sexta-feira, agosto 10, 2012

Sou tripeiro. Sou do Porto!

 

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O texto não é meu, mas é exactamente aquilo que eu penso desta cidade. Moro em Gaia, e sempre que passo a ponte D. Luís sinto um arrepio de quem, mais uma vez regressa a casa. Aquele "quadro", a cascata são joanina que tão bem descreveu Carlos Tê no Porto sentido cantado por Rui Veloso, é uma brisa que me refresca a alma e aquece o coração. Também eu sou do Porto, também eu o sinto meu. 

 

Nasci na freguesia de Santo Ildefonso. Os meus dois primeiros anos, passei-os em Cedofeita. Cresci, vivi e vivo em Ramalde. Sou do Porto, portuense, tripeiro.

Ninguém escolhe a cidade onde nasce. Eu nasci no Porto. Ligam-me a esta cidade sentimentos que por mais nenhuma poderei ter: uma ternura, uma nostalgia, um afecto, que só se tem pelo sítio onde se nasce e onde se cresce. Foi no Porto onde aprendi a andar. Foi nas escolas do Porto onde aprendi a ler, a estudar… Foi no Porto que criei os meus primeiros amigos, que fiz os meus amores. A minha infância (e a felicidade que dela emana) tem o Porto como pano de fundo.

Gosto do sotaque do Porto, das vogais abertas, da força do discurso, dos palavrões… Gosto das ruelas da Ribeira, da sua nobreza e burguesia entranhadas. Gosto das pontes. Gosto da Foz do Douro, do mar… Gosto das vistas da Sé e da Praça da Liberdade. Gosto da comida, das francesinhas, das tripas e da hospitalidade. Gosto do São João (a noite sem fim) onde a cidade se torna pequena e o que na Baixa começa na Foz termina.

Não sei se o Porto é a melhor cidade do mundo, nem me interessa. O Porto é a minha cidade. Por isso me comovo com o “Porto Sentido”, por isso vibro com os golos que desfraldam as bandeiras com o nome da minha cidade (nunca entendi os tripeiros que só vibram com o desfraldar de bandeiras doutras cidades e doutras freguesias…).

Ao Norte de um país do Sul da Europa é uma mistura, mais Celta que Moura, nas gentes, nas casas, nas ruas, nas cores e na chuva. Cidade histórica, invicta, nobre e burguesa, é também uma cidade pequena, fechada e conservadora. Não sou obrigado a gostar de tudo no Porto, mas não renego o sítio onde nasci e cresci. Sou do Porto por emoção e por razão!

Vivemos num país que durante muito tempo afunilou o desenvolvimento num só local (a capital) deixando tudo resto ao abandono. Esse é um facto do passado. Hoje o Estado já não tem o poder que teve e está muito mais nas mãos de cada cidade projectar-se competitivamente ao nível internacional. O Porto de hoje precisa de mais economia, de mais riqueza e energia, criatividade e sabedoria (por isso é tão importante potenciar ao máximo a Universidade). Precisa de redes, parcerias (como a aproximação à Galiza) e infra-estruturas (note-se a importância do metro e, principalmente, do moderno aeroporto, para o desenvolvimento turístico e económico da região). Porém, para tudo isso, precisa de gente e muitos tenho visto a emigrar (para Lisboa primeiro, para Madrid, Londres, Bruxelas ou Luanda depois). Resta saber se vão voltar (eu acho que muitos querem voltar)... Eu próprio não sei em que cidade terei que ficar… Sei é que esta é uma boa cidade para se amar e que, qualquer que seja o futuro que o futuro lhe reserve, esta é a cidade de que sempre me irei lembrar!

Gabriel Leite Mota, in Jornal Público, P3, 07/08/2012

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