Faz amanhã precisamente 20 dias que cheguei, pela segunda vez em menos de um ano, a Santiago de Compostela depois de 5 dias de corrida. Foi o meu segundo “Caminho”.
Este introito serve apenas para justificar a vontade que me tem dado de correr. Muito. Tenho feito quilómetros e quilómetros a correr a ritmo de Santiago, com mais vontade de desfrutar do prazer da corrida do que propriamente treinar. Ontem repeti o treino de anteontem, que imitarei hoje. 22 km essencialmente pelas marginais de Gaia e Porto, depois de uma incursão ao Parque da Cidade. Durante o percurso, sozinho, pensava na grande mudança que um bom hábito pode trazer às nossas vidas. Não vou especificar pormenores que todos conhecemos, da melhoria da saúde à inevitável euforia da evolução, superação e permanente desafio, vou-me cingir ao quanto mudei nos últimos anos. A corrida molda-nos. Não vivemos a correr, passamos a ser corredores na vida. Deixámos paixões que não compreendam esta nossa paixão, a que chamam obsessão, descobrimos ligações a, até aí, perfeitos estranhos, descobrimos pontos em comum com uma série de gente que partilha do gosto de liberdade, crescemos enquanto seres humanos e transformamo-nos enquanto membros de uma sociedade que não nos compreende até provar do mesmo prazer.
Dizem-me que a corrida me mudou. Sei que já não sou o mesmo que era há 6 anos. Mas gosto desta mudança permanente, incompreensivelmente atraente, para quem, como a maioria de nós nos dias de hoje, tanto apreciava a estabilidade. Aprendi a ser inconformado, a lutar por sonhos, por objectivos, nunca desistir de sonhar e usar o sonho como motor da busca do que nos traz felicidade.
Há 20 dias, os que à saída do Porto enfrentavam um Caminho que tempos antes julgavam impossível, sabem agora que podem continuar a sonhar. É isto que tanto gosto de transmitir a quem começa a correr, ou a quem quer evoluir na corrida enquanto meio de prazer, de transformação.
Não é apenas a corrida que nos molda, somos nós que encontramos na corrida o verdadeiro banco de ensaios para o que, até um ponto da nossa vida julgamos impossível. Por isso sorrimos quando devíamos conscientemente praguejar, enquanto o nosso subconsciente nos transmite a satisfação da vitória, a satisfação de sabermos que é mais uma vitória em cima da vitória que é começar.
E é este o resultado de toda a nossa transformação: De repente voltamos a ser imortais, tudo é possível; o céu, esse imenso infinito, é o limite.
"...crescemos enquanto seres humanos e transformámo-nos enquanto membros de uma sociedade que não nos compreende até provar do mesmo prazer."
ResponderEliminarjá tenho lido muita coisa mas esta é a frase que melhor resume aquilo por que realmente passamos. continuação de boas corridas, sejam elas no monte, em estrada ou na própria vida ;)
Igualmente, Rodrigo. Boas corridas!
EliminarPensava que o cansaço acumulado de 5 dias desabaria sobre mim na 2.ª feira após a chegada a Santiago de Compostela. Não aconteceu. Acordei ainda mais revitalizada.
ResponderEliminarTenho poucas certezas nesta vida, mas correr e devagar é algo que faz parte dos meus planos para os próximos 40 anos. Praguejando, sorrindo, como for.
Obrigada por nos lembrares como nos sabe e faz bem andar com o pé um à frente do outro, Rui Pinho.
Susana
Espero bem que nos próximos 40 anos faças muitas coisas, Susana. O universo tem excelentes planos para ti ;)
EliminarSabes bem que, o que ficou do Caminho foi tudo menos cansaço, apesar dos 250 km.
Espero bem que continues a correr como te conheci: A sorrir, calmamente, sem pressa de abandonar as belas paisagens onde habitualmente acrescentas mais beleza ainda.
E já agora, espero fazer muitos mais km contigo. ;)
Sério? O Universo tem excelentes planos para mim?! Juras? :-)
EliminarVenham de lá esses triliões de km's! :-)