Agosto de 1997. Há 18 anos, ainda sem correr e sequer pensar fazê-lo, fui
convidado por um amigo a ir a um almoço convívio no final de uma prova de
corrida em montanha, onde todos se conheciam e partilhavam a paixão de correr na
natureza. Uns anos mais tarde, já corredor, "cruzei-me" com fotos dessas provas
e soube finalmente o nome da dita aventura: Transestrela, uma prova de duas
etapas num fim de semana. À época os nomes que retive foram sendo revividos,
agora juntando os nomes às caras. Alguns dos que por lá andaram, ou abandonaram
a modalidade, ou então limitam-se a fazê-lo nos moldes que muitos de nós ainda
conhecemos, em pequenos grupos, onde quase todos se conhecem, correm pelas
montanhas, almoçam ou jantam juntos e regressam à vida do dia a dia de cada
um.
O trail deixou de ser um convívio entre gente que corre e passou a fazer parte de um quotidiano empresarial, onde o interesse de organizadores e atletas é muito mais que correr livremente e almoçar entre gargalhadas e projectos futuros. E deve assim ser encarado, como um desporto em crescimento, com cada vez mais adeptos e praticantes, e cada vez mais interesses envolvidos.
Contudo, uma das características que traz tanta gente para o trail, é a de não haver distinções entre ricos e pobres, entre filhos e enteados, havendo um total respeito por todos os atletas por igual, sem separação como acontece na estrada - elite separada do "pelotão" - e onde a capacidade de entreajuda, superação, resiliência, destreza e sacrifício, são muitas vezes determinantes para o aparecimento de novos valores. Há no trail casos de sucesso já bem depois dos 50 anos, com vitórias em importantes provas, casos de vitórias de gente que "aparece" neste desporto com historial mediano noutras modalidades e que consegue sucessos por ter características determinantes para um desporto onde a capacidade atlética não basta para vencer. A atracção pelo trail é determinada igualmente pela oferta de percursos na natureza, onde a recompensa de poder correr livremente por espaços inacessíveis é mais que bastante para libertar do reboliço diário citadino que a maioria dos seus praticantes vive.
Como um desporto com bases amadoras, de convívio e de descoberta de novas formas de viver as montanhas e natureza em geral, o trail nasceu um pouco como a história das primeiras provas, com o intuito de reunir pessoas, correr, fazer uns repastos e pouco mais. Os prémios não são normalmente monetários, o reconhecimento é escasso se comparado com outros desportos, não havia até há pouco selecções que participassem em campeonatos do mundo, e o reconhecimento passava por um ou outro apoio de marcas ou lojas de equipamentos da especialidade. Tudo isto mudou em pouco mais de 3 anos.
Depois de em Setembro de 2012 tomarem parte numa reunião, que viria a ser embrionária da ITRA, foi criada em Portugal a ATRP. Esta associação nasceu por vontade e iniciativa de um grupo de amigos apaixonados por trail. Se está a fazer o trabalho para a qual foi criada ou não, é no mínimo discutível. A ATRP enveredou por um caminho de regulação, de organização de calendário e de organização de campeonatos. Na minha opinião nasceu manca, porque sem a devida colaboração dos organizadores. Eu explico porquê: A ITRA nasce pela necessidade de regular competições existentes. Nasce no sentido de preservar o espírito do trail, da não separação entre elite e pelotão, das mesmas condições para todos os participantes, da tentativa de regular as provas, de as uniformizar, de unir esforços entre todos os que participam no desenho, organização e corrida. A ATRP exclui da sua génese e da sua organização as organizações. Há hipótese de as organizações se candidatarem, algumas serão convidadas, mas não há organizadores - pelo menos assim, enquanto organizadores -, no seio da Associação que regula, ou tenta regular, o desporto que aqueles organizavam muito antes de haver ATRP.
O aumento de provas entre 2012 e 2013, após o reconhecimento trazido pelos excelentes resultados internacionais de alguns atletas, trouxe muitas coisas novas e diferentes para o trail nacional. Até 2010 eram poucas as provas no calendário nacional. Quem queria ir a uma prova de 100 km tinha que se aventurar em Ronda ou nos Peregrinos, provas ganhas várias vezes por atletas nacionais. Por cá havia um calendário modesto. A Ultra da Freita só em 2010 passou a ter 70 km. Os Abutres só na segunda edição (2011) passou a ter mais de 42 km. Apenas o MIUT e mais tarde o Oh Meu Deus se atreveram a desenhar e proporcionar provas acima de 100 km em Portugal. Hoje, poucos anos depois, são muitas as provas com 100 ou mais km em Portugal. As provas de trail multiplicam-se e há fins de semana com 3, 4 ou mais provas em diferentes pontos do País. Há, felizmente, muito por onde escolher.
Assim, e sem muito mais explicações ou debates, decidi, com o apoio e incentivo de várias pessoas interessadas pelo futuro deste desporto, organizar com o apoio de algumas entidades, um encontro nacional de organizadores de provas. Será em Miranda do Corvo, no próximo dia 31 de Janeiro. Muitos dos que organizam provas em Portugal são dos mais experientes atletas nacionais. Exclui-los de decisões que os afectam não é justo, normal, nem aconselhável.
O Trail não pode é continuar pouco regulado, sem homologação de provas e/ou percursos, sem fiscalização, sem obrigatoriedade de cumprir requisitos mínimos. Não acabarão más organizações, mas havendo regulação e homologação os atletas poderão escolher em consciência e exigir de quem os deve defender. Não sei quem o deve fazer, nem quero afirmar se deve ser no seio da Federação de Atletismo ou na de Campismo e Montanhismo de Portugal. O que acho é que não pode nem deve continuar assim, com campeonatos distintos e regras diferentes. Urge discutir e alinhar o futuro com a exigência que os atletas merecem.
Poderemos discutir muita coisa por telefone, facebook, jornais, ou mesmo em tertúlias em separado. Mas urge reunir quem se interessa pela efectiva regulação de um desporto que começa a estar demasiado exposto. Não o fazer será colocar em causa tudo aquilo que defendemos e queremos para o trail.
A ATRP foi convidada a participar mas declinou o convite. Acha a direcção actual que não deve participar em tal debate. Respeito. Não concordo, mas respeito.
Em breve divulgarei o programa e temas abordados durante este encontro. O número de participantes vai variar consoante o local onde se realizará, que ainda não está definido.
P.S. - A ATRP será formalmente convidada a participar no encontro. Chama-me a atenção o João Mota, e com razão, que não existiu um convite formal, não sendo por isso legitimo afirmar que a direcção declinou o convite. O convite original foi feito verbalmente a um dos elementos da direcção. Agora segue um formal, por email.
Saudações desportivas a todos.
O trail deixou de ser um convívio entre gente que corre e passou a fazer parte de um quotidiano empresarial, onde o interesse de organizadores e atletas é muito mais que correr livremente e almoçar entre gargalhadas e projectos futuros. E deve assim ser encarado, como um desporto em crescimento, com cada vez mais adeptos e praticantes, e cada vez mais interesses envolvidos.
Contudo, uma das características que traz tanta gente para o trail, é a de não haver distinções entre ricos e pobres, entre filhos e enteados, havendo um total respeito por todos os atletas por igual, sem separação como acontece na estrada - elite separada do "pelotão" - e onde a capacidade de entreajuda, superação, resiliência, destreza e sacrifício, são muitas vezes determinantes para o aparecimento de novos valores. Há no trail casos de sucesso já bem depois dos 50 anos, com vitórias em importantes provas, casos de vitórias de gente que "aparece" neste desporto com historial mediano noutras modalidades e que consegue sucessos por ter características determinantes para um desporto onde a capacidade atlética não basta para vencer. A atracção pelo trail é determinada igualmente pela oferta de percursos na natureza, onde a recompensa de poder correr livremente por espaços inacessíveis é mais que bastante para libertar do reboliço diário citadino que a maioria dos seus praticantes vive.
Como um desporto com bases amadoras, de convívio e de descoberta de novas formas de viver as montanhas e natureza em geral, o trail nasceu um pouco como a história das primeiras provas, com o intuito de reunir pessoas, correr, fazer uns repastos e pouco mais. Os prémios não são normalmente monetários, o reconhecimento é escasso se comparado com outros desportos, não havia até há pouco selecções que participassem em campeonatos do mundo, e o reconhecimento passava por um ou outro apoio de marcas ou lojas de equipamentos da especialidade. Tudo isto mudou em pouco mais de 3 anos.
Depois de em Setembro de 2012 tomarem parte numa reunião, que viria a ser embrionária da ITRA, foi criada em Portugal a ATRP. Esta associação nasceu por vontade e iniciativa de um grupo de amigos apaixonados por trail. Se está a fazer o trabalho para a qual foi criada ou não, é no mínimo discutível. A ATRP enveredou por um caminho de regulação, de organização de calendário e de organização de campeonatos. Na minha opinião nasceu manca, porque sem a devida colaboração dos organizadores. Eu explico porquê: A ITRA nasce pela necessidade de regular competições existentes. Nasce no sentido de preservar o espírito do trail, da não separação entre elite e pelotão, das mesmas condições para todos os participantes, da tentativa de regular as provas, de as uniformizar, de unir esforços entre todos os que participam no desenho, organização e corrida. A ATRP exclui da sua génese e da sua organização as organizações. Há hipótese de as organizações se candidatarem, algumas serão convidadas, mas não há organizadores - pelo menos assim, enquanto organizadores -, no seio da Associação que regula, ou tenta regular, o desporto que aqueles organizavam muito antes de haver ATRP.
O aumento de provas entre 2012 e 2013, após o reconhecimento trazido pelos excelentes resultados internacionais de alguns atletas, trouxe muitas coisas novas e diferentes para o trail nacional. Até 2010 eram poucas as provas no calendário nacional. Quem queria ir a uma prova de 100 km tinha que se aventurar em Ronda ou nos Peregrinos, provas ganhas várias vezes por atletas nacionais. Por cá havia um calendário modesto. A Ultra da Freita só em 2010 passou a ter 70 km. Os Abutres só na segunda edição (2011) passou a ter mais de 42 km. Apenas o MIUT e mais tarde o Oh Meu Deus se atreveram a desenhar e proporcionar provas acima de 100 km em Portugal. Hoje, poucos anos depois, são muitas as provas com 100 ou mais km em Portugal. As provas de trail multiplicam-se e há fins de semana com 3, 4 ou mais provas em diferentes pontos do País. Há, felizmente, muito por onde escolher.
Assim, e sem muito mais explicações ou debates, decidi, com o apoio e incentivo de várias pessoas interessadas pelo futuro deste desporto, organizar com o apoio de algumas entidades, um encontro nacional de organizadores de provas. Será em Miranda do Corvo, no próximo dia 31 de Janeiro. Muitos dos que organizam provas em Portugal são dos mais experientes atletas nacionais. Exclui-los de decisões que os afectam não é justo, normal, nem aconselhável.
O Trail não pode é continuar pouco regulado, sem homologação de provas e/ou percursos, sem fiscalização, sem obrigatoriedade de cumprir requisitos mínimos. Não acabarão más organizações, mas havendo regulação e homologação os atletas poderão escolher em consciência e exigir de quem os deve defender. Não sei quem o deve fazer, nem quero afirmar se deve ser no seio da Federação de Atletismo ou na de Campismo e Montanhismo de Portugal. O que acho é que não pode nem deve continuar assim, com campeonatos distintos e regras diferentes. Urge discutir e alinhar o futuro com a exigência que os atletas merecem.
Poderemos discutir muita coisa por telefone, facebook, jornais, ou mesmo em tertúlias em separado. Mas urge reunir quem se interessa pela efectiva regulação de um desporto que começa a estar demasiado exposto. Não o fazer será colocar em causa tudo aquilo que defendemos e queremos para o trail.
A ATRP foi convidada a participar mas declinou o convite. Acha a direcção actual que não deve participar em tal debate. Respeito. Não concordo, mas respeito.
Em breve divulgarei o programa e temas abordados durante este encontro. O número de participantes vai variar consoante o local onde se realizará, que ainda não está definido.
P.S. - A ATRP será formalmente convidada a participar no encontro. Chama-me a atenção o João Mota, e com razão, que não existiu um convite formal, não sendo por isso legitimo afirmar que a direcção declinou o convite. O convite original foi feito verbalmente a um dos elementos da direcção. Agora segue um formal, por email.
Saudações desportivas a todos.
A isto se chama agarrar o touro pelos cornos.
ResponderEliminarParabéns, excelente iniciativa :D
olha que excelente iniciativa
ResponderEliminarParabens
Debater o estado da modalidade, frontalmente. Bom sentido de oportunidade Rui.
ResponderEliminarO Trail dos 4 Caminhos estará presente.
Caro blogger Rui Pinho,
ResponderEliminarChegou-me ao conhecimento este comentário/opinião publicado acima,onde tece algumas imprecisões/inverdades,que gostaria de rebater, enquanto atleta e leitor.
Qualquer iniciativa que pretenda contribuir para o desenvolvimento do atletismo, nas suas várias vertentes será sempre de aplaudir, desde que elas não enfermem de interesses ocultos.
De facto o trail tem vindo a crescer significativamente em toda a Europa, e em particular em Portugal, com várias provas a realizarem-se todos os fins de semana de norte a sul.
Foi graças a um grupo de atletas e voluntários, que o trail se organizou em Portugal e formou a ATRP.
Muito foi feito em tão pouco tempo, pelos dirigentes que passaram pela ATRP, e que construiram com sacrifício e dedicação, aquilo que alguns acham por adquirido, com a colaboração de organizadores, atletas, e voluntários.
Actualmente, a ATRP é mais que uma entidade que regula e valida as provas que compõem o calendário nacional, ao ter aderido à FPA via IAAF, tem objectivos muito ambiciosos para contribuir para a melhoria das provas de trail em Portugal.
A ATRP pretende acolher todos os organizadores de provas de trail como seus associados,mas nunca poderá garantir que as provas por si organizadas farão parte do calendário nacional, porque tal seria inexequível.
Para que possam se candidatar têm que reunir os requisitos plasmados na página da ATRP, sob pena da candidatura não ser aceite.
Refere num dos parágrafos:"O Trail não pode é continuar pouco regulado, sem homologação de provas e/ou percursos, sem fiscalização, sem obrigatoriedade de cumprir requisitos mínimos"
Quantas competições de trail que se realizam em Portugal, que não respeitam a legislação vingente, fora da responsabilidade da ATRP?
Será que os atletas consultam os regulamentos da competição antes de se inscreverem?
Posso lhe antecipar que são muitas,bastando consultar os regulamentos das mesmas, ou comparecer nos percursos, e algumas com riscos graves para os participantes.
As provas que compõem o Calendário Nacional foram homologadas pela ATRP, e muitas outras que não fazendo ainda parte, foi pedida a respectiva validação.
Quanto à fiscalização através de delegado-técnico,está agendada para implementação oportuna,tais como como sejam, a prática extensível às camadas mais jovens,controle anti-doping,divulgação multimédia, cartão de descontos, etc.
Mas "Roma e Pavia, não se fizeram num dia", e lhe garanto que os membros da direcção da ATRP desinteressadamente e voluntariamente estão a trabalhar muito para cumprir os objectivos.
Bom seria, que em vez de aqui e ali criticarem aquilo que ainda não foi feito,ou que eventualmente foi feito mas não é dos seu agrado ou interesse, questionassem o que cada um já fez,ajudou,colaborou,apoiou pelo trail e pela ATRP.
É fácil, escrever mensagens de desagrado,mas criar,pôr a funcionar,planear,organizar, promover,divulgar, enfim fazer, há muitos poucos que se querem sujeitar a gastar o seu tempo.
Quando afirma :"Há hipótese de as organizações se candidatarem, algumas serão convidadas, mas não há organizadores - pelo menos assim, enquanto organizadores -, no seio da Associação que regula, ou tenta regular, o desporto que aqueles organizavam muito antes de haver ATRP", isto é falso, porque a ATRP é composta por associados conforme plasmado no Artigo 6º dos Estatutos.
As associações desportivas através dos seus representantes.
Muitas das associações desportivas associadas são organizadores de competições, e algumas delas de facto mais antigas que a própria ATRP.
Para terminar esta mensagem gostaria de o convidar a comparecer numa das Assembleias Gerais da ATRP, porque é aí que os problemas e sugestões devem ser discutidos, e como verifico que é uma pessoa que gosta de escrever, e com vontade de colaborar na defesa dos atletas,e organizadores do trail, lanço-lhe o repto, que é questionar-lhe se aceita trabalhar desinteressadamente e voluntariamente para a ATRP.
Saudações,
DF
o trail está todo politizado, após as massas vem o markting e depois do markting vem a politica, infelizmente essa malta de ideias são 0 à esquerda, já há gente a mais a fazer vida desta modalidade, normalmente os politicos (que todos nós conhecemos bem) têm boa apresentação, boa imagem, têm presença, nunca estão no lado de ninguém e estão sempre no lado da moda e das massas e dos seus próprios interesses, nada é feito ao alheio, aliás é tudo bem planeado e desde há muito. Mas lá está em nome de se fazer uma associação reguladora para os amadores do trail, aparece uma associação totalmente virada para a profissionalização, hoje são mais de 3000 e tendo a crescer, digo e volto a dizer o que disse aquando outras polémicas num passado recente, a associação tem eleições, juntem-se, criem projectos e criem alternativas à actual direcção, isso sim é de valor...
ResponderEliminarPLENAMENTE DE ACORDO
ResponderEliminarNa ediçao de 2015 do Trail Sta Luzia referi, que seria a ultima ediçao, ao vereador do desporto da edelidade e numa entrevista numa radio local, e a Camara Municipal marcou logo reuniao para saber qual o orçamento da prova, pois isto nao podia acabar, era muito bom pro turismo da regiao, e neste capitulo acedi mais um ano, mas acreditem ESTOU SATURADO daquilo que vejo.
Ja ponderei dedicar-me apenas à organizaçao de Free Trails ou pequenos treinos em grupo para disfrutar da natureza que temos, e com fins solidarios.
O Trail nacional, virou NEGOCIO.
Muito bom o texto!Participei em 2007 pela primeira vez numa prova do circuito nacional de montanha , ainda não se falava de trail , de facto as diferenças são muitas comparadas com a estrada , para a saúde das minhas articulações é que não é muito bom por isso continuo quase sempre em provas de estrada.A todos boas corridas .
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