Hoje chegamos a Muxia. Muxia é passagem obrigatória para quem vai a Finisterra, onde os romanos pensavam estar o ponto mais oriental - o fim - da Europa (hoje sabemos que é o Cabo da Roca), e até onde peregrinam os caminheiros, depois de passarem por Santiago para se despojarem de roupas, calçado e selar o epílogo da viagem que replica a do Apóstolo Tiago. Não reza qualquer lenda que São Tiago (ou Jacques em francês, ou James em inglês) tenha alguma vez ido a Finisterra, mas diz que a Virgem se deslocou a Muxia num barco de pedra, para o animar na sua peregrinação. As pedras da barca teriam ali ficado e terão poderes curativos. São essas pedras, que se movem mas que ali persistem há séculos, que servem de átrio à Igreja das Barcas, ali edificada.
História e estórias à parte, a história desta etapa e dos mais de 46 km, é uma réplica do primeiro dia relativamente à paisagem, mas um retrocesso gastronómico. Hoje não tivemos quase onde comer. Depois de um início auspicioso, aos 13 km, em Oliveiroa, com um café acompanhado de "Biscoito típico", anunciava o taberneiro (afinal era só uma fatia de bolo de laranja), um desagradável - para nós - acontecimento encurtava-nos drasticamente a hora de almoço. Com 25 km corridos e um buraco no lugar do estômago, entrámos no primeiro café com aspecto disso, em Dumbria - Capital de Concelho. Cheio de gente, sentámo-nos na única mesa vaga. Tirámos as mochilas, já que prevíamos ali ficar pelo menos 1 hora, e aguardámos o camareiro. Aparece-nos um jovem com avental, mesmo com pinta daqueles novos cozinheiros saídos do "Masterchef". Imaginei logo um menu especial - umas sandes de 1 metro, ou as melhores vieiras ainda a 20 km de Muxia. Mas nada disto se confirmou. Afinal, o jovem vinha-nos convidar a sair, porque era Domingo e já passava da hora de fechar. Perguntamos onde havia outro restaurante, respondeu que nada antes de Quintáns, a 11 km. Já só saíamos dali com força bruta, não íamos fazer aqueles km todos com fome.
Depois de muitos pedidos e de explicarmos que não estávamos de bicicleta, mas a pé, lá nos deram o pão saloio que sobrara (p'raí 1/2 kg), com queijo e presunto, e um prato com pedaços de tortilha de batata que até parecia petisco Masterchef. Entre um preço envergonhado que nos fizeram e duas latas de Coca-Cola, explicaram-nos que tinham uma celebração em casa, e que aquela gente toda que enchia o café, eram família que aguardava o almoço que marcaria os 90 anos da matriarca. Quase nos fizemos convidados, mas havia caminho para fazer.
Dali a Muxia foi... Não, não foi um tiro, que este caminho não é de velocidade. Foi mais um serpenteado em passo de caracol, a poupar o esqueleto, que amanhã há mais.
De referir que o primeiro café que vimos aberto, foi a 5 km de Muxia. Íamos penar e passar fome. Assim só penámos.
Ao Caminho! Ultreya!
Hospital - pequena localidade onde se opta por ir directo a Finisterra, ou por Muxia.
Despojos de peregrinos. Juro que se tivesse uma catana para cortar aquela vegetação à volta dos pneus, teria-o levado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Diga, diga: