"Ler é sonhar pela mão de outrem." - Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego
Os génios da escrita dizem evidências que todos nós sentimos, concordámos e nunca fomos capazes de dizer.
Ontem, li este texto de Miguel Torga, um escritor triste e amargurado, que colocava na pena o que não era capaz de fazer ou admitir na vida. E revi-me no texto. Revi-me e revi muitos dos que gosto de ler, e muitas das leituras compreendi e senti como estados de alma que não são mais que desabafos pelo que somos incapazes de concretizar, neste mundo estereotipado e preconceituoso, onde tudo tem norma, até a felicidade.
Que tristeza isto de a gente escrever!
Secos como paus na vida, e sai-nos depois a ternura pelo bico da pena! Comigo é assim. E como ninguém me lê—ninguém dos que eu mais desejava que recebessem ternura de mim (minha Mãe, meu Pai, minha Irmã, uns pobres amigos rudes que tenho na minha terra e uns infelizes que encontro por este mundo) —, fica tudo em letra morta. Hoje todo eu fui uma sede ardente de abraçar um infeliz que calcorreava às apalpadelas as ruas escaroladas da Nazaré. Um dia como uma estrela, aquela maravilha ali para se ver, e o desgraçado cego de nascença! Mas o abraço saiu-me aqui, a tinta.
Miguel Torga, in "Diário (1938)"
Ainda estou a tentar perceber se prefiro ler e sonhar pela mão de outrém ou escrever sobre o que sonho e, quem sabe, fazer alguém sonhar. Enquanto decido, vou-me agarrando a isto: “either write something worth reading or do something worth writing”.
ResponderEliminarVale sempre a pena escrever. Só escrevemos sobre o que fazemos ou queremos fazer ;)
EliminarGrande Rui Pinho, um abraço e continua a abraçar pessoas...
ResponderEliminarAbraço, Luis! É o que nos alimenta a alma, as relações com os outros ;)
EliminarExcelente !
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