Sou uma espécie de cancioneiro da corrida. Não faço relatos, transmito os sonhos que vivo nas minhas aventuras. Vou fazendo das tripas motivação.
segunda-feira, julho 25, 2011
escritor
Eu, que não sou Escritor nem me atrevo a pensar ser, faço uso do prazer de escrever.
Vou escrevendo pensamentos, estados de espírito, sentimentos e considerações.
Tenho dias bons e maus, actos bons e menos certos e opiniões sobre tudo isto e, essencialmente sobre a vida.
Há sempre quem se sinta pior do que tu, mas nunca há quem sinta por ti. O prazer, a angustia, a vontade e a conquista, não sendo as maiores ou as mais fortes entre todos, serão sempre as maiores para ti.
Colocas no que vives o peso do Mundo, mas o Mundo é grande demais para ti. Tens um Mundo só teu que pesa tanto como o real, mas que é mais imperfeito que o ideal. Parece que quando algo vai correr mal, corre mesmo, e que quando alguma coisa vais conquistar, fica sempre um pouco por ganhar. Nunca, mas nunca estamos satisfeitos com o que conseguimos alcançar, nem conformados com o que vamos perdendo. Mas na vida saímos sempre a perder, quando não a aceitamos como ela é: Egoísta umas vezes e altruísta outras. E se não reclamamos quando ganhamos, aprendamos então a aceitar as vicissitudes da vida com a complacência que ela merece.
O castigo de escrever enquanto aluno, enquanto miúdo que queria muito brincar e pouco estudar, deu-me a prática e despertou-me a criatividade.
A vida é como uma Mãe. Da-nos o que queremos e o que achamos que não precisamos, a todos por igual.
Afinal, somos seus filhos.
Escrever, para mim, é viver.
sábado, julho 23, 2011
Corredores todo o terreno
Eu, que achara a Corrida da Freita dura, mas que me tinha deixado um gosto especial pelo trail, acho agora que toda a corrida de montanha é dura mas deve ser apreciada. Foi o que fizemos hoje.
Há uns dias, quando fui informado da realização de um treino Free-Running na companhia do José Moutinho, grande impulsionador do trail em Portugal e um apaixonado pela Freita em particular, onde organiza a mais dura Ultra de montanha em Portugal, decidi na hora ir.
Organizados e distribuídos pelo menor número de carros possível, lá fomos chegando bem cedo ao Merujal. 9h da manhã, equipados a rigor, fomos em direcção ao Concelho vizinho de S.Pedro do Sul, rumo ao Parque de Campismo Retiro da Fraguinha, donde haveríamos de iniciar o treino Free Running, como o nome indica, sem competição, com liberdade de andamentos, mas, como referido pelo José Moutinho no briefing, onde todos se preocupam com todos.
Lá partimos, rumo à aventura, sem a pressão de uma prova, mas com andamento vivo.
Os primeiros dois quilómetros, em subida ligeira até aos 1026 m (tínhamos começado nos 920), fez-se por um terreno bastante acidentado e com muitos tojos, que nos picavam as pernas e atrasavam o andamento, já que as ultrapassagens não se verificavam. Os mais astutos tiveram de esperar mais uns quilómetros para dar asas à destreza. Já no alto, na garra, onde emborcam vários trilhos (cinco no total dão acesso àquele local, daí o nome), novo briefing do Moutinho para nos mostrar alguns dos locais de passagem da Ultra, num ponto magnífico, de onde se pode apreciar uma grande parte do Maciço da Gralheira.
Iniciámos então a descida rumo à aldeia da Póvoa das Leiras pelo famoso Trilho dos Incas, que, ao que parece, ligava originalmente à aldeia de Covelo de Paivô, em Arouca. O nosso guia, Moutinho, que tinha como intenção dar-nos algumas dicas sobre técnica de trail, inicia a dita descida com uma simples explicação sobre como colocar os pés para manter o equilíbrio e evitar entorses, o grande inimigo dos corredores de montanha e que viria, mais à frente, a vitimar o próprio Moutinho. Quando demos conta, ninguém! Nem Moutinho, nem os que o conseguiram acompanhar, não víamos ninguém abaixo de nós. Lá seguimos, com um novo guia, o Manuel Veloso, de um pequeno grupo que se havia formado e que, atentos ao chão que pisávamos, não nos preocupamos com direcção diferente da que levávamos enquanto houvesse trilho. E o dito acabou mesmo, junto a uns postes de alta tensão, e sem sinais do resto do grupo. Num topo de mais uma montanha, ao fundo uma antiga mina de exploração de volfrâmio, um rio, uma estrada em terra, mas corredores nem vê-los. Toca a fazer soar o apito, que alguns levavam e que serve para chamar os atletas e sinalizar a localização de uns e outros. Com silêncio, aguardamos resposta, mas sem sucesso. Chega entretanto o Carlos Rocha e orienta-nos. Tínhamos falhado uma viragem à esquerda nos Três Pinheiros, uma espécie de cruzamento em montanha, que divide trajectos, e que o próprio já falhara, dois anos antes na Ultra da Freita. Lá recuamos os dois quilómetros que já havíamos descido desde as ditas árvores, que alinhadas e únicas num raio de umas centenas largas de metros, faziam de sinal de trânsito, junto com umas mariolas (pedras sobrepostas, colocadas por pastores, que servem como marcos) que assinalavam o local para encarreirarmos, literalmente, de novo no grupo.
Reagrupados, seguimos em passo tão acelerado quanto possível, rumo à Povoa das Leiras, onde nos abastecemos de água, fresquíssima,em simpática convivência com os (poucos) habitantes locais com que nos fomos cruzando, inclusive com algumas vacas arouquesas que serviram de modelos aos fotógrafos de ocasião. Alguns dos que já sofriam da dureza do percurso e suas vicissitudes (quedas), atalharam caminho rumo ao ponto de partida, os demais, seguimos empedrado abaixo, rumo à aldeia do Candal. Com a grande maioria sedenta de corrida, o ritmo aí acelerou, até demais face ao percurso, com muitas pedras soltas, mas onde os mais experientes nos passavam com uma velocidade que assustava os menos avisados. O Moutinho, conhecido pela sua destreza, ao colocar um dos pés sobre uma pedra solta, torceu-o, ficando com uma pequena lesão, que, contudo, não o impediu de continuar. Já no Candal, começa a cruz. Quatro quilómetros em subida, com percentagens grandes no início, um desnível de mais de 400 metros, e um sol implacável sobre nós, que fez da subida da Mizarela uma bela recordação. Encosta acima, atrás do Jorge Azevedo, que se iniciou na corrida em Janeiro, mas, a fazer jus ao ano em que nasceu (1967, ano da Cabra no horóscopo chinês), já tem um enorme à vontade naqueles terrenos, seguimos em fila e com pouca vontade de fazer comentários. Olhávamos para cima e parecia que vinha sempre uma subida ainda mais inclinada. Uff!!! Dura, muito dura, atendendo ao calor que se fazia sentir àquela hora do dia (12h) e já com mais de 2 de treino. Vou ficando para trás, passa-me o Fernando Leite, a Conceição Grare, o João Vieira, todos com poucas falas, (excepto a Conceição, que é atleta de outro nível, e que vinha calmamente a falar ao telemóvel), apenas a preocupação de saberem se eu estava bem. Eu lá dizia que sim enquanto bebia mais um pouco de água, não fosse desidratar, mas a “penar”. Chegado a pouco mais de meia subida, passa o Manuel Veloso. “Mau”, penso, “parece que, não tarda, rebolo até ao Candal outra vez”. Não foi preciso. Como diz o Freitas (um dos atletas que acompanhou o Moutinho e que ajudou a guiar-nos) no trail, começamos a matar e acabamos a morrer. É mesmo isso, penso. E mesmo assim gostámos!
Chego, a transpirar em bica, ao alto, onde já o grosso do grupo aguardava à sombra de algumas árvores que ainda restam, já que os incêndios têm destruído, também ali, quase toda a floresta, sento-me por momentos, poucos, já que, a malta toda se preparava para atacar a parte final do troço, rumo ao Parque da Fraguinha. Uma outra hesitação no início da descida, mas, já no rumo certo, lá fomos trilho abaixo, a correr e a pular de pedra em pedra, por uma descida para destemidos, que acabava no ponto de onde partíramos e de onde regressaríamos ao Merujal.
Já depois de tomado o retemperador e refrescante banho, iniciámos a prova principal. Sopa da Pedra, Vitela estufada, acompanhada de arroz e salada. Vinho e cerveja para repor líquidos, que nem só de pó vive um runner.
Parabéns cantados ao Rui Vilar, que discursou eloquentemente e agradecimentos do nosso Presidente, em nome de todos, ao José Moutinho, que os retribuiu, lá regressámos ao rebuliço da Cidade que nos dá o nome, com mais uma experiência agradável na montanha.
Obrigado a todos pela companhia num excelente dia (mais um) de corrida.
Somos mesmo todo-o-terreno!
sexta-feira, julho 22, 2011
Cruel ingenuidade
Hoje pela manhã, quando um grupo de idosos se cruzavam com uns miúdos que aguardavam instruções das educadoras, os petizes desataram a chamar "velhotes" aos... Velhinhos.
Não gostei da passividade dos monitores das crianças, mas adorei a reacção dos idosos; com ar jovial, soltaram umas caretas engraçadíssimas, como se fosse um duelo entre jardins escola. Os miúdos, pasmados, quedaram-se incrédulos.
A ingenuidade pode ser cruel. Mas só mesmo para quem vê, porque para aqueles anciãos, com muitos anos de "bagagem", não passa de uma oportunidade de continuar a viver o dia-a-dia, como se fosse o primeiro dos últimos, enquanto os outros se sentem com o Mundo inteiro só para eles.
quinta-feira, julho 21, 2011
Oportunidade perdida
Não, não foi um golo falhado. Mas só porque não foi num jogo de futebol.
Foi como se uma janela se abrisse, e eu, enquanto prisioneiro de uma cela sem porta, não a tivesse visto. A nortada que vai soprando nestes dias de verão (?) fez com que não sentisse a corrente de ar, que provocou quando escancaradas as portadas.
A vida na maioria dos dias parece um jogo de espera, uma espécie de montaria de caça grossa em que o caçador, silencioso, aguarda numa porta sorteada a passagem das peças. E há com cada peça…
Surpreendo-me muitas vezes com feitios, com o efeito que as pessoas acham que ainda me provocam. E não sendo fácil provocar-me, não deixa de ser muitas vezes oportuno incomodarem-me com a mesquinhez, inveja e egoísmo que caracteriza muitos dos imbecis que por aí pululam.
É no entanto nestas altura, que sinto que a oportunidade que a alguns foi dada, não passou de uma balda, uma oportunidade perdida na esperança que sempre ponho em todos os relacionamentos que inicio.
E depois, há aquelas oportunidades que tanto esperamos, e que quando chegam, algo nos fez desviar a atenção, olhamos para outro lugar e quando voltámos a procurar, já passou.
Estas, às vezes doem. As outras, dou de barato.
terça-feira, julho 19, 2011
O País das sete colinas
Sempre que leio uma notícia relativa a assaltos, distúrbios ou agressões no Portugal rural, reparo nos lamentos de população, autoridades e políticos locais, relativamente à falta de efectivos das forças de segurança, normalmente da GNR.
Espanto-me quando leio que, só em Lisboa, esta força de segurança tem cerca de 6.000 (!) efectivos. Compreendo. Pode haver alguma invasão do Terreiro do Paço, como em Abril de 1974, e não estar por lá a força civil necessária à manutenção da ordem. É a chamada segurança de proximidade… Do poder, claro. Estão ali para, como em tudo neste País, coordenar a Guarda desde a Capital.
Lisboa tornou-se uma espécie de capital de império, de onde devem partir as colunas em conquista, e sem território ou povos para conquistar. Limitam-se a engordar os arquivos centrais com papéis e mais papéis, enquanto o resto do burgo está a saque.
Entretanto, também lá pela capital, o Reitor da Universidade Católica, anunciou a aprovação de um conjunto de recomendações, quanto à indumentária que deve ser usada por todos os que frequentam o conceituado campus académico. Assim, e como se pode ler aqui, Manuel Braga da Cruz, que preside ao Conselho Académico, deu como exemplo um conjunto pitoresco, “chanatos e camisola do Benfica”, que atesta bem das preocupações a que já chegou a reflexão do dito Conselho.
Dois exemplos de desperdício de tempo: O dos efectivos da GNR que deveriam estar pelo País fora a fazer aquilo para que foram formados, que é garantir a ordem e a segurança publica, em vez de se dedicarem a burocracia, e o do Conselho Académico da Católica, que se deveria preocupar mais com a pedagogia, a fim de evitar que um estudante universitário desconhecesse qual a indumentária adequada para frequentar um espaço público de ensino.
segunda-feira, julho 18, 2011
E o que fazer enquanto esperas?
Se esperas mudança, não esperes sem a provocar, porque quem espera nem sempre alcança, porque para alcançar é preciso lutar.
Vícios sociais
Não sei qual dos dois vícios será pior, mas andar pela rua fora a escarafunchar orifícios que não o devem ser em público, não me parece nada social. Ao contrário da cafeína, as bolas que fazemos dos macaquinhos que extraímos dos orifícios nasais, não nos fazem despertar, nem tão pouco nos proporcionam conversas de circunstância. Tentem observar o gesto mais repetido pelas pessoas enquanto esperam que o semáforo passe a verde e vão ver que uma grande percentagem limpa a "penca". Em período estival, usa-se muito o tirar o macaco e, com o braço bem de fora, formar a bola até que caia.
Caso se desloquem em transportes públicos, o acto mais repetido deverá ser o de coçar partes íntimas, ritual tido como obrigatório para não se ser assaltado. Ou então, deverá pôr de parte o uso de qualquer desodorizante, viajar de pé e agarrar-se a um varão bem alto.
Nos autocarros, caso encontre alguém conhecido, fale bem alto, para que todos possam ficar a conhecer um pouco mais de si.
Como estamos em época balnear e há pouco disto na rotina normal, como qualquer "socialite", desloque-se a uma praia, que os hábitos sociais se mantêm por lá.
Tirar macacos do nariz, coçar os tomates, mijar na água e mandar os meninos fazer o mesmo (se for necessidade sólida, fazem num balde de brincar com a areia e depois enterram), depois de esvaziar a geleira, são os vícios mais vistos pela orla costeira.
sábado, julho 16, 2011
O Grupo Impresa e o jornalismo sério
Acho imensa piada a estes jornaleiros que se acham grandes investigadores, e que lançam notícias como a de hoje do Espesso.
Apesar de todos os desmentidos, mantêm a notícia e noticiam-na de hora a hora no canal de notícias do grupo, verbalizando-a como uma história e não como uma alegada história.
O director do jornal, acha que tem toda a razão e não retira uma vírgula. O, presumido, investigado é entrevistado em horário nobre, como se o caso fosse a prioridade do País. Eu, livre, mudo de canal.
Estes jornalistas, que advogam para si mesmos a inocência, quando em causa, até provado o contrário em Tribunal, investigam e noticiam com a certeza dos carrascos quando executam sentenças.
Não gosto do estilo bate no grupo ao lado, antes que batam em ti.
Desarrumado e saudoso
Sabem, aqueles sapatos que não queremos deitar fora?
Aquele momento que queremos prolongar, que por nada desejámos que acabe?
Aquele dia perfeito de praia, que nos faz prolongar até ao limite o recolher da toalha, o sacudir a areia dos pés e voltar para casa?
Aquele dia de final de férias, que curiosamente se torna perfeito, em que tudo corre tão bem, que a ultima coisa que desejámos é fazer-mo-nos à estrada e voltar?
Aquele beijo, aquele momento, aquele abraço, aquela palavra, aquela frase que nunca mais saía e que quando a dizemos não queremos que não a ouçam?
Sabem quando olhamos para ali, para o que queremos e conseguimos, e de repente termina? Sabem?
Esta música faz-me lembrar esses momentos, leva-me para aquele tempo em que não havia tempo, em que o limite era o inimaginável, em que o Mundo não me conseguia parar, em que tudo era perfeito quando visto daqui, deste tempo. No fundo não seria, mas a juventude deixa-nos esta memória de imortais e grandiosos dias e feitos.
Eram os tempos em que os dias pareciam semanas, as semanas meses e os meses anos.
Agora os anos parecem meses. A vida passa-nos ao lado, leva-nos tudo, somos marionetas do stress e da rotina. Não devíamos. Eu, sinceramente tento não ser, e sofro as amarguras daí resultantes, mas não trocaria esta forma de viver por outra.
Sinto o sal da vida todos os dias. É assim que deve ser!
segunda-feira, julho 11, 2011
(O)Pinar
Anda tudo numa de opinar. Toda a gente tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Até eu opino.
Uma agência de rating, coisa que nada nos dizia até há algum tempo atrás, analisou a situação… blá, blá, blá, blá, blá…
Pois.
E agora somos lixo. Basicamente foi isso que passou para o grande publico.
O Angélico levava cinto, mas cortaram-no para o tirar do carro. A julgar pela opinião do bombeiro. A GNR diz que… blá, blá, blá, blá, blá, blá…
Pois.
O homem morreu. Temos pena. Era giríssimo e namorava com uma tipa de olhos trocados, mas que desfila sorridente uma semana depois. Os outros? Esses não interessam, não são “Morangos”.
O Tony Carreira não se queixa da crise, tem o apoio do Continente, que assume os riscos dos concertos, que são zero. As sopeiras vão todas aos concertos patrocinados pela marca do Shôr Engenheiro Belmiro, depois vão lá à loja comprar cachecóis para levar aos concertos, com o respectivo desconto em cartão. Que é para acumular e continuar a gastar. Entretanto sai um talão para o Tone ir à Galp abastecer, preferencialmente ao Domingo, e vai daí sai na bomba de gasolina outro talão para descontar no hipermercado.
Crise? Qual crise? Vai tudo em família aí pela estrada fora, uns aos concertos ou piqueniques e outros beber umas minis enquanto a mulher solta a libido no meio da multidão e sonha com o dia em que sai o novo CD do homem do capachinho.
Agora até na compra de seguros, telecomunicações e manjericos, há descontos para acumular em cartão. Consta que até a Rozete, dona do bordel cá da terra, vai fazer uma parceria com o Shôr Engenheiro, a ver se as massagens dadas pela Delmia, que veio de Minas Gerais, contem para acumulado de compras.
O Goucha há-de ser o escolhido para a campanha publicitária.
Crise económica? Só se a malta não puder (o)pinar.
Eu opino.
O Zé povinho? Esse “pina” a paciência de quem não a tem, enquanto que, os que a têm, vão fazendo negócio à custa de suas cabeças que estão mais abaixo do nível com que a Moodys avaliou a nossa dívida pública.
Pinem então, que é o que nos resta.
terça-feira, julho 05, 2011
Ultra Trail da Serra da Freita 2011
Hoje, dia seguinte ao da prova, já recuperado da Frecha da Mizarela, ainda me doíam todos os músculos responsáveis por nos prestar suporte para subir um obstáculo. Não que tenha sido uma prova daquelas para que tenha treinado afincadamente, das que nos obrigam a longas semanas de planos com séries, rolamentos e técnicas de corrida, nada disso. Na Freita nada suplanta o querer.
8h da manhã, nevoeiro serrado, frio (o termómetro do carro indicava 12º) e eu a chegar ao ponto de onde já tinham partido os participantes da prova rainha, os 70 km que dão nome à dita, 4 horas antes. Saio do carro e rapidamente regresso. Chiça, faz frio! Em baixo, no meio do parque de campismo que serve de base à corrida, alguém se move com um saco-cama enrolado às costas, e eu ali, de t-shirt e calções, arrependido de não ter levado uma camisola térmica. Enfim, 2 horas de espera depois, junto-me ao João Meixedo, ao Vítor Dias e ao Vasco Batista, englobados no grosso do pelotão, juntos com os demais Porto Runners presentes, depois da foto da praxe, e do tiro de partida, arrancámos para a dita.
A minha mania de me juntar a gente rápida, leva-me rapidamente a ponderar e regressar ao ritmo normal de quem nunca tinha andado em nenhum trilho sem ter às costas uma mochila bem pesada, umas botas calçadas e uma G3 ao ombro. Como flechas disparadas rumo aos mais de 1000 metros de altitude da Freita, vejo ao longe os que comigo partiram, e, como se não fosse a subir, o grupo do nosso Presidente passa também com excelente ritmo.
“Há-de haver por aí uma descida para os apanhar e acompanhar”, pensei. De nariz no ar num qualquer ponto mais alto, a tentar decifrar quem seriam os corredores que estavam a atravessar uma pequena ponte(?) e pumba! Resvalei com o pé numa pedra solta. Resultado: Grande tombo. Por sorte foi num trilho que tinha mais terra e lama do que pedras, e, “apenas” rasguei as meias que me protegiam as pernocas, com uns consequentes arranhões nas mãos e pernas. Lama já tinha com fartura com apenas 3 kms de prova e a lição mais importante a retirar desta façanha: Um trail faz-se a olhar para o chão, nunca a olhar para outros pontos onde não se vão colocar os pés.
A correr, que ainda se podia, rumo ao 1º ponto de abastecimento, no 5º km. Paro para beber e aparece a Joana Leite com um lanço, que só deu para arrancar e tentar acompanhar aquele ritmo louco com que ela e a amiga Teresa saltavam de pedra em pedra em cada descida, por mais inclinada que fosse. Em estilo cabra montês, lá fomos até ao 2º abastecimento, ao km 11.
Até aqui nada de assustador. Conseguimos correr a pouco mais de 7’ de média por km, o que, a julgar pelo que me tinham já falado da Freita, me parecia um feito digno de registo. Ainda mais impressionante seria o ritmo dos da frente, já não via ninguém no horizonte. De repente, quase parado no meio de um trilho, o Vasco, com quebra de forças provocada por uma indisposição gástrica. Tento ficar por ali, não me parecia um local muito aconselhável para deixar alguém naquele estado, muito menos um amigo. Fico. O Vasco não queria que parasse, quase que me batia, enquanto praguejava com o tempo médio por km. “Nunca tinha corrido tão devagar”, dizia. Mandou-me embora, mas fui ficando. Começamos a descida para o Rio Caima, que vindo da frecha, proporciona uma imagem deslumbrante. Descíamos enquanto uns caminheiros ocasionais subiam. Fantástica imagem, linda paisagem, fabuloso País que temos. Embevecido por tudo aquilo, preocupado em não cair, “empurrado” por mais uns quantos concorrentes que nos tinham apanhado, adiantei-me ao Vasco. Ao chegar ao rio, 300 m de altitude menos em relação ao início da descida, vejo-o em cima, junto com outros corredores. Como não vinha só, segui trilho fora. De repente vejo-me a trepar literalmente de gatas, uma parede. À minha esquerda a famosa corrente cravada na rocha, que se ali não estivesse o equilíbrio seria quase impossível. Um grupo de três atletas, habituados àquelas andanças, seguiam-me trilho acima, animados e a animar-me. As pernas não me doíam, mas já não via muito bem… “Ainda aí vem pior”, diziam-me. Cada vez que achava que estava a acabar aquela tortura, erguia-se mais uma parede na nossa frente. Foram 2 km em pouco mais de 40 minutos. Agora percebo quando o Mark Macedo diz que não percebe como é possível fazer subidas daquelas rápido. Há quem faça. E por incrível que pareça, os concorrentes da Ultra, fazem aquela subida depois de 65 km de prova, e alguns não a acham a mais dura, mas já houve alguns que ali chegaram e desistiram.
Ao chegar ao fim do trilho, a Lina, esposa do Vasco e nossa fotógrafa de serviço (excelente sempre), junto com o filho Diogo, anima-me e vislumbra com a objectiva da máquina fotográfica, ao longe com um grupo, o marido. Descansado, sigo até ao final, com o trio que me acompanhou naquela terrível subida, cruzando com eles a meta.
Depois de terminar, depois do banho de água fria, do almoço e da roupa seca e lavada, já confortavelmente a almoçar, eis que o speeker da prova anuncia a chegada dos primeiros classificados da ultra. Com 8h e 45 minutos de prova, de mãos dadas, cruzam a meta. Inédito, contudo demonstra o altruísmo de ambos, ao atribuírem a proeza ao companheirismo que, provavelmente, tiveram durante a corrida. O terceiro chegaria mais de 30 minutos depois, os restantes foram chegando, soltando descargas de adrenalina ao passar a meta e ao se abraçarem aos amigos ou família que os esperavam. Ou a descomprimir de tal forma que nem uma palavra conseguiam dizer. É um feito notável, a ver pelos 17 de amostra que tive, fazer 70 km serra acima e abaixo.
Parabéns a todos os que, num Domingo de Julho, às 4 da madrugada saíram do quentinho para desafiar o frio e a serra com todas as armadilhas que ela nos proporciona. Não posso deixar de destacar os atletas da minha equipa, Porto Runners, que participaram na Ultra. Imagino o que todos sofreram, mas sei que, em equipa, como sempre, tudo suplantaram.
Nós os que por lá andámos uma ou duas horas, ficámos com uma ideia do que eles passaram.
Até ao próximo desafio!