Ribeira.
Foi este o grupo (Iolanda Barros, Ivone Ganso, Sandra Pascoal, João Meixedo e Nuno Godinho) que nos acompanhou quase toda a prova. Pouco habituados a correr, fizeram das tripas coração, e apesar da lesão num joelho da Iolanda, acabaram com brio, a primeira das, espero, muitas provas que farão a correr. Porque tudo tem um início, tudo tem uma primeira vez, e para primeira vez, um trail urbano com mais de 500 mts de desnível positivo, é obra. E sempre bem dispostos. Virtudes do desporto, apesar das dificuldades, há sempre um sorriso de satisfação.
Parabéns ao meu amigo Luís Pereira, brilhante vencedor, num tempo que, com certeza, não o deixou apreciar a paisagem. Voou literalmente.
Parabéns à organização, que resolveu com mestria o imbróglio que é o de separar a corrida da caminhada, apesar de partilharem parte do percurso, sem que deixasse de haver muito público sempre, e sem haver, aparentemente, qualquer desagrado por parte dos atletas. Foi uma festa, e as festas, no Porto, são sempre bonitas e animadas.
Venha o próximo!
obrigado Rui
ResponderEliminarcomo sempre...grande relato
Nao podiamos ter melhor "Corredor vassoura"
Pois com o sabemos os ultimos sao sempre os primeiros
Abraço
Obrigado Jorge pelo privilégio, e parabéns por fazeres parecer tão simples organizar uma prova desta dimensão.
EliminarAbraço!
Rui és grande! Não pelo tamanho :) mas pela tua amizade!
ResponderEliminarConto contigo para vassoura dos Trilhos do Paleozóico...
grande abraço
Obrigado amigo! E parabéns pela vitória. Quanto ao Paleozóico, já sabes. Podes sempre contar comigo.
EliminarMais uma prosa de altíssima qualidade a que o meu "afilhado" já nos habituou.
ResponderEliminarSó preferia não que te apelidassem de "atleta vassoura" mas sim "atleta correr por prazer" :-)
Não vejo melhor nome para aquilo que fazes.
Grande abraço e parabéns ao Luis pela vitória e ao Jorge por mais uma brilhante organização.
Vitor Dias
Obrigado "Padrinho"! Vassoura chama quem não me conhece. :-)
EliminarAbraço!
Melhor prémio do que este testo não podia haver! =)
ResponderEliminarSe todas as corridas forem como esta, estaremos no top 10 primeiros invés do top 10 últimos mas sempre com as mesma disposição eheheheh =D
Grande Abraço
Nunca desistir, Nuno. É esse o segredo. Depois, é sempre a melhorar. ;-)
EliminarAbraço!
Ps: Nuno Godinho
ResponderEliminarUm evento bem legal, amigo, parabéns a todos os participantes. Meu carinho.
ResponderEliminarTens que vir um dia ao Porto correr. Vais adorar. Obrigado pelo carinho.
EliminarBeijo ;-)