segunda-feira, março 24, 2025

Filhasdaputice (pós censura)




Engraçado que os idiotas que de mais dados pessoais das pessoas usam e abusam, tenham feito queixinhas ao Google, sobre divulgação de dados pessoais no texto cujo título era mais que adequado para os ditos: "Filhasdaputice". 




Como tenho mais que fazer do que aturá-los, aqui vai uma versão sem dados pessoais (toda a gente sabe quem eles são). 


Primeiro, o original, um discurso de Alberto Pimenta, escritor portuense.

Depois, mais abaixo, as ditas, descritas por mim, expondo-as, as "filhasdaputice" e seus autores.


O Discurso sobre o filho da puta


O pequeno filho da puta

é sempre

um pequeno filho da puta;

mas não há filho da puta,

por pequeno que seja,

que não tenha

a sua própria

grandeza,

diz o pequeno filho da puta. 

no entanto, há

filhos-da-puta que nascem

grandes e filhos da puta

que nascem pequenos,

diz o pequeno filho da puta.

de resto,

os filhos da puta

não se medem aos

palmos,diz ainda

o pequeno filho da puta. 

o pequeno

filho da puta

tem uma pequena

visão das coisas

e mostra em

tudo quanto faz

e diz

que é mesmo

o pequeno

filho da puta. 

no entanto,

o pequeno filho da puta

tem orgulho

em ser

o pequeno filho da puta.

todos os grandes

filhos da puta

são reproduções em

ponto grande

do pequeno

filho da puta,

diz o pequeno filho da puta. 

dentro do

pequeno filho da puta

estão em ideia

todos os grandes filhos da puta,

diz o

pequeno filho da puta.

tudo o que é mau

para o pequeno

é mau

para o grande filho da puta,

diz o pequeno filho da puta. 

o pequeno filho da puta

foi concebido

pelo pequeno senhor

à sua imagem

e semelhança,

diz o pequeno filho da puta. 

é o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
de resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta. 

II

o grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,
e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta. 


no entanto,

há filhos da puta

que já nascem grandes

e filhos da puta

que nascem pequenos,

diz o grande filho da puta. 

de resto,

os filhos-da-puta

não se medem aos

palmos, diz ainda

o grande filho-da-puta. 

o grande filho da puta

tem uma grande

visão das coisas

e mostra em

tudo quanto faz

e diz

que é mesmo

o grande filho da puta. 

por isso

o grande filho da puta

tem orgulho em ser

o grande filho da puta. 

todos

os pequenos filhos da puta

são reproduções em

ponto pequeno

do grande filho da puta,

diz o grande filho da puta.

dentro do

grande filho da puta

estão em ideia

todos os

pequenos filhos da puta,

diz o

grande filho da puta. 

tudo o que é bom

para o grande

não pode

deixar de ser igualmente bom

para os pequenos filhos da puta,

diz

o grande filho da puta. 

o grande filho da puta

foi concebido

pelo grande senhor

à sua imagem e

semelhança,

diz o grande filho da puta. 

é o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
de resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta.


::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

À boa maneira portuense, deve entender-se o vernáculo como um auxiliar de categorização da grandeza que queremos adjetivar alguém ou de algum acontecimento. 

Na minha terra, quando alguém quer “virar o bico ao prego” numa qualquer querela, faz uma “filhadaputice”, assim chamada pela maldade intrínseca na dita, que visa obter resultado diferente do experienciado. 

O Grande “filho da puta”, aquele que orquestra as “filhasdaputice”, não o é no sentido estrito do termo, que não pretende ser nem é referência à mãe de ninguém, antes a definição no sentido sociológico, de ser alguém que quando quer, age com malvadez e intenção de diminuir ou prejudicar. 

Manchar a imagem de alguém é mediaticamente muito mais poderoso que a sua negação. É um problema difícil de contrariar numa sociedade que, apesar de se ambicionar moderada, é permeável à acusação e condenação coletiva. Assinala-se quem queremos “filhadaputear”, fazendo parecer o oposto daquilo que é.  O ruído é inevitável e a condenação imediata. Apesar de ninguém se sentir um “filho da puta”, facilmente consegue apontar outros de o serem, principalmente quando a acusação é coletivizada. É humano, o efeito mola. 

Uns (os grandes) acusam escondidos, com veemência e certeza, desencadeiam a ira de alguns (pequenos), ruidosos para parecerem muitos, e ficam à espera que a censura seja suficiente para simular uma “pena”, muitas vezes capital ou perpétua. São as chamadas “filhasdaputice”, que se espalham como um vírus, movimento orgânico e amplamente disseminado pelas redes sociais. É uma pandemia. 

A maior “filhadaputice” é a cobardia. É escrever e disfarçar a mão, mandando outros publicar ou co-assinar aquilo que se quer, como se quer, a conta-gotas, para que outros, os tais pequenos que querem ser grandes, possam fazer o jogo sujo da “vendeta”, e os “grandes” possam depois, calmamente, mostrar serenidade e sinalizar todas as virtudes daquilo que não sãoe que acusam outros de não ser. Sinalização de virtude. 

Dito isto, é de uma filhadaputice tamanha, o que um grupo de pessoas fez nos últimos meses, e, ainda mais grave, na última semana. 

Em vez de disputarem juridicamente uma questão que é exatamente isso, jurídica, optaram pelo bullying e pela maledicência. 

Já se queixam à Federação de Atletismo desde novembro. São chamadas, cartas registadas, emails, whatsapps, tentativas de contacto direto, etc. Fizeram tudo para que o Trail parecesse um grupo de estudantes adolescentes. Queixas em nome de outros, queixas em nome de Câmaras Municipais, queixas em nome próprio. 

Queixaram-se e queixam-se à AG, ora da revisão dos estatutos, queixaram-se antes das eleições, queixaram-se imediatamente a seguir às eleições, pressionaram tudo e todos. Fizeram abaixo assinados, petições públicas e comunicados. Ninguém lhes deu razão.

O pináculo do ridículo chegou na última semana, fazendo a "filhadaputice" de enviar à iTRA uma queixa em nome do “Movimento pelo Trail”, relativamente às eleições na ATRP,  visando-me. 

O Trail nacional, felizmente, tem uma excelente imagem junto das instituições a que pertence, que o olham como um movimento de uma comunidade amplamente representada na ATRP e, inevitavelmente, em quem a dirigiu e dirige. Não será um grupo de pessoas descontentes que o irá por em causa. As queixas dizem mais de quem as faz do que quem querem visar. O meu cargo não está nas vossas mãos, felizmente. Decorre de uma eleição MUNDIAL, feita de forma eletrónica. Avaliam-se projetos e trabalho feito, e nisso, Portugal está bem à frente, e é isso que vocês não toleram.

Ora, tudo isto aconteceu poucos dias depois do líder (?) do dito “movimento” me ter telefonado a sugerir junção de listas, numa tarde em que fui “bombardeado” por dezenas de mensagens e tentativas de chamadas no mesmo sentido (ver imagens abaixo), de alguém que aparentemente iria assumir um cargo de “diretor geral” da ATRP, como o próprio se fartou de anunciar a quem o quis ouvir (e principalmente ler). 

Apesar de o terem negado bem mais que três vezes, batendo Pedro a negar Jesus Cristo, agradeceram-lhe a ajuda a fazer a lista e falavam regularmente com o dito, que se assustou quando reparou que afinal o Trail é uma (parte de) disciplina do Atletismo e portanto terá de ser integrada plenamente na Federação respetiva. Retira independência, como é normal, mas aumenta a responsabilidade e destaca a “modalidade”. Não dá azo é a organizar Campeonatos nacionais onde e quando se quer, nem a atribuir títulos ou “gerir” seleções nacionais, sem a anuência da tutela. 

Então passaram de querer juntar listas a acusações e cartas com queixinhas? 

Podem fazer os comunicados que quiserem, que nada apaga todas as “filhasdaputice” que fizeram em nome de um grupo de pessoas, escondendo-se, o(s) sonso(s), num “Movimento”. 

Quero acreditar que alguns dos 8 que compõem a lista não saibam o que vão fazendo outros nas suas costas. Tenho-os (ainda tenho) como pessoas sérias e sensatas, que provavelmente terão sido influenciadas por alguém (ou alguns) que, não tendo coragem nem projeto, transformaram umas eleições numa questão pessoal. Não creio que todos saibam o que alguns vão fazendo em seu nome, porque se sabem, são ainda mais sonsos. 

Fui eleito democraticamente para todos os cargos que ocupo. Sairei da mesma forma, respeitando decisões legítimas, dos eleitores, e demais órgãos e instituições competentes. 

Não vai ser qualquer “pequeno filho da puta” que vai desacreditar um trabalho que está à vista de todos. 

Quem não se sente não é filho de boa gente. 


Em imagens e legendas, para que fique claro:



Acima, o agradecimento ao dinamizador principal do grupo de WhatsApp KM Vertical, pela “ajuda”.

Não quis ir para uma lista de “velhos”, como se vê pelas mensagens abaixo. Mas pronto, lá ficaria com um papel na sombra. 



Até que vem o alarme “FPA”. E começam as tentativas de chamadas. 



Pouco tempo depois, recebo esta chamada exatamente com o mesmo teor de preocupação. Falámos durante o tempo que podem constatar, o Rui ia para Sicó e ficou de me dizer algo na segunda-feira seguinte relativamente à única proposta que lhe fiz: Aceitarem eleições electrónicas, sem reservas. Não me voltou a ligar. Só tenho lido o seu nome nas queixas e comunicados. 




Quanto ao elemento que não está na lista, mas pelos vistos a controla, foi isto que podem ver abaixo, durante toda a tarde. É só aqui está o que tentou comigo. Há mais, vídeos inclusive, mas não me mandou a mim, pelo que não serei eu a divulgá-los. 



À falta de resposta no WhatsApp, foi também tentando SMS. 



Em resumo e em jeito de opinião pessoal, vão mostrando uma agenda, mas parece que a agenda não é dos próprios, mas de alguém que se orgulha de controlar os melhores atletas, organizadores e inclusive a FPA. 


Não sei se é patológico, se é mesmo agenda - até porque é membro de uma equipa também ela organizadora e que tem alguns dos melhores atletas nacionais -, só não acho normal gente que se diz tão transparente e correta, andar ligada a este tipo de manobras. 




sábado, março 08, 2025

"Filhasdaputice" II


Primeiro, o original, um discurso de Alberto Pimenta, escritor portuense.
Depois, mais abaixo, as ditas, descritas por mim, expondo-as, as "filhasdaputice" e seus autores.


O Discurso sobre o filho da puta


O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;
mas não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho da puta.
no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho da puta.
de resto,
os filhos da puta
não se medem aos
palmos,diz ainda
o pequeno filho da puta.
o pequeno
filho da puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho da puta.
no entanto,
o pequeno filho da puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho da puta.
todos os grandes
filhos da puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
dentro do
pequeno filho da puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
o pequeno filho da puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho da puta.
é o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
de resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta.
II
o grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,
e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.

no entanto,
há filhos da puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho da puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.
o grande filho da puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho da puta.
por isso
o grande filho da puta
tem orgulho em ser
o grande filho da puta.
todos
os pequenos filhos da puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
dentro do
grande filho da puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos da puta,
diz o
grande filho da puta.
tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos da puta,
diz
o grande filho da puta.
o grande filho da puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho da puta.
é o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
de resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta.


:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::


À boa maneira portuense, deve entender-se o vernáculo como um auxiliar de categorização da grandeza que queremos adjetivar alguém ou de algum acontecimento.

Na minha terra, quando alguém quer “virar o bico ao prego” numa qualquer querela, faz uma “filhadaputice”, assim chamada pela maldade intrínseca na dita, que visa obter resultado diferente do experienciado.

O Grande “filho da puta”, aquele que orquestra as “filhasdaputice”, não o é no sentido estrito do termo, que não pretende ser nem é referência à mãe de ninguém, antes a definição no sentido sociológico, de ser alguém que quando quer, age com malvadez e intenção de diminuir ou prejudicar.

Manchar a imagem de alguém é mediaticamente muito mais poderoso que a sua negação. É um problema difícil de contrariar numa sociedade que, apesar de se ambicionar moderada, é permeável à acusação e condenação coletiva. Assinala-se quem queremos “filhadaputear”, fazendo parecer o oposto daquilo que é. O ruído é inevitável e a condenação imediata. Apesar de ninguém se sentir um “filho da puta”, facilmente consegue apontar outros de o serem, principalmente quando a acusação é coletivizada. É humano, o efeito mola.

Uns (os grandes) acusam escondidos, com veemência e certeza, desencadeiam a ira de alguns (pequenos), ruidosos para parecerem muitos, e ficam à espera que a censura seja suficiente para simular uma “pena”, muitas vezes capital ou perpétua. São as chamadas “filhasdaputice”, que se espalham como um vírus, movimento orgânico e amplamente disseminado pelas redes sociais. É uma pandemia.

A maior “filhadaputice” é a cobardia. É escrever e disfarçar a mão, mandando outros publicar ou co-assinar aquilo que se quer, como se quer, a conta-gotas, para que outros, os tais pequenos que querem ser grandes, possam fazer o jogo sujo da “vendeta”, e os “grandes” possam depois, calmamente, mostrar serenidade e sinalizar todas as virtudes daquilo que não sãoe que acusam outros de não ser. Sinalização de virtude.

Dito isto, é de uma filhadaputice tamanha, o que um grupo de pessoas fez nos últimos meses, e, ainda mais grave, na última semana.

Em vez de disputarem juridicamente uma questão que é exatamente isso, jurídica, optaram pelo bullying e pela maledicência.

Já se queixam à Federação de Atletismo desde novembro. São chamadas, cartas registadas, emails, whatsapps, tentativas de contacto direto, etc. Fizeram tudo para que o Trail parecesse um grupo de estudantes adolescentes. Queixas em nome de outros, queixas em nome de Câmaras Municipais, queixas em nome próprio.

Queixaram-se e queixam-se à AG, ora da revisão dos estatutos, queixaram-se antes das eleições, queixaram-se imediatamente a seguir às eleições, pressionaram tudo e todos. Fizeram abaixo assinados, petições públicas e comunicados. Ninguém lhes deu razão.

O pináculo do ridículo chegou na última semana, fazendo a "filhadaputice" de enviar à iTRA uma queixa em nome do “Movimento pelo Trail”, relativamente às eleições na ATRP, visando-me.

O Trail nacional, felizmente, tem uma excelente imagem junto das instituições a que pertence, que o olham como um movimento de uma comunidade amplamente representada na ATRP e, inevitavelmente, em quem a dirigiu e dirige. Não será um grupo de pessoas descontentes que o irá por em causa. As queixas dizem mais de quem as faz do que quem querem visar. O meu cargo não está nas vossas mãos, felizmente. Decorre de uma eleição MUNDIAL, feita de forma eletrónica. Avaliam-se projetos e trabalho feito, e nisso, Portugal está bem à frente, e é isso que vocês não toleram.

Ora, tudo isto aconteceu poucos dias depois do líder (?) do dito “movimento” me ter telefonado a sugerir junção de listas, numa tarde em que fui “bombardeado” por dezenas de mensagens e tentativas de chamadas no mesmo sentido (ver imagens abaixo), de alguém que aparentemente iria assumir um cargo de “diretor geral” da ATRP, como o próprio se fartou de anunciar a quem o quis ouvir (e principalmente ler).

Apesar de o terem negado bem mais que três vezes, batendo Pedro a negar Jesus Cristo, agradeceram-lhe a ajuda a fazer a lista e falavam regularmente com o dito, que se assustou quando reparou que afinal o Trail é uma (parte de) disciplina do Atletismo e portanto terá de ser integrada plenamente na Federação respetiva. Retira independência, como é normal, mas aumenta a responsabilidade e destaca a “modalidade”. Não dá azo é a organizar Campeonatos nacionais onde e quando se quer, nem a atribuir títulos ou “gerir” seleções nacionais, sem a anuência da tutela.

Então passaram de querer juntar listas a acusações e cartas com queixinhas?

Podem fazer os comunicados que quiserem, que nada apaga todas as “filhasdaputice” que fizeram em nome de um grupo de pessoas, escondendo-se, o(s) sonso(s), num “Movimento”.

Quero acreditar que alguns dos 8 que compõem a lista não saibam o que vão fazendo outros nas suas costas. Tenho-os (ainda tenho) como pessoas sérias e sensatas, que provavelmente terão sido influenciadas por alguém (ou alguns) que, não tendo coragem nem projeto, transformaram umas eleições numa questão pessoal. Não creio que todos saibam o que alguns vão fazendo em seu nome, porque se sabem, são ainda mais sonsos.

Fui eleito democraticamente para todos os cargos que ocupo. Sairei da mesma forma, respeitando decisões legítimas, dos eleitores, e demais órgãos e instituições competentes.

Não vai ser qualquer “pequeno filho da puta” que vai desacreditar um trabalho que está à vista de todos.

Quem não se sente não é filho de boa gente. 


Em imagens e legendas, para que fique claro:



Acima, o agradecimento ao dinamizador principal do grupo de WhatsApp KM Vertical, pela “ajuda”.

Não quis ir para uma lista de “velhos”, como se vê pelas mensagens abaixo. Mas pronto, lá ficaria com um papel na sombra. 



Até que vem o alarme “FPA”. E começam as tentativas de chamadas. 



Pouco tempo depois, recebo esta chamada exatamente com o mesmo teor de preocupação. Falámos durante o tempo que podem constatar, o Rui ia para Sicó e ficou de me dizer algo na segunda-feira seguinte relativamente à única proposta que lhe fiz: Aceitarem eleições electrónicas, sem reservas. Não me voltou a ligar. Só tenho lido o seu nome nas queixas e comunicados. 




Quanto ao elemento que não está na lista, mas pelos vistos a controla, foi isto que podem ver abaixo, durante toda a tarde. É só aqui está o que tentou comigo. Há mais, vídeos inclusive, mas não me mandou a mim, pelo que não serei eu a divulgá-los. 



À falta de resposta no WhatsApp, foi também tentando SMS. 



Em resumo e em jeito de opinião pessoal, vão mostrando uma agenda, mas parece que a agenda não é dos próprios, mas de alguém que se orgulha de controlar os melhores atletas, organizadores e inclusive a FPA. 

Não sei se é patológico, se é mesmo agenda - até porque é membro de uma equipa também ela organizadora e que tem alguns dos melhores atletas nacionais -, só não acho normal gente que se diz tão transparente e correta, andar ligada a este tipo de manobras. 


quarta-feira, fevereiro 05, 2025

No Trilho Certo

Este texto, necessariamente longo, impõe-se por uma série de acontecimentos, explicados parcialmente na sua parte final, pelo que deve ser lido até ao fim, ou começar por aí. 

Em 2011, depois de fazer alguns dos melhores resultados de portugueses nos principais eventos internacionais de trail, Carlos Sá, desafia algumas pessoas que como ele eram apaixonadas pela modalidade, a criarem uma Associação que pudesse agregar organizadores, a fim de uniformizar regulamentos, organizar competições nacionais e consequente seleção nacional para que Portugal se fizesse representar em Campeonatos do Mundo. O Trail começava então a constituir-se numa associação de organizadores, atletas e equipas (muitas delas movimentos informais). 

Em 2015, 4 anos depois de 12 amigos fundarem a ATRP, e 1 depois de admitido o Trail na Federação Portuguesa de Atletismo e com o apoio desta, pela primeira vez uma seleção nacional apresenta-se na partida de um Campeonato do Mundo da especialidade. 

O caminho internacional, impulsionado pela iTRA e pela estrutura de competição à volta do UTMB e restante World Tour, faz-se com o mesmo plano: Entrar na Associação Internacional de Atletismo, para que se pudesse dar às então designadas “corridas na natureza e areia” o enquadramento naquela que é a maior organização mundial de países e territórios, e valorizar a disciplina. Seria o passo necessário para o reconhecimento da dinâmica à volta de um circuito que liderava as tendências criadas à sua volta. As distâncias usadas nestes eventos passaram a ser padrão para quase todas as grandes provas mundiais, criando competição em distâncias curtas, já que, até aí, o Trail estava ligado ao Ultramaratonismo, tendo a Associação internacional que o regula, organizado os Campeonatos do Mundo de Trail de 2007 a 2015.

Esta coincidência feliz e única de Portugal estar na génese de um movimento de uma comunidade internacional, constituída por organizadores e praticantes, que se junta e organiza, fez com que o nosso País tivesse sido o único a quem foram atribuídos 2 Campeonatos do Mundo de Trail, em 2 eventos superiormente preparados, no Gerês, pelo Carlos Sá, e em Miranda do Corvo, pelos Abutres. Esta conquista ímpar só acontece pelo apoio inequívoco da FPA e da presença determinante do fundador da ATRP, José Carlos Santos, na fundação e Direção da iTRA, organismo que, desde 2015, é parceiro técnico da World Athletics, tendo a responsabilidade de organizar e supervisionar Campeonatos continentais e Mundiais de Trail, estes junto com a especialidade de Montanha, dirigida pela WMRA (World Mountain Running Association) e a IAU (International Association of Ultrarunners). Parece um caminho complicado, mas foi a forma de a base, representada por um organismo que nasceu no seu seio, se fazer ouvir nos órgãos de decisão, a fim de organizar competições e promover a prática de Trail Running. O enquadramento de todos estes organismos na World Athletics é hoje uma realidade e a padronização de competições impulsiona o seu crescimento.  

Portugal participou ativamente neste processo, antecipando-o internamente. A FPA apoiou-o, os seus associados aceitaram-no, e a ATRP tem nos últimos anos feito um esforço de estabelecer parcerias com todas as Associações Distritais e de classe, para que a comunidade possa identificar um padrão de organização, seja das provas de atribuição de títulos nacionais ou regionais, seja das provas que integram os múltiplos circuitos que acontecem um pouco por todo o País. As competições Distritais e Regionais apuram atletas para a disputa de títulos nacionais, agora já com atribuição de prémios monetários naquele que é o mais disputado, o de Trail. Serão este ano atribuídos 23.000€ de prémios, englobando todos os escalões, o que valoriza também o atletismo veterano. 

Desde 2016, quando assumi um lugar que não desejava, que tenho tido um sem número de entraves na gestão da ATRP, sejam eles de estrutura, de organização, financeiros ou de enquadramento na organização federativa. Entramos com um Orçamento que rondava os 40.000€, (sendo 20.000 de um patrocínio que cerceava a possibilidade de as provas serem autónomas) e um circuito com 20 provas. A juntar a esta exígua atividade, a ATRP tinha poucos associados, por nesse 2º ano o seguro desportivo ter aumentado 100%, para mais de 40€, e pelas polémicas geradas na adequação do calendário de 2016, ano de Mundial no Gerês.  

Fizemos formação da equipa de arbitragem, alteramos regulamentos e circuitos, transpusemos para as competições nacionais todas as distâncias previstas na Regra que define a disciplina, e que constituem os eventos em Portugal, criando os Circuitos de Sprint, Trail, Ultra, Endurance e XL, somando a estes uma forma de qualificação para a final da Taça de Portugal de Trail, que proporciona aos atletas competição perto das suas áreas de residência, engrossando também os atletas filiados e os pelotões de Campeonatos Distritais e Regionais. Criamos uma plataforma onde está baseada toda a relação do associado com a Associação, demos condições à seleção nacional como nenhum outro País o faz, com estágios, apoio técnico e médico, e sempre com o máximo de atletas possíveis a integrar a equipa nacional. No último mundial, disponibilizamos uma casa na Serra da Estrela durante 1 mês, para que, sempre que possível, os atletas ali se pudessem deslocar e treinar. Apoiámos monetária e logisticamente os atletas nas deslocações às finais de Taça de Portugal e ao Campeonato Nacional Ultra realizado na Madeira. Temos contas positivas, apresentadas todos os anos em Assembleias Gerais pouco participadas. 

A ATRP é hoje, graças aos que nela trabalharam e à comunidade que a constitui, um exemplo para qualquer organização desportiva, nacional e internacional. E é-o, sem nunca ter tido um único membro remunerado ou sequer um funcionário a quem pedir trabalho. É-o pelo trabalho voluntário de uma equipa que me acompanha e que dá tudo sem nada pedir em troca. Mantivemos a quota anual em 10€, para clubes, organizadores e individuais, mesmo tendo perdido os patrocinadores e multiplicado o orçamento, subindo--o para cerca de 200.000€. Conseguimos um dos melhores seguros desportivos, mantendo o seu preço há alguns anos nos 22€, com um apoio ímpar em caso de acidentes em treino ou competição. Continuamos a não ter um único profissional.

Este ano, como há 4, temos eleições.  

Em dezembro último, reuni em videoconferência, com cerca de 150 organizadores, explicando os passos que seriam dados relativamente a calendários nacionais, impostos por haver mudança na tutela (FPA), e anunciei a realização de uma AG Extraordinária para revisão de Estatutos, para que se pudesse modernizar a gestão da Associação e se pudesse introduzir o voto eletrónico nos Estatutos. Fizemos uma sessão de esclarecimentos uns dias depois, também em videoconferência, acolhendo algumas sugestões e correções do documento que estava disponível para consulta desde Abril de 2023. 

No dia 4 de Janeiro, em Miranda do Corvo, apesar de a proposta da Direção ter reunido 42 dos 73 votos presentes, não conseguiu alcançar uma maioria de 3 / 4, inviabilizando a sua implementação.  

Quem votou contra, apresentou várias declarações no início da AG pedindo a sua não realização e o avanço imediato para eleições. Inviabilizaram o voto eletrónico, mas clamaram nos dias seguintes, cinicamente, que a responsabilidade era da teimosia desta direção por não ter admitido todas propostas de alteração que apresentaram. Diga-se que de todas, só uma não foi mudada, a da orgânica de funcionamento da Direção.  

Mas o argumento e o guião estavam traçados e queriam ir a eleições. Marcaram-se eleições. 

Numa corrida contra o tempo, os membros da oposição conseguiram reunir 8 nomes que não incluíssem nenhum dos dois instigadores principais destes movimentos, a que um chama num grupo de Whatsapp, “Quilómetro Vertical”, e o outro traveste na forma de podcast.  Apesar disso, numa publicação na página pessoal do principal dinamizador da lista, há um agradecimento especial para o “tutor” do “Km Vertical”, pela ajuda na produção da dita lista, apesar de aquele dizer, em mensagens privadas, que a lista “é só velhos” que “arranjaram” para trabalhar, e que “saltou fora”, por não ter tempo. Apesar de tudo, tem o agradecimento do candidato à AG. Fora, vai dizendo que vai ser ele o “elo de ligação à FPA” e vai distribuindo confiança, seja ao selecionador atual, seja fazendo convites para futuros selecionadores, árbitros ou atletas selecionáveis. Muitos colocam-se de fora, não se querendo ver misturados em tal cozinhado, mas outros há, que por desconhecerem estas realidades, caem na conversa, sendo-lhes depois mais difícil voltar atrás. 

Numa mão cheia de nada, apresentam uma lista sem qualquer projeto alternativo para a Associação, tendo inclusive sugerido a um membro da minha lista que, e cito, “até fazíamos uma junção das listas, se o Rui Pinho não estivesse aí”. É um “Movimento contra o Pinho” e não um pelo Trail, como lhe chamaram. Uma lista composta por alguns organizadores ou representantes deles, um deles responsável pela organização de um circuito distrital onde já determinou a sua própria prova como final. Um outro, que propunha organização de circuitos da ATRP onde incluía a sua prova como séries 150, sem admitir discussão relativamente à sua proposta. Outros há que são pessoas sérias, válidas e profissionais, e que poderiam liderar um qualquer projeto. Lá está, se existisse e fosse verdadeira alternativa ao caminho feito pelo Trail nacional. 

E assim se justifica que sejam contra alguém, que tenham uma campanha e discurso “Ad hominem”, contra alguém que não cede a pressões, venham elas de onde vierem. A alguém que personifica uma gestão de uma equipa que já entregou a organização de provas de decisão de títulos nacionais um pouco por todo o País, incluindo a representados na dita lista, em processos de decisão em que sempre colocamos o interesse de todos acima do de alguns.  

Há 4 anos, num esforço logístico que me levou a fazer num dia mais de 1400 km, colocaram-se mesas em Faro, Lisboa e Porto, para além da da AG, em Miranda do Corvo. O critério foi simples, o de as ter nas 3 principais cidades do País, para além da sede, em Miranda do Corvo. Este ano, analisando os Distritos e Concelhos com mais associados com quota em dia, foram as mesas colocadas em lugares estrategicamente acessíveis em curtas viagens, a fim de promover a participação dos associados. Lisboa, Porto, Coimbra, Santarém, Leiria, Aveiro e Braga, são os Distritos com maior representatividade na ATRP. As mesas foram colocadas a distâncias quase equitativas entre todos estes distritos e outros que lhes são próximos, como Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Setúbal, e igualmente representativos (9º, 10º e 11º). Em 18 Distritos, asseguramos assim que haja a possibilidade de votar em locais próximos de 10.  

O ónus desta limitação não pode ser imputado a estes órgãos sociais, que tudo fizeram para que houvesse votação eletrónica.  Podiam, isso sim, ter reclamado da falta de rigor democrático, se, a exemplo do que pretendem, tivéssemos colocado apenas uma mesa de voto, marcando a AG para um local que nos fosse mais favorável, em vez de Lisboa, Distrito com maior número de associados. Assim, terão de mostrar aos associados o que os leva a, legitimamente, se apresentarem ao seu escrutínio, sem subterfúgios legais que os impeçam de participar, já que não quiseram proporcionar-lhes a comodidade do voto à distância.

O meu histórico relativamente ao trail e à ATRP é público, e muito dele consta neste blogue, por isso a publicação deste texto aqui. 

Leiam os projetos (o nosso está aqui), analisem o trabalho feito e votem. Será a melhor forma de mostrar a quem quer só uma mesa e que quer manter a Associação fechada à arbitrariedade das poucas dezenas que se podem deslocar a Assembleias Gerais e determinar assim o futuro de uns largos milhares, que esta é uma comunidade constituída por uma maioria silenciosa e não deve ser gerida pela batuta de uma minoria ruidosa.  




 

quarta-feira, maio 18, 2022

99ª - Ser-se o que se pode é uma felicidade

O Marco, primogénito dos 7 filhos do casal Pinho, corre desde que me lembro dele. No basquetebol primeiro e depois no futebol juvenil do Salgueiros não construiu grande historial, mas era dedicado, e assíduo nas equipas iniciais. Depois, e como todos somos julgados e lembrados pelos nossos piores momentos, “desistiu” do futebol com uma frase que  ouvi e nunca mais esqueci: “O campo é demasiado comprido”, respondeu ao pai quando lhe perguntou porque não queria mais jogar. 

Uns anos mais tarde, já depois da passagem militar obrigatória que voluntariamente fez nos Fuzileiros, voltou ao futebol, agora amador (dos que amam, já que nada mais justifica andar a levar pancada em campos pelados com “direito” a duche de água fria no fim) e por lá andou largos anos, alguns ora comigo na mesma equipa, ora com um ou outro dos 5 rapazes lá de casa. Até aos veteranos manteve a “carreira”. Em paralelo corria. Passado o trauma dos “campos compridos”, lembro-me que correu a primeira edição da S. Silvestre do Porto e algumas das mais antigas corridas populares do grande Porto, nunca excedendo os 21 km da já exigente meia-maratona. Estávamos no tempo em que corriam poucos, muito menos os que pouca corrida treinavam. 
Fiz o primeiro treino exclusivo de corrida com ele, a poucos dias da minha primeira prova - os 7 km da Corrida do Homem e da Mulher, em 2009, que ligava a marginal de Leça a Matosinhos, prova que ele também correu. Depois disso, apenas uma ou outra meia maratona juntos, eventualmente apenas no início, já que ele sempre foi mais rápido que eu (e bastante mais leve). Aventurou-se numa primeira experiência de trail em 2013, na primeira edição do Paleozóico, mas não gostou da maioria das 8h que demorou a concluir aquela que seria a sua primeira experiência acima da distância maratona, e logo numa ultra. Uns anos mais tarde tentou a de estrada, no Porto, tendo vindo a concluir à segunda tentativa, disparando um “não tenho assim tanto tempo para correr, 2h bastam”, voltando assim por mais uns anos aos 21 km de limite. 
Em Novembro último, e depois de muitos treinos por Valongo, voltou aos trilhos, no Trail Longo dos Amigos da Montanha. Inscreveu-se e foi sorteado para a Ultra dos Abutres, mas o covid pregou-lhe uma partida. Adiada a estreia anual para Santa Luzia, voltou aos longos e deixou a ultra, a sua segunda (terceira acima da distância maratona), para Domingo, nos 48 km do Melgaço Alvarinho Trail. Foi ao pódio receber o prémio do segundo lugar do seu escalão, e mais uma vez jurou para nunca mais. Não fossem os interregnos das juras tão longos, e já teria concluído mais algumas. O tirocínio de qualquer um de nós, conclui-se depois de percebermos que jurámos tanto para nunca mais, que vamos acumulando experiências fantásticas, que nos preenchem e nos levam da exaustão à descoberta das enormidades que conseguimos conquistar. 


O texto vai longo e ainda só vos apresentei o Marco. Mas esta minha 99ª maratona, para além da feliz coincidência da companhia do meu irmão, começou e acabou com uma conversa com a Catarina Palmeiro, irmã do Rogério Palmeiro - beirão que todos nos habituamos a ver nas provas longas, com o Pedro Santos e Hélio Costa. A Catarina também correu a ultra. No início fomos uns km juntos, fizemos as apresentações do costume, disse que em era irmã, e contou-me que o Rogério está internado no Hospital da Universidade de Coimbra, para onde foi em estado grave após um acidente. Espera-o uma longa recuperação. Durante toda a prova não mais o infortúnio do Rogério me saiu do pensamento, e fui-me lembrando de tantos com quem corri nos últimos 12 anos, que entretanto por diversos motivos terão deixado de correr. 

O Rogério espalha simpatia. Tem sempre um sorriso e uma palavra de incentivo com todos os que com ele partilham trilhos. É uma verdadeira máquina de dedicação ao trabalho, o que faz com que tenha sucesso nas empreitadas em que se vai metendo, maioritariamente com os também beirões e colegas do Boavista Trail, Pedro e Hélio. Tenho a certeza que vai “terminar” esta ultra que o destino traiçoeiramente lhe atravessou à frente, com o mesmo sorriso com que terminou qualquer outra corrida da sua vida. 


Estaremos todos aqui a torcer pela sua rápida recuperação, prontos para o ajudar e apoiar.

Sou feliz a correr, mas sou muito mais feliz a correr com tantos outros que o fazem com abnegação, dedicação, trabalho e objetivos. Os meus são o modesto “chegar ao fim”, que é o que posso. Não adianta muito sonhar com o que é impossível e feito apenas de fantasia, é sempre preferível a realidade do alcançável. Mas sinceramente, nem nos meus mais rebuscados sonhos, alguma vez imaginei estar à porta de alcançar a 100ª maratona. 


A pobreza de corredor que sou vs a arrogância de querer fazer sempre mais, são imensamente inferiores ao resultado megalómano que acabei por construir. E para aqui chegar foi preciso ter a sorte que a muitos vai faltando. 


Vou meter os olhos num medo qualquer, e abraçar a 100ª. 

99 provas: 34 de 3 dígitos - a maior, 300 km, 23 de “estrada” e as restantes entre os 43 e os 90 km. Tudo junto dá uma bela média de mais de 85 km. 

8495 km. 


Ser-se o que se pode é uma felicidade. 






sábado, maio 02, 2020

UTMB 2017 - Conquistadores do Inútil

Conquistadores do Inútil.

Lionel Terray vivia a montanha intensamente. Desde os 3 anos que escalava por pura diversão. Fugia da escola para as montanhas para desagrado dos pais e tornou-se agricultor em Chamonix quando esta não era ainda a varanda turística que agora se tornou. Aos 21 anos entrou na Escola de alta montanha e daí até à sua morte tornou-se pioneiro em várias conquistas, desde o primeiro a esquiar a face Norte do Monte Branco ou a ser um dos primeiros a subir a um cume acima dos 8.000 metros - o Annapurna em 1950. Morreu aos 45 anos num acidente de escalada numa "parede" fácil do seu "quintal" próximo de casa. Está enterrado no Cemitério de Chamonix - um autêntico "panteão" de homens da montanha e que vale a pena visitar.

As conquistas de Lionel e de muitos dos que no seu tempo se aventuravam nas montanhas eram de um significado especial para o próprio mas, no momento, eram uma inutilidade para ele e apenas um motivo de regozijo quando contasse aos demais. Não havia fotos ou diretos.

No Monte Branco por que Lionel se apaixonou e que atrai tantos aventureiros há algumas histórias de conquistas inúteis. Todos os que conquistaram o lugar na partida e que por um motivo ou outro não puderam correr, pelos que partiram com problemas físicos e fizeram menos do que esperavam, mesmo os que correram 3 km e tiveram que parar. 30, 70 ou 120 km no Ultra Trail Monte Branco significam sempre conquistas inúteis. Conquista de pontos, conquista de uma subida, de mais uma descida, de mais uma noite sem dormir ou de mais um km. São as nossas conquistas inúteis. Subimos mais um cume no carrocel que nos desenham e ali, quase sozinhos, interiorizamos mais uma conquista. Inutilmente para os demais, se não chegamos à meta.

O que todos temos em comum com Lionel é que para chegar às conquistas que o notabilizaram, houve muitas mais que só a ele satisfizeram. Inúteis.

Parei aos 70 km do UTMB. Os motivos pouco importam. Os 4500 d+ que fiz até ali foram divididos por 4 "cumes" à Lionel - inúteis, mas conquistados. Agora vou receber os que vão chegando a Chamonix com muito mais pequenas grandes conquistas - km a km, metro a metro de superação que mais não lhes dão que uma satisfação e sensação de conquista com pouco significado se ficarem pelo caminho. A chegada à meta é o prémio que só quem lá andou percebe. Por cá todos vivem a montanha e dão aos finalistas a honra das palmas merecidas. Reconhecimento do que conquistaram, inutilmente no momento e cheio de significado no final. A volta dentro de Chamonix é o que torna tão especial tanta conquista.

sexta-feira, abril 17, 2020

O estudo que não é um estudo e que se tornou viral

O Estudo que nunca foi um estudo mas que se tornou viral como se alguma vez tivesse sido um estudo, afinal não é um estudo.

Confusos?

O ser humano tem queda para comportamentos de... manada, comportamentos estes ampliados pelo medo. Se nos dizem que vem aí o lobo, logo nos enfiamos num qualquer buraco com medo do lobo, especialmente se nos mostrarem pessoas a ser comidas, tanto mais se eram as que não acreditavam que havia um lobo.

Nos últimos dias, uma simulação feita em computador por uma equipa de engenheiros belgas que nos mostra o efeito spray das exalações, tosses e espirros de pessoas que estão a correr, a caminhar ou a andar de bicicleta tornou-se viral. Talvez tenha visto este gif no Twitter, Facebook, ou NextDoor. Ou, como eu, talvez lhe tenham sido enviadas mensagens escritas por amigos ou familiares preocupados.




Embora este não fosse o objectivo específico da simulação, está actualmente a ser usada nas redes sociais como prova científica de que as pessoas que estão a correr e a andar de bicicleta estão a pôr outras em risco. Se está a apanhar com "gotículas" ou "perdigotos" em si, a percepção com que fica, é que está em risco de contrair coronavírus.

"As pessoas devem ler e não ler mal os meus tweets e textos", escreveu Bert Blocken, da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, o principal investigador da simulação, num e-mail para a Motherboard. "Nunca e em parte alguma desencorajei as pessoas de caminhar, correr ou andar de bicicleta". Antes pelo contrário. Talvez as pessoas devessem ler mais, e reagir menos".

Blocken ainda não publicou um documento revisto por pares sobre a simulação. De facto, ainda nem sequer publicou um estudo não revisto por pares. Em vez disso, falou com um repórter Belga sobre o assunto, que por sua vez escreveu um artigo noticioso, que foi agora agregado e amplamente partilhado por muitas publicações. Tendo em conta o que Blocken concluiu e divulgou, tomado à letra, algumas pessoas estão compreensivelmente a concluir que é impossível correr ou andar de bicicleta em segurança nas cidades - ele recomenda uma distância de 20 metros entre os ciclistas e outras pessoas, algo que é impossível de fazer nas cidades. A questão com a sugestão de Blocken de que "lemos mais e reagimos menos" é que não há quase nada para ler, e não há estudo para criticar.

A equipa de Blocken deu o extraordinário passo de falar à comunicação social sobre a sua investigação antes de publicar qualquer coisa sobre o assunto. Não há nenhum estudo escrito para ler ou interpretar. Não conhecemos as especificidades sobre como o estudo foi feito ou como a simulação foi feita, porque a equipa de investigação não partilhou essa informação.

No Twitter, Blocken disse que "atendendo à excepcionalidade desta crise, por ser tão imediata e surpreendente, excepcionalmente, virámos a ordem do avesso": (1) meios de comunicação social, (2) hoje apresentei a proposta de financiamento (3) artigo de revisão pelos pares, mais tarde. O público não pode esperar meses pela revisão pelos pares. Tenho um pequeno texto, vou colocá-lo no Linked In na próxima hora".

Um dia depois, esse post do LinkedIn ainda não tinha sido publicado. O que a equipa publicou é algo a que chama um "white paper", mas que na verdade é uma versão traduzida para o Google do artigo do jornal belga que não foi escrito por Blocken ou pela sua equipa, mas que o cita. Ansys, a empresa que fez a simulação em parceria com Blocken, também publicou um pequeno mas vago comunicado de imprensa. Entretanto, esta simulação tornou-se viral.

via GIPHY

Um artigo escrito por Jurgen Thoelen, que se descreve como um "empresário, construindo nuvens em todas as formas e feitios e atleta ao longo da vida" foi partilhado milhares de vezes. O artigo tem sido partilhado em grupos de whatsapp, no Facebook e no Twitter, e está a ser usado para fomentar uma batalha entre caminheiros, corredores e ciclistas. Um comentário típico é algo como isto, partilhado numa página do Facebook: "Aos egoístas" da minha cidade: "As pessoas continuam a fazer isto. Corredores e ciclistas com zero de consideração pelos outros 🤬🤬".
A simulação que não é um estudo foi assim partilhada com pouco ou nenhum contexto, e os boatos e medos espalharam-se por si mesmos.

Nada foi apresentado sobre as especificidades ou método deste ensaio, do que ele realmente mostra, quais poderiam ser as suas limitações e como foi feito. O que sugere pode ser exacto e útil, mas não há forma de o comprovar. E no entanto, esta investigação já está a ser utilizada para pedir às pessoas que mudem o seu comportamento e a ser apresentada como prova definitiva de que correr e andar de bicicleta são actos irresponsáveis durante a pandemia.

Blocken disse num e-mail, que não era essa a sua intenção.

"A escolha foi feita de comum acordo com todos os investigadores envolvidos e ambas as agências de comunicação universitárias. A crise é mundial e a situação é urgente", escreveu. "Não queríamos manter os resultados em segredo até termos encontrado tempo para escrever a história completa". Se eu tivesse feito o contrário, teríamos sido igualmente criticados. Dado todo o alarido que agora noto, farei mais um esforço e publicarei a história completa no Linked In ainda esta noite".

"A propósito, isto é aerodinâmica e não virologia. A COVID-19 não vai esperar meses ou até o nosso artigo ser publicado."

Blocken tem razão: Enfrentamos uma situação urgente, e é importante que a investigação científica rigorosa seja divulgada o mais rapidamente possível. Mas centenas de outros cientistas conseguiram publicar, nas últimas semanas, estudos sobre o coronavírus revistos por pares, numa escala temporal acelerada. Milhares de outros publicaram estudos que não são revistos por pares, mas que são, pelo menos, estudos da forma como costumamos pensar neles: Os métodos utilizados e conclusões são explicados de uma forma rigorosa que deixa espaço para o contraditório. Embora esta seja uma situação extraordinária, por alguma razão existem salvaguardas em algumas publicações científicas, e já vimos durante esta pandemia que processos precipitados levam à publicação de más e imprecisas conclusões (isto não sugere que a investigação de Blocken é má ou imprecisa, não temos forma de o saber ou afirmar, tendo como base o que foi publicado).

Mesmo que as simulações sejam verdadeiras, devem ser os virologistas e peritos a fazer recomendações de saúde pública, e não "jornalistas" free lancers nos "media", que foi o que aconteceu. Este tipo de investigação é obviamente importante e deve ser feito, mas deve ser divulgado de forma responsável, com as advertências, limitações e incógnitas claramente explicadas e só depois ser utilizada por virologistas e responsáveis de saúde pública para fazer recomendações concretas às pessoas.

Mostrei a investigação de Blocken a William Hanage, um epidemiologista do Centro para a Dinâmica das Doenças Transmissíveis de Harvard. Diz que é um péssimo sinal o facto de a da investigação de Blocken se ter tornado viral e que a sua sugestão nas conclusões de que esta investigação é um "modesto contributo" para a luta contra o Covid-19 o deixou "particularmente irritado".

Ainda não há a evidência científica da propagação do coronavírus pelo ar, havendo até a percepção de que o risco global de transmissão parece ser menor ao ar livre. Os glóbulos e as gotículas são provavelmente portadores do vírus, mas isso não significa que alguém que recebe uma gotícula do hálito de alguém vá ser infectado. A transmissão depende de uma série de factores; um deles é a "carga viral", que é a medida de quanto do vírus está presente em cada gotícula.

"Do lado da epidemiologia - onde as gotículas são muito menos relevantes do que a quantidade de transmissão que ocorre por esta via", disse Hanage. "Os conselhos sobre o afastamento físico consistem realmente em *reduzir* o risco de transmissão, em vez de o eliminar completamente". Refere que estudos como este "não são realmente úteis", pelo menos, não para os epidemiologistas. A quantidade de transmissão a partir desta via, mesmo que seja possível, será infimamente menor que outras". E acrescentou "é preocupante" a rapidez com que o estudo tem sido difundido... especialmente "quando se considera que tive de escrever este e-mail para o comentar em vez de dar os toques finais a um modelo de transmissão em ambiente hospitalar".

Numa nota de rodapé das conclusões sobre o ensaio, Blocken admite que "actualmente o tema de debates intensos entre cientistas de todo o mundo - é até que ponto os resíduos de micro-gotas com o vírus, após evaporação, ainda comportam um risco de infecção". A continuação da investigação virológica deveria lançar mais luz sobre esta questão". Na semana passada, Ed Yong, do The Atlantic, falou com vários virologistas sobre este assunto, e ainda não há consenso sobre o perigo de se fazer exercício físico ou andar na rua, mas há muita investigação que sugere que os benefícios para a saúde mental do exercício são importantes e bastante relevantes. A questão da carga viral e da transmissão não é abordada nem mencionada no artigo original, nem no jornal belga Blocken. Quando questionei o autor se não o preocupava o facto de o seu trabalho se ter tornado viral, especialmente por se basear em conclusões de não especialistas, ele respondeu: "Estou surpreendido com esta pergunta. O senhor, com a sua experiência, deve saber que apenas se pode controlar a primeira linha de atenção dos meios de comunicação social, mas depois as pessoas escrevem histórias das histórias, e é praticamente impossível controlá-las", escreveu. "Isso teria acontecido igualmente se o artigo completo já tivesse sido publicado. Esta não é a minha primeira grande cobertura mediática, por isso já lá estive, já o fiz. Há imprensa livre".

Hanage diz que não há problema em fazer exercício no exterior, desde que se "aplique o bom senso". "Penso que há um equilíbrio", disse, "a não ser na situação em que existam taxas realmente elevadas de transmissão comunitária.

Texto (mal) traduzido daqui.

quinta-feira, dezembro 05, 2019

Algarviana Ultra Trail 2019 - O amor à amizade



Dizer o que nos faz tentar correr 300 km por serras, cerros e barrancos, numa permanente luta contra as adversidades e contra o tempo - que é limitado entre todas as etapas -, é um exercício difícil de concretizar. Já explicar o que nos leva a repetir uma experiência destas, passa de difícil a possível, quando imediatamente depois de a terminarmos, sentimos saudade do conforto que todo aquele staff nos transmite, e descarregamos num choro mais ou menos encapotado toda a emoção que fomos acumulando ao longo de um caminho árduo que nos levou até ali, à tão desejada Ponta de Sagres.
Numa prova de mais de 300 km, o apoio tem uma importância significativa. Tão significativa que depois do sono reposto, e do regresso a casa, todas as palavras ditas e escritas vão diretas a quem nos incentiva, acarinha ou suporta no terreno, sem esperar nada mais que talvez um sorriso em troca, fazendo deste Algarviana Ultra Trail um hino à amizade.
Diz a sabedoria popular que os melhores amigos se fazem nas adversidades - "no hospital, na tropa ou na cadeia"-, isto talvez porque quando estamos mais vulneráveis, nos juntamos a quem conhece e partilha dos nossos receios, males ou fraquezas. Nos trilhos é habitual encontrarmos gente que jamais esqueceremos. É ainda mais habitual vivermos momentos inesquecíveis, com o inevitável colocar de marcos onde as emoções se refletem na superfície da pele e nos fazem arrepiar de cada vez que as invocamos.
Nas 11 bases de vida da ALUT, há gente que nos acolhe nos braços com a ternura de quem protege seres demasiado frágeis, e a bravura de quem admira os afoitos guerreiros que numa marcha gloriosa vão vencendo hordes de inimigos. Somos todos soldados de um exército em batalha contra os elementos de uma serra que não faz reféns, como provam as dezenas de baixas que provoca a cada edição. Feridos, mas não tombados, a principal onda de atletas segue os soldados mais capazes, personificados nos que mais rapidamente cruzam todo o percurso. Pelo caminho, ao contrário das guerras a sério, não se fazem reféns, fazem-se amigos.
Entre tantos guerreiros e permanentes batalhas, há reforços que vão chegando e outros que por lá andam, que nos confortam na partida e chegada de cada uma das 11 encadeadas lutas. Braços de outros recolhem-nos, tomamo-los como nossos, açambarcamos o conforto que nos proporcionam e fazemos deles nossos. Fazemos em cada cara repetida um amigo antigo e em cada cara nova reclamamos a sua dedicada amizade. 
Soldados que soçobram às batalhas juntam-se ao exército da nossa - dos que ficam-,  salvação. À medida que as horas passam e a Serra do Caldeirão e o seu nascer-do-sol único vão ficando para trás, aumenta um em detrimento do outro. Os resistentes vão desistindo, os desistentes resistindo e os combatentes insistindo. 
A partir da segunda noite, os que de nós gostam ou de nós têm dó, rumam ao Algarve serrano em nosso socorro. Sem poderem batalhar a nosso lado, juntam-se aos exércitos que nos aguardam quartel a quartel, enchendo-nos de brio e orgulho, embebedando-nos com mimo, transformando o conforto em motivação para os podermos ver de novo a todos, conhecidos, amigos antigos e recentes. Assim vamos lutando e vencendo, uns todas as 11 batalhas, outros umas quantas de um lado, as outras do outro, sem nunca despirem a pele de lutadores. 
Nas lutas com os trilhos, para além de amigos, somamos inimigos. As bolhas, o frio, o sono, o cansaço, as pedras do caminho, a chuva intensa e fria embrulhada pelo denso nevoeiro da Fóia, a fome ou o enjoo, a sede, os pés e as pernas que latejam a cada passo serpenteado por Monchique rumo à Picota que tarda em chegar. Entre dias e montes curtos e noites e subidas mais ou menos longas, a maior luz é a dos sorrisos que nos esperam, das vozes que imaginamos nas mensagem que lemos ou que ouvimos nas raras alturas em que a rede permite uma chamada, o telefonema a que todos temos direito, mesmo sendo reféns das nossas decisões. Continuamos km a km, base a base até ao glorioso caminho final que nos faz entrar num pequeno paraíso com que sonhamos desde Alcoutim: A Ponta de Sagres e o seu Farol. Ali, entramos com todos os que nos trouxeram caminho fora, amigos chegados, amigos desconhecidos, amigos que jamais esqueceremos. 
Num cantinho inesquecível desta minha viagem ficam a Flor, o Rui, a São, o António, o Carlos, o Teodoro, o Conceição, o Germano, o Bruno, a Fátima, a Alexandra, a Liliana, o Gabriel, a Cláudia, o Jorge, o João, o José e tantos outros que correram a meu lado ou tão só me deram um minuto de si, que significou muito mais para mim. A juntar aos amigos humanos, em mais uma edição do ALUT, não podia faltar uma companhia "animal". Na etapa mais desafiante para o cérebro e para o corpo - a 9ª, de Marmelete a Barão de S. João - uma etapa de 36 km que normalmente ocupa grande parte da 3ª noite, juntou-se a mim e ao António, o "Tiro" da Fóia, um cão gigante com ares de pastor, preto, que nos acompanhou até ao abastecimento e que, ali chegado, se deitou ao meu lado a dormir. Tinha corrido mais de 40 km desde casa, onde regressou no dia seguinte, depois de contactado o dono. Amigável e simpático, protegeu-nos das investidas de matilhas de pequenos canídeos agressivos e foi-nos alegrando o caminho. Um amigo improvável, de onde menos esperavamos, numa terra onde são seguramente mais que os humanos. Neste cocktail de "gente" boa, juntaram-se dois fundamentais amigos: O Miguel e o João Paulo, que vieram do Porto segurar-me nos ombros até à meta e levar-me ao "colo" até casa. 
É por isto que voltamos, pela amizade e pela luta. Pela dor e pela glória. Pelo desconhecido que sabemos que vai ser nosso amigo e pelos nossos amigos que sabemos não nos abandonarem nunca. Pelas noites longas e pelo céu polvilhado pela forte luz das estrelas que, aqui e ali, caem em direção ao infinito, pelos nascer e pôr do sol, pelos que nos esperam por ali, horas a fio. Partimos e chegamos todos juntos.
O ALUT é o lado do Algarve mais genuíno e reconfortante. É um caldeirão onde se misturam a amizade e a resistência, temperados com o recôndito onde não se chega sem alma. Uma sana loucura.

É o amor à amizade.







quinta-feira, julho 18, 2019

Santiago - Finisterra 2019

Já faço "Caminhos" desde 2013.

Quando saí para o primeiro fomos logo avisados pelo mais experiente "Caminheiro" do grupo de que, depois de fazer um "caminho", não há quem não queira voltar.
Esse primeiro, bem como o segundo, foi o Caminho Central Português, caminho mais utilizado por cá, passa por Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tuy, Pontevedra, Redondela, até "entroncar com todos os que existem, no seu "fim", Santiago de Compostela. Há um ano fiz o Português da Costa, hoje em crescimento dado que utiliza toda a recente estrutura construída à beira mar entre Matosinhos e a Póvoa de Varzim (e que "esvaziou" o original, por Santiago de Custóias), fazendo deste o mais escolhido por quem nos visita com este propósito e que desfruta assim da agradável temperatura das praias do norte. Confesso que foi um dos que mais gostei de fazer, pela envolvente natural - varia entre as bucólicas zonas de campo pouco distantes do mar e os imensos areais minhotos -, e pela pouca afluência na chamada Costa da Morte - a Costa galega, mais de pedra do que de areia. Os momentos de introspecção são muitos, as distâncias percorridas sozinho são também imensas, o que nos faz sentir sempre mais peregrinos que meros caminhantes. Tudo isto sem nunca nos sentirmos fora do "Caminho", cruzando sempre, aqui e ali, peregrinos solitários ou em pequenos grupos. Não se vêem por aqui grupos numerosos de "peregrinação", como vulgarmente se encontram nos mais utilizados.

Em Dezembro de 2014 fui pela primeira vez fazer o Caminho de Santiago a Finisterra. Fomos, eu e a Susana - por sua proposta, fazer o que sobra depois da chegada à (demasiado) urbana Santiago e a sua movimentada e ruidosa Catedral. Surpreendidos pela extraordinária monotonia de verde, aqui e ali rasgado por rios e algumas (poucas) casas, desfrutámos de cada hora daqueles três fantásticos dias de Inverno, e do fim ideal, junto ao mar. Podem ler o relato aqui.

Este ano, num desafio surgido na noite da passada quinta feira, a meio de um churrasco de verão, convenci o Meixedo a fazer o mesmo Caminho. Aliciado pelo facto de não acabar em Santiago, mas sim em Finisterra, e adequado aos 3 dias que tinha disponíveis, aceitou de imediato. No dia seguinte lá fomos, rumo a Compostela. Noite dormida, partimos trilho fora. Não consigo descrever tudo o que por lá fomos vivenciando e experimentando, entre dias de aguaceiros de verão, daqueles de trovoada que deixam no ar o cheiro a terra quente e húmida, outro de sol chato e persistente que nos fez terminar o dia com um mergulho na praia de Muxia, e que precedeu o de clima ideal para quem quer desfrutar sem "derreter" ou tremer de frio um dia de névoa da costa noroeste da península, dos que não dão para ir à praia, mas que também não são de ficar em casa. Não há mais para dizer, seriam incompreensíveis palavras para quem nunca se fez ao "Caminho", e redundâncias para quem já teve o privilégio de os percorrer. Formidável Caminho, manancial de páginas marcadas para a vida.

De todos os que fazemos há sempre histórias para construir uma "tela" na nossa memória, e há sempre palavras, episódios ou pessoas, que nos fazem recordar aqueles dias, que os retratam na perfeição. Neste, como no primeiro, ficou-me na memória uma frase de um rapaz - francês, a julgar pelo sotaque -, 35, não mais de 40 anos, tez morena, cabelo a roçar o louro por baixo do pó que o cobria (ao cabelo e às roupas - escuras, clareadas pela poeira dos dias). Desvendou-nos com alegria no olhar o significado da frase que ilustra uma pequena "loja" (bar?) na rua principal de Finisterra, quase a chegar à cidade velha. "Sabes porque é que o verdadeiro Caminho começa no fim?" (em inglês), num tom moderadamente elevado para fazer notar a pertinência da pergunta; a resposta veio com a mesma rapidez, mas num tom já mais atenuado por já ter cativado a nossa atenção: "porque tens sempre vontade de regressar, como temos sempre vontade de buscar o sol, na vida e na natureza". Não falou mais. O João retomou a marcha com um "vamos ao km 0 e já voltamos", eu segui-o. Não voltamos porque tivemos de apanhar um autocarro, o último que nos dava ainda uma esperança ténue de chegar ao Porto no mesmo dia, necessidade imposta por obrigações profissionais. Podemos calcorrear km, caminhos múltiplos, trajetos sem fim. Nunca se sabe o que começa ou acaba, mesmo que nos pareça o início, o epílogo ou o princípio do fim. O(s) caminho(s) que fazemos são sempre mais do que aquilo que (nos) parecem. O Caminho, como explicava o eloquente "francês"(?), é uma espiral de ida e volta, é um ciclo sem fim, com aparentes pontos extremos.



Fica mais uma excelente experiência, ficam as memórias, ficam as vivências, ficam os laços que sempre se consolidam nestes dias de mochila às costas em que nos parece que viveríamos melhor com muito menos do que achamos precisar. Nada é o que parece ser, e tudo pode ser aquilo que nos parece.



Sigamos (n)o Caminho, vivendo o melhor que pudermos e soubermos.